Podemos ler o discurso escatológico em que se inserem estas palavras de Jesus numa dimensão histórica ou meta histórica. Podemos ver nele a repercussão da queda de Jerusalém às mãos dos exércitos romanos no ano 70, mas também a revelação dos sinais que conduzirão ao fim dos tempos e da história.
Há no entanto uma outra leitura possível, uma leitura alegórica, mas que ainda assim vai ao encontro desta recomendação de Jesus de nos erguermos e levantarmos a cabeça. É uma leitura pessoal, uma leitura espiritual, que decorre da nossa vida enquanto processo de fidelidade ou fidelização ao convite de Jesus de o seguirmos com a nossa cruz.
Assim, podemos ver nas várias situações de catástrofe, de violência, de morte, a situação em que nos encontramos neste mundo, uma situação de luta e combate contra o mal, contra as várias forças que nos impedem ou tentam impedir de ser mais livres, mais coerentes com a nossa condição de filhos de Deus e discípulos de Jesus Cristo.
Perante estas realidades, estas situações, que nos podem desanimar, que nos podem fazer vacilar na confiança e na esperança de que Deus está ao nosso lado e nos protege, a proposta de Jesus não é só a perseverança fiel, mas uma perseverança activa, confiante. Não podemos estar de braços cruzados, perseverantes incontestavelmente, mas quase que masoquisticamente sofrendo porque nos foi recomendado que perseverássemos.
A proposta de Jesus é que perante as dificuldades, perante as forças destrutivas que nos podem querer abalar e abater, ergamos a cabeça, perseveremos erguidos sobre as nossas próprias fragilidades e tentações, esperançados de que não só a nossa libertação está próxima mas ela vem já ao nosso encontro na mesma medida em que nos erguemos e olhamos de frente as realidades. É uma questão de fé e de confiança na sua operacionalidade, na sua força de vida e vivificante.
E ao erguer-nos e levantarmos a cabeça deparamos com Aquele que está preso na cruz, com Aquele que no momento de total aniquilação ergueu a cabeça e entregou o seu espírito ao Pai porque só essa entrega o podia libertar daquela situação de violência e dar sentido a toda a perseverança vivida.
Ergamo-nos portanto e levantemos a cabeça para olhar Aquele que à nossa frente nos mostra o caminho da perseverança e do combate convicto da vitória.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarObrigada pelo texto que hoje partilha connosco como Meditação. Importante, ilustrado com tanta beleza, a lembrar-nos a chegada do inverno, paisagem humanizada pela “presença humana de cabeça levantada”. Exorta-nos, conforta-nos, dá-nos alento, confiança, para continuarmos a “Caminhada” neste mundo. Permita-me que o cite em algumas das passagens que mais me tocaram ...” A proposta de Jesus é que perante as dificuldades, perante as forças destrutivas que nos podem querer abalar e abater, ergamos a cabeça, perseveremos erguidos sobre as nossas próprias fragilidades e tentações, esperançados de que não só a nossa libertação está próxima mas ela vem já ao nosso encontro na mesma medida em que nos erguemos e olhamos de frente as realidades. É uma questão de fé e de confiança na sua operacionalidade, na sua força de vida e vivificante.”…
…”Ergamo-nos portanto e levantemos a cabeça para olhar Aquele que à nossa frente nos mostra o caminho da perseverança e do combate convicto da vitória.”
Que Jesus nos ajude a reforçar a fé, na oração, no combate diário pela justiça, na adversidade, no darmos graças pelos dons recebidos, na amizade partilhada, pela beleza que nos rodeia, e que nos encoraje a levantar-nos e “a caminhar de cabeça erguida para olhar Aquele que nos mostra o caminho da Verdade”.
Bem haja Frei José Carlos pela coragem que nos transmite tão necessária hoje e sempre.
Um abraço fraterno
Maria José Silva
Boa noite Frei José Carlos,
ResponderEliminarContinuo a deliciar-me com a sua palavra, quer quando nos apresenta os dominicanos do século XVIII e a sua vocação para o mundo de além-mar, quer quando esse mundo premeia com a palma do martírio os que a Ele se entregam, quer quando nos exorta a olhar Aquele que do alto da Sua cruz nos convida a segui-Lo no caminho da vitória do Bem sobre o Mal.Caminhos convergentes num só:amá-Lo como Ele nos ama na entrega ao irmão que nos espera,rosto palpável de Deus.
Tenha uma santa noite,
GVA