sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Notícia no Jornal do Comércio da Abertura do Noviciado Dominicano em 1949


Ao apresentar a notícia que apareceu em vários jornais sobre a abertura do Convento e Noviciado Dominicano na Quinta de São Pedro em Sintra, no dia 7 de Dezembro de 1949, deixámos para mais tarde a apresentação da notícia publicado no “Jornal do Comércio” do dia 13 de Dezembro desse mesmo ano.
Tal ficou a dever-se ao tamanho da notícia, como se pode verificar, pois comportava no original cinco longas colunas com letra minúscula, e à diferença existente relativamente à outra notícia publicada.
Mas se, apesar do tamanho, apresentamos a notícia é sobretudo porque ela comporta os textos da documentação que foi lida no acto da abertura do convento e noviciado e que foi necessário obter para tal efeito, e que até agora me era desconhecida.
São um testemunho das diligências, do trabalho que implicou, mas sobretudo, e como diz o Padre Gaudrault no discurso inaugural, são um testemunho do grande empenho e carinho do Mestre Geral da Ordem Manuel Suarez por esta Província e esta fundação.
Por outro lado, e para além desta dimensão histórico documental, podemos ver como o acontecimento serviu ao autor da crónica, Armando de Araújo, para divagar por diversos temas como a utilização de Alcobaça ou o Dinheiro de São Pedro, e como não utilizou as fontes mais exactas para a história de São Domingos e o princípio da Ordem.

                                                               DOMINICANOS
A restauração do noviciado da Ordem em Portugal
A antiquíssima e nobre Ordem dominicana, interceptada na sua missão, entre nós, há mais de um século, acaba de ser restaurada conforme noticiámos e a cuja restauração largamente a Imprensa se tem referido.
A nobilíssima Ordem Dominicana dera à História da Igreja e a Portugal grandes vultos, como sábios, pregadores, doutores e missionários. Dela se destacaram entre outros: Alberto o Grande; São Tomás de Aquino, os pintores Fra Angélico e Fra Bartolomeu, São Gonçalo de Amarante, D. Frei Bartolomeu dos Mártires, Frei Jerónimo de Azambuja, Frei Luís de Sousa, Frei Francisco Foreiro, São Gil de Santarém, Santa Joana de Aveiro, Frei Luís de Sotto-Maior e Frei Luís de granada, que foi Provincial em Portugal.
São Domingos que nasceu em 1170 em Calaroga, na Castela Velha, fundou em 1215 a Ordem dos Pregadores, com o propósito de combater as heresias pela pregação, fundando também depois a Ordem feminina.
Acompanhava São Domingos um português, Sueiro Gomes, que em 1217 veio fundar em Portugal, próximo de Alenquer, o mosteiro dominicano, o qual em 1225 foi transferido para Santarém, três anos depois da morte de São Domingos.
O primeiro dos conventos, fundado em Notre Dame de Proville, no arcebispado de Toulouse, era destinado a recolher donzelas católicas de origem nobre.
Suprimida a Ordem em França, em 1792, Lacordaire, Provincial dos dominicanos franceses, depois de tomar o hábito em Roma, restabeleceu-a em França em 1839.
A inauguração, agora, do seu amplo convento, sob a invocação de São Pedro Mártir, na Quinta de São Pedro, em São Pedro de Sintra, revestiu-se duma grande solenidade íntima.
O importante acontecimento, porem, assinalou em toda a sua imponência a grandeza e a generosidade da Ordem da Província do Canadá, donde vieram expressamente eminentes sábios teólogos e religiosos que, de alma e coração, se dedicaram ao fim religioso, católico, humanitário, a que se propuseram e que de Roma viram coroados, por completo os seus dedicados esforços.
Por que o facto em si representa um aspecto de fortaleza na Fé e de justa e leal compreensão, ao júbilo dos dominicanos portugueses, juntamos hoje algumas notas do que foi, na intimidade, essa solenidade da abertura do seu convento no lindo bosque do seu por tantos motivos bem escolhido local, propenso ao isolamento e à meditação.
