Santo Alberto Magno nasceu em Lauingen, na diocese de Augsburgo, em 1193, data que aparece na bula de canonização, embora outros autores defendam que nasceu em 1206. A família de Alberto pertencia à nobreza, o seu pai estava ao serviço militar do imperador Frederico II. Devido a esta função é de supor que a presença junto da família fosse escassa e que a primeira educação de Alberto tivesse sido dada pela mãe.
De Santo Alberto não encontramos nenhuma legenda, como a de Jordão de Saxónia sobre São Domingos, e por isso sabemos muito pouco sobre a sua infância. Ficamos a saber apenas pelo seu testamento que tinha mais um irmão, Henrique, frade também da Ordem e prior no convento de Wurzburg, e mais duas irmãs também monjas dominicanas, uma no mosteiro de Gotteszell na Suávia e outra no mosteiro de Santa Catarina de Augsburgo.
Alberto recebeu a educação cristã habitual da época e como tantas outras crianças é de supor que as primeiras letras tenham sido aprendidas junto de algum clérigo da cidade. Em alguns textos que escreveu faz memória das suas brincadeiras de criança e jovem e por aí podemos ver o crescimento saudável que teve e o interesse que cedo demonstrou pela natureza, pela sua descrição e análise.
Por razões de estado e das viagens a Bolonha do imperador Frederico II, o pai de Santo Alberto conhecia a cidade, a universidade que ali existia e tinha até um familiar clérigo na cidade. Por estes motivos, pelo prestigio da universidade, e sobretudo porque tendo um familiar Alberto estaria mais protegido e vigiado, não é de estranhar que tenha enviado o filho para Bolonha aos 18 anos para prosseguir os estudos universitários.
Em Bolonha, Alberto tomou contacto com a filosofia de Aristóteles através das traduções e comentários árabes e judaicos. Deste contacto nasceu o propósito de adequar a filosofia aristotélica ao dogma cristão, tarefa que vai estar presente em toda a sua vida. Em 1223 e devido a divisões na universidade de Bolonha, viajou para Pádua acompanhando o tio que se tinha mudado por razões de ofício. Durante este período Alberto continuou a registar as suas observações da natureza comparando-a com a natureza da sua terra natal, bem como todos os fenómenos extraordinários que aconteciam, como um sismo.
Pelas informações que possuímos, podemos dizer que Alberto estava já em Bolonha quando foi fundado o primeiro convento dominicano da cidade e é provável que tenha conhecido São Domingos. Em 1222, um ano após a morte de Domingos, Jordão de Saxónia, um germânico como ele, estava à frente da Ordem e pela sua pregação atraía à Ordem um grande número de jovens estudantes de Bolonha, Paris e Pádua.
Nesse mesmo ano Alberto caiu gravemente doente e para recuperar a sua saúde fez ao seu confessor o voto de entrar na Ordem dos Pregadores. Recuperado, manifestou ao tio o seu desejo mas este opôs-se e procurou dissuadi-lo de tal intento; Alberto escudou-se com o voto solene que tinha feito e do qual só o papa o podia libertar. Devido à sua posição o tio conseguiu de Honório III a dispensa do voto de Alberto e obrigou o jovem a prometer não se aproximar do convento dos dominicanos. A mudança para a cidade de Pádua parecia facilitar a luta contra a vontade do jovem, mas ali Alberto voltou a encontrar-se com Jordão de Saxónia e decidiu definitivamente o ingresso na Ordem.
Alberto entrou para o convento em 1223 e Gerardo de Franchet narra na sua Vida dos Irmãos as peripécias que ocorreram aquando da entrada de Alberto para a Ordem, embora sem mencionar o nome, pois à data da redacção da história Alberto estava ainda vivo. Alberto ingressou na Ordem em Julho de 1223 na cidade de Pádua, num convento pequeno fundado em 1217 e que mal dava para os trinta noviços que Jordão de Saxónia tinha conseguido com a sua pregação.
Jordão, após a profissão definitiva de Alberto, que se fazia imediatamente após o ingresso, e de um ano de estudos em Bolonha, enviou-o para Colónia para realizar os estudos necessários para a ordenação de sacerdote. Aí Alberto esteve um ano, entre 1224 e 1225, seguindo depois para Paris, onde esteve entre 1225 e 1228, sendo aí e nesse ano ordenado presbítero.
O convento de Colónia tinha sido fundado em 1221 e o seu primeiro prior foi frei Henrique de Margburgo que entrou na Ordem ao mesmo tempo que Jordão. Frei Henrique morreu em 1225, ano em que Alberto estava em Colónia. O convento de Saint Jacques de Paris foi fundado em 1217 pelo grupo de sete frades enviados de Toulouse por São Domingos. Em 1223 o convento tinha já mais de 120 frades que viviam o ideal do estudo e da pregação. Desta forma Alberto realizou a sua formação nas casas mais importantes e junto dos melhores mestres e comunidades.
