segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Senhor, eu não sou digno (Mt 8,8)

No pórtico de entrada do Advento o encontro de Jesus com o centurião, um encontro de duas vontades, o encontro de duas dignidades, um encontro de palavra.
O centurião vem suplicar a Jesus pelo seu servo paralítico que jaz em casa sofrendo horrivelmente. Tem vontade que o seu servo seja curado, manifesta uma predilecção, uma compaixão que comunica a Jesus, confiado numa compaixão maior. Jesus por seu lado, e perante tal manifestação de abertura ao outro e ao seu poder salvador, dispõe-se a ir a casa do centurião curar o paralítico. Jesus tem vontade de ir, e de ir curar aquele que jaz enfermo.
Mas entre as duas vontades e as necessidades expressas um abismo de dignidade, um reconhecimento por parte do centurião “Senhor eu não sou digno”, Senhor eu não estou à altura, Senhor eu não sou, não sou como tu és.
Maravilha de fé e de consciência, de reconhecimento já não da sua pequenez, ainda que senhor de homens que lhe obedecem, mas da sua inexistência, da sua incapacidade de ser face àquele que é em toda a sua expressão de ser.
Senhor eu não sou, mas diz uma palavra e serei, poderei alcançar o ser que és, o meu servo que sou eu na minha inexistência poderá ser curado, e então eu poderei ser digno de te receber. Tu palavra criadora, palavra redentora, que dás vida e a perpétuas. Uma só palavra basta Senhor.
Encontro paradoxal este entre Jesus e o centurião, e imagem de um outro encontro, desse encontro da Palavra com a humanidade. Não somos dignos Senhor de que venhas até nós, que venhas até à nossa casa humana, a este corpo tão perecível e inconstante. Mas vens Senhor, viestes e vens em cada instante e queres continuamente vir, é tua vontade vir até nós. Que saibamos reconhecer a nossa ausência de ser, de incapacidade para te receber, para que a tua palavra nos transfigure e um dia possamos sentar-nos como o centurião com Abraão, Isaac e Jacob à mesa do teu Reino.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Como nos lembra ...” Não somos dignos Senhor de que venhas até nós, que venhas até à nossa casa humana, a este corpo tão perecível e inconstante. Mas vens Senhor, viestes e vens em cada instante e queres continuamente vir, é tua vontade vir até nós.” …”Uma só palavra basta Senhor”. …
    Que Jesus nos ilumine em permanência, que os nossos corações estejam disponíveis para receber o Senhor, e que o nosso quotidiano seja revelador de um “caminhar à luz do Senhor” como oportunamente nos exortou.
    Obrigada pela partilha. Bem haja.
    Um abraço fraterno
    Maria José Silva

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