Desde 1834 que em Portugal fora extinto o noviciado, que, ao fim de 115 anos, agora foi restabelecido com todos os direitos e prerrogativas inerentes.
Há opiniões inveteradas, ou melhor, suposições convergentes que nem o tempo nem a investigação científica conseguiram esclarecer por uma forma concreta, definitivamente, com iludível convicção em testemunho de prova. E a desorientação, a dentro do próprio meio, inconsciente ou propositada, avolumou em certos casos que pelos mesmos poderes da inconsciência ou do propósito se enraizou a agravou em organismos por vezes semelhantes, mas antagónicos. Daí o alimento para a cómoda irreflexão e a quase impossibilidade de destrinça para os casos cada vez mais longinquamente distanciados.
O progresso dos tempos os torna, esses casos, para o presente, mais susceptíveis de justa observação. E isso é o que, não tanto para o presente como para o futuro se tem de revestir de prudente e cuidado exame.
A acção das diferentes ordens religiosas tornou-se estudo consciencioso e apaixonante e quando desinteressado pode vir a revelar-se da mais nítida importância não para qualquer país em especial, mas e em conjunto para a Humanidade.
O cautério, apenas, não é remédio infalível para todos os casos, ou suspeitos males a investigar. Quando o peso das circunstâncias materiais fez abalar o peso moral tornou-se indispensável fazer marcha atrás, isto é, tentar restabelecer o necessário equilíbrio.
A forma e os meios de o conseguir cumprem aos altos ditames dos cérebros privilegiados.
Já em 1879 – faz agora precisamente 70 anos – Portugal reconhecia e sentia a necessidade do Poder Espiritual da Igreja e, conhecedor das enormes dificuldades com que lutava Sua Santidade o Papa, quis – espontaneamente – enviar-lhe o seu auxílio, instituindo numa organização, “Dinheiro de S. Pedro”, sob a majestade da sua suprema sanção. O Papa estava pobre! Não como homem, mas pobre e pobríssimo como Papa! E esse Papa, que era Leão XIII, assim não a aceitou por lhe parecer que dessa forma ele impunha aos fiéis essas ofertas.
Mas Leão XIII dirigia-se aos representantes da Imprensa Católica, recomendando-lhes insistentemente: “Fortes e unânimes, de viva voz e por escrito não cesseis de propugnar a necessidade da soberania temporal para o livre exercício do Nosso supremo poder; e com a história na mão demonstrai ser tão legítimo o direito em que foi constituída e mantida, que nas coisas humanas não poderá encontrar-se outra maior nem igual”.
Assim falava o santo Sumo Pontífice, ao empreender a grande obra de reconciliar a Igreja com a sociedade moderna desse passado já distante. A autoridade do Papa, conforme disse, então, Sua Eminência o Cardeal D. Américo, Bispo do Porto, é o que “Jesus Cristo quis que fosse o Sumo Pontificado ao fundar a Sua Igreja, e o que realmente tem sido o Papa na Igreja Católica. Alicerce dela, tem permanecido firme e inabalável através dos séculos. Embora veja em torno de Si destruírem-se impérios, acabarem dinastias, ou sumirem-se povos, a todas as ruínas sobrevive, assim como resiste a todos os embates das revoluções”.
Foi nesta altura, e é interessante recordá-lo, que o Cardeal D. Américo, na generosa e bem portuguesa cidade do Porto, instituiu a obra “Dinheiro de S. Pedro” e deu aos párocos da sua Diocese as necessárias instruções para a sua execução.
Mas a quem eram destinadas e distribuídas essas somas do “Dinheiro de S. Pedro”? Aos necessitados de todos os tempos e aos que o Papa, mais do que a ninguém era obrigado a socorrer e que, como ele, sofriam por amor da justiça, da lealdade e da religião. Eram os sacerdotes expulsos da pátria por fidelidade aos ditames da consciência e que ele acolhia e ia procurar aos presídios da Sibéria; os velhos empregados, antigos súbditos do Rei de Roma e até os Bispos que preferiam prescindir dos bens da legítima congrua a recebê-los com inaceitáveis condições e vexatórias.