Após a ordenação Alberto iniciou a sua carreira de mestre, começando por ser leitor em vários conventos como Colónia, Friburgo, Ratisbona e Estrasburgo. Alberto foi um professor itinerante e isto permitiu-lhe conhecer os frades e os conventos da província da Germânia. Em 1240, após doze anos de leitor conventual, foi enviado à universidade de Paris para ser investido do grau de mestre de teologia, mas como não tinha um dos requisitos exigidos, ter ensinado nove anos numa universidade, foi obrigado a ensinar ali durante cinco anos, recebendo só depois disso o grau de mestre.
Em Paris esteve ainda mais três anos a ensinar, e a sua fama era tal que as aulas tinham de ser dadas numa praça, pois os alunos não cabiam nas salas da universidade. Durante este período escreveu alguns comentários à Sagrada Escritura, a outros clássicos e obras de teologia e confirmou o intuito de utilizar a filosofia aristotélica para explicar o dogma cristão.
Este período formou o seu prestígio como professor, como homem de Igreja e como um bom diplomata nas relações internas da Igreja, defendendo os direitos dos mendicantes contra os mestres seculares que se opunham à presença dos religiosos no meio académico. Durante este período conheceu Tomás de Aquino como aluno.
Em 1248, com a fundação do Estudo Geral de Colónia, para o qual foi nomeado responsável pela organização dos estudos, Alberto deslocou-se novamente para aquela cidade, exercendo aí o seu ministério de mestre de teologia até que foi nomeado Provincial e depois Bispo de Ratisbona, cargos que o afastaram da docência. Com ele levou Tomás de Aquino em quem tinha colocado muitas esperanças e confiança.
Santo Alberto foi Provincial por três anos, entre 1254 e 1257, renunciando ao cargo um ano antes do final do seu mandato. Em 1260 foi nomeado pelo Papa Alexandre IV bispo de Ratisbona, mas passados dois anos renunciou também. Não satisfeito com a recusa, o Papa chamou-o a pregar a cruzada pela Alemanha e depois para o serviço da cúria romana. Alberto afastou-se assim durante este período do mundo académico, mas logo que terminaram estas funções regressou às aulas de que tanto gostava.
Santo Alberto esteve sempre ligado ao estudo na Ordem e graças a ele, a Tomás de Aquino e a Pierre de Tarentaise, mais tarde Inocêncio V, os estudos da Ordem receberam um cariz muito particular, o toque dominicano, pois foram os responsáveis pela elaboração do programa de estudos para toda a Ordem que o Capítulo Geral de Valenciennes de 1259 tinha solicitado.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarO texto que hoje partilha connosco no dia em que a Igreja celebra a memória de São Alberto Magno proporciona-nos informação diversificada e interessante sobre a vida pessoal, familiar, académica e religiosa deste Santo Dominicano, conhecido como o Doutor da Igreja, o Doutor Universal.
É de salientar como o Frei José Carlos nos diz, a curiosidade que cedo manifestou “pela natureza, pela sua descrição e análise”, …”o propósito de adequar a filosofia aristotélica ao dogma cristão, tarefa que vai estar presente em toda a sua vida” e que veio a concretizar, a luta no seio da Família para cumprir o voto que havia feito para entrar na Ordem dos Pregadores e a sua ligação ao estudo na Ordem.
Importa salientar igualmente a defesa que empreendeu “dos direitos dos mendicantes contra os mestres seculares que se opunham à presença dos religiosos no meio académico”. Todo o saber não o impediu de ser um Dominicano exemplar.
Na vida de todos nós há lugar para a sabedoria, para a ciência, para a cultura e para o seguimento do Evangelho, indepentemente da escolha de vida que decidimos fazer.
Obrigada Frei José Carlos por esta interessante partilha.Bem haja.
Um abraço fraterno
Maria José Silva
P.S. Vou fazer uma partilha deste género pela 1ª. vez. No final da Missa do 1 de Janeiro de 2010 quando foi feita a distribuição do Santo Protector, por acaso, o Santo que foi me foi entregue foi Santo Alberto Magno (e como a estatistica é aleatória!). Acompanha-me diariamente como companheiro, como amigo, como protector, a quem peço que interceda sempre por mim. Podia ter sido o mais humilde dos Santos Dominicanos que tinha o mesmo valor para mim, mas em 2010 foi Santo Alberto Magno. Também, por isso, a partilha de hoje alegrou-me, fez-me sorrir, fiquei a saber mais deste Santo Dominicano.
Obrigado Maria José pela sua partilha. Amanhã colocarei a segunda parte da biografia de Santo Alberto, porque como era um pouco longa optei por dividi-la. Espero que uma vez mais a ajude e fique a conhecer um pouco mais do Santo que lhe saiu em sorte para protector deste ano de 2010.
ResponderEliminarQue ele continue a interceder por todos nós junto de Deus Pai. Um abrazo fraterno.
José Carlos