quinta-feira, 11 de novembro de 2010

São Martinho de Tours

Ao meditar sobre este santo que hoje celebramos veio-me à memória a pintura de El Greco. Era a ilustração para o texto que planeava escrever. Contudo, ao revê-la, depois de tanto tempo, a imagem fixou-se me no pensamento, uma vez mais prendeu-me pela sua beleza e pela sua simplicidade. A pintura ilustra aquele que é conhecido como o primeiro gesto de caridade de Martinho quando ainda era soldado, a sua compaixão para com um pobre pedinte cheio de frio.
Neste sentido El Greco pintou o jovem militar em toda a sua magnificência e riqueza, montado num soberbo cavalo branco e trajando uma armadura ricamente adornada com dourados. Mais parece um retrato equestre de um príncipe da corte que a pintura de um santo, ou de um gesto de caridade, de uma obra de misericórdia.
El Greco pintou Martinho como um jovem, quase um adolescente, de pele clara, cabelo ruivo, denunciando a sua origem meio eslava. Impressiona a sua juventude, bem como o seu olhar compassivo para com o jovem, também jovem, pedinte que se encontra a seu lado.
Ao contrário de Martinho o jovem encontra-se nu, despojado de qualquer adorno; a ligadura na perna direita assinala apenas de forma mais flagrante a sua debilidade, uma debilidade que Martinho se apronta a suprir cobrindo-o com a sua capa de soldado. Entre os dois, criando uma ponte sobre o abismo que os separa, a espada de Martinho pronta a cortar a magnifica capa ao meio. Um instrumento de morte transforma-se num instrumento de paz e solidariedade.
E ao contemplar esta cena e toda a beleza que irradia não posso deixar de pensar nas palavras de Jesus no Evangelho de São Lucas quando diz que o Reino de Deus já está no meio de nós. Como é possível que não esteja quando contemplamos tanta beleza, quando vemos espelhada na criatividade e genialidade de um artista o amor que criou o mundo e de uma forma tão maravilhosa, ainda que dolorosa, o redimiu.
O Reino de Deus só pode estar entre nós e a nossa caridade, o nosso amor, e misericórdia não são mais que simples vias de o fazer mais visível, mais palpável, concreto.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Permita-me que comece por felicitá-lo pelo tema que escolheu para escrever, para Meditar. A maioria de nós festeja este dia por outros motivos ainda que em fraterno convívio. Permita-me que saliente a beleza literária do texto que escreveu e ilustrou, atirando-nos a atenção para pormenores muito interessantes sem medo das palavras para nos conduzir ao verdadeiro objectivo do texto: o exemplo do gesto de São Martinho de Tours.
    E o gesto fraterno, de amor, de misericórdia de São Martinho de Tours recorda-lhe (nos) ... “ as palavras de Jesus no Evangelho de São Lucas quando diz que o Reino de Deus já está no meio de nós.”

    Que o gesto de verdadeira partilha de São Martinho de Tours, de amor fraterno ao próximo, nos sirva de inspiração, de reflexão, de exemplo, para que estejamos disponíveis para assumir um compromisso de partilha, por forma a participarmos de múltiplas formas na construção de um mundo mais igual, mais fraterno, mais solidário e justo, tornando o ... “Reino de Deus mais visível, mais palpável, concreto”.

    Obrigada pela partilha. Bem haja.

    Um abraço fraterno

    Maria José Silva

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