A cerimónia da restauração
A singularidade do acontecimento e o seu alto alcance espiritual justificam um relato mais circunstanciado ou completo.
Franqueada irmãmente a portaria do convento, convergiram ali, numa alegria sadia e franca, numerosas representações, principiando pela da comunidade instalada na Quinta de São José do Ramalhão, acompanhada pela Madre Geral Rita Lecor, pelas madres superioras e madres conselheiras, irmãs e educandas. Seguiram-se as representações das diversas casas da Ordem: a do Porto, por Frei Estêvão da Fonseca; a de Aldeia Nova, por Frei Tomás Videira e Frei Francisco Rendeiro; a de Braga (Cervães) por Frei Gil Alferes; a do Colégio de Clenardo, pelo seu Director Frei João de Oliveira, licenciado por Roma; os professores Frei Pio Ribeiro Gomes, Coronel Morais de Faria, Tenente-Coronel Armando Reis, Dr. José Maria Marques, Dr. Bernardino Cardoso e Dr. Vítor dos Santos.
O Colégio de S. José, da Quinta do Ramalhão, que já tem 200 meninas internas, fez-se representar por 40 educandas; e o Colégio do Clenardo, com cerca de 300 alunos, igualmente por 40. Estiveram presentes, também, os Irmãos Conversos: Frei Agostinho, frei António, Frei Jacinto e Frei Manuel.
Entre os amigos da Ordem representava a Ordem Terceira Masculina o Sr. João do Couto Salgado Júnior, e os proprietários da quinta, a família Posser de Andrade.
Entrando-se na ampla capela sobressai, em tamanho natural, uma lindíssima e impressionante imagem de Nossa Senhora de Fátima, como presidindo àquele doce e austero ambiente de Crença, Devoção e Trabalho.
A solenidade principiou pela leitura dos documentos canónicos feita pelo Vigário Geral, em latim e francês, seguidamente traduzidas para português pelo Reverendo padre frei Bartolomeu Martins; prosseguindo pela leitura das Constituições, tomada do hábito ou vestidura pelos postulantes, ao som do “Veni Creator”, com acompanhamento a órgão, os quais receberam e trocaram, já como noviços, o abraço fraternal entre todos os membros da comunidade, ao som do “Te Deum”, após o que receberam o nome novo que lhes foi destinado e lhes fica pertencendo em religião.
Esses noviços são: Frei Rosário Francisco (no século Francisco Mendes da Fonseca), de Ourém, Frei Pedro António (no século António Augusto Vasco Leitão), de Bismula, Frei Raimundo Luís (no século Luís de Gonzaga Duarte de Oliveira), de Avança, Frei Gonçalo Manuel (no século Manuel António Vaz), de Aboadela, Frei Pio José (no século José da Rocha de Sousa), de Doze Ribeiras, Terceira, Açores, e Frei João Firmino (no século Firmino Pacheco de Sousa), da mesma localidade.
Por fim fez o discurso, adequado ao acto solene que acabava de realizar-se Frei Tomás videira, superior da Escola Apostólica Dominicana de Aldeia Nova, donde veio propositadamente para assistir às cerimónias e que terminaram pelo canto de “Completas” e a bênção do Santíssimo.
A Documentação
Porque, na verdade, se trata dum facto notável, aqui reproduzimos e arquivamos os documentos que, na sua aparente simplicidade, serviram para a efectivação da obra.
E arriscamo-nos a lembrar, nesta oportunidade, porque tendo sido a Ordem de Cister de tão grandes importância e influência para a gloriosa grandeza de Portugal, de que nos deixou a sumptuosidade do Mosteiro de Alcobaça, hoje nu e deserto da sua alma esplendorosa, não se pensará, ainda, em restitui-lo à sua missão cultural e educadora, completando-se lhes assim, espiritualmente, o aspecto e o volume das suas naves evocadoras e venerandas?
