quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Mártires Dominicanos do Vietname

A Ordem dos Pregadores celebra hoje a memória dos mártires do Vietname, a memória daqueles frades e irmãos leigos que, na sua maioria durante o século XIX, deram a vida por Jesus Cristo naquelas terras do Oriente. São cinquenta e nove mártires entre bispos, sacerdotes, leigos catequistas, membros da fraternidade sacerdotal de São Domingos.
Recordo de modo especial o Mártir frei Jerónimo Hermosilla, e faço-o porque no mês de Maio passado, quando fazia o Caminho de Santiago, e depois de ter celebrado a Eucaristia na Catedral de Santo Domingo de la Calzada, um sacerdote presente também na celebração me conduziu até junto do altar que lhe está dedicado numa das capelas da catedral.
Não sabia e jamais podia imaginar que ali estivesse um altar dedicado a um dos mártires dominicanos do Vietname. Contudo, sabendo hoje que frei Jerónimo Hermosilla era filho daquela cidade, é por mais natural que lhe tenham dedicado um altar numa das capelas da catedral.
Frei Jerónimo nasceu em Santo Domingo de la Calzada em 1800, a 30 de Setembro. Com vinte e três anos professou no Real Convento de São Domingos de Valença, depois de já ter iniciado os seus estudos teológicos no seminário daquela diocese.
Imediatamente após a ordenação de sub diácono oferece-se voluntário para as missões, sendo por isso enviado para Manila, na altura a grande plataforma missionária da Província do Rosário no Oriente, para aí completar os seus estudos e aprender as línguas necessárias à missão.
Em 1829 chega ao Vietname e inicia uma difícil tarefa de evangelização, pois para além das dificuldades de ambientação e cultura tem que enfrentar as ameaças e perseguições de que os missionários cristãos são objecto. Em 1839, passados dez anos sobre a sua chegada, dois bispos missionários dominicanos são martirizados, D. frei Domingo Henares e D. frei Clemente Ignácio Delgado. É um rude golpe na organização de dinâmica da Igreja.
Para que as comunidades não ficassem sem pastor frei Jerónimo Hermosilla é nomeado bispo, embora só em 1841 e depois de uma longa e penosa viagem possa ser consagrado como tal. A sua principal missão é reorganizar o Vicariato Apostólico enfraquecido e dizimado pelas perseguições constantes. Enquanto bispo foi um grande animador das comunidades imitando nas condições possíveis o grande amor de São Paulo pelas suas comunidades. Assim viveu e lutou durante vinte anos.
Em 1861 é detido pelas autoridades e exposto a duríssimos dias de prisão, ou melhor de enjaulamento, pois no diminuto local onde o colocaram não se podia mover, apenas estar de joelhos ou sentado. A 1 de Novembro desse mesmo ano é degolado juntamente com frei Valentim Bérrio Ochoa e frei Pedro Almató. Dias mais tarde o seu fiel catequista e ajudante José Khang, que o tinha tentado defender aquando da captura, é também executado.
Tinham passado ainda poucos anos, nem meio século, sobre o sucedido martírio quando o Papa Pio X beatifica em 1906 frei Jerónimo Hermosilla. A 19 de Junho de 1988 é canonizado pelo Papa João Paulo II juntamente com os outros 117 mártires vietnamitas.
Para os dominicanos do Convento de São Domingos de Lisboa a celebração da memória destes mártires do Vietname adquire um significado ainda mais festivo na medida em que na dedicação da igreja conventual foram colocadas relíquias sob o altar dos mártires frei Pedro Almató e frei Melchior Garcia Sampedro.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Obrigada por partilhar connosco este texto profundo em que nos lembra vários acontecimentos e/ou factos. Começa por partilhar que a ordem dos Pregadores celebra hoje a memória ...”daqueles frades e irmãos leigos que, na sua maioria durante o século XIX, deram a vida por Jesus Cristo naquelas terras do Oriente. São cinquenta e nove mártires entre bispos, sacerdotes, leigos catequistas, membros da fraternidade sacerdotal de São Domingos”. São acontecimentos dolorosos do passado e do presente noutra escala. O que escreveu leva-me a reflectir na perseguição e morte de Jesus, na condição humana, no comportamento humano e nos seus aspectos mais negativos que se manifestam em situação de conflito de vária ordem, na vida sacrificial de todos os pregadores do Evangelho, em particular, mas também de leigos.
    Porém, há duas passagens que me levam a acreditar nos aspectos positivos do ser humano, manifestado através de diversos testemunhos, da memória dos que foram exemplares, mártires em muitas circunstâncias. A existência destas memórias dá também sentido à nossa existência e leva-nos a transmitir de geração em geração as mesmas, como hoje o Frei José Carlos o faz.
    Ao recordar de modo especial o Mártir Frei Jerónimo Hermosilla e a capela que lhe está dedicada na Catedral de Santo Domingo de la Calzada revivemos o Caminho de Santiago que o Frei José Carlos fez no ano que termina e que tivemos a felicidade de partilhar espiritualmente.
    E ao falar-nos da crueldade da prisão e morte de Frei Jerónimo Hermosilla juntamente com os frades frei Valentim Bérrio Ochoa e frei Pedro Almató, transmite-nos porque motivo a celebração da “memória destes mártires do Vietname adquire um significado ainda mais festivo” para os dominicanos do Convento de São Domingos de Lisboa. Este ano, aquando da celebração do quinto ano de dedicação da igreja conventual, o Prior Conventual partilhou com os presentes e convidou-nos a observar as relíquias colocadas “sob o altar dos mártires frei Pedro Almató e frei Melchior Garcia Sampedro.”
    Esta partilha Frei José Carlos que apreciei muito ler e escrever algumas linhas sobre a mesma, está para além da espiritualidade, faz-me também reflectir na beleza de certos encontros, acontecimentos cuja existência tentamos explicar, sem conseguir.
    Bem haja Frei José Carlos.
    Um abraço fraterno
    Maria José Silva

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