A Providência em seus desígnios, e o tempo na sua acção, nefasta ou purificadora, poderão vir a resolver o que na estagnação do momento o cepticismo na petulância dos homens julga sonho irrealizável no futuro.
Mas regressemos à documentação:
O primeiro documento a ser lido foi a carta do Reverendíssimo Mestre Geral ao muito Reverendo Padre Vigário Geral para Portugal, sobre a erecção do Convento de Sintra e do Noviciado no mesmo convento, e em que se mencionam os documentos anexos. Essa carta terminava assim:
“Na ocasião da reabertura do Noviciado nesta antiga Província, após uma longa supressão, sinto grande alegria ao verificar como o Nosso Santo Fundador nos abençoa e quer voltar triunfante com os seus filhos a Portugal. Permita ele que estes alicerces que agora lançais com a reabertura do Noviciado sejam alicerces sólidos, para construir sobre eles a verdadeira vida dominicana e a plena restauração duma tão gloriosa Província da Ordem.
E para o faustoso dia da inauguração da Casa do Noviciado e da primeira Vestição mando-lhe a si, caro Padre Vigário, e a todos os seus colaboradores, aos novos noviços e a todo o Vicariato de Portugal a mais afectuosa bênção do Nossa Santo Patriarca e, por especial faculdade, a bênção apostólica.
Fr. Emmanuel Suarez, OP, Mestre Geral.”
Seguiram-se a Suplica à Santa Sé:
Beatíssimo Padre. O Procurador Geral da Ordem dos Frades Pregadores, ajoelhando aos pés de Vossa Santidade, humildemente vem expor o seguinte:
Antes do fim do século passado existia em Portugal uma florescente Província da Ordem. Tendo-se iniciado mais tarde a restauração da mesma, o actual Mestre Geral mandou vir padres de outra Província para mais rápida e seguramente cuidarem da dita restauração. Deseja agora ali começar, neste mesmo ano, o Noviciado. O desejo é que a Casa do Noviciado seja construída em Fátima dentro de alguns anos. Mas, até lá, deseja-se erigi-la no lugar de Sintra, Quinta de São Pedro, da diocese de Lisboa. Junta-se licença do Eminentíssimo Ordinário que limita o espaço de tempo, conforme lhe foi exposto, pela citada razão.
Suplica-se, pois, a licença de erigir uma casa religiosa e um Noviciado no dito lugar de Sintra, Quinta de São Pedro.”
Rescrito autorizando essa erecção:
“Usando das faculdades, que lhe foram concedidas pelo Santíssimo Padre, a Sagrada Congregação que preside aos assuntos dos religiosos, atendendo ao que acaba de lhe ser exposto, benignamente encarrega o Reverendíssimo Padre Mestre Geral de conceder, segundo o seu entender e consciência, a graça pedida, segundo o teor da suplica. Nada obstando em contrário. Dado em Roma, no dia 15 de Novembro de 1949. Frei A.E. Pasetto, Secretário. C. Addivinola, Ad. A Studis. Posto em execução no mesmo dia. Frei Em. Suarez OP Mag. Gen.”
O Decreto para a execução do Convento:
“Nós, Frei Emmanuel Suarez, professor da Sagrada Teologia e humilde Mestre Geral e servo de toda a Ordem dos Frades Pregadores. É dever do nosso governo e da nossa especial solicitude fazer com que os nossos religiosos estendam mais ao largo as ramificações da nossa religião e fundem novos conventos para salvação das almas quando a isso sejam chamados.
Foi com muito prazer que tivemos conhecimentos de estar preparado um novo convento, sob a invocação de S. Pedro, Mártir da Nossa Ordem, na vila chamada Sintra, da dioceses de Lisboa, para o que já se obteve a autorização do Ordinário do lugar, dada por escrito, tendo o rescrito da Santa Sé sido concedido pela Sagrada Congregação dos Religiosos, no dia 15 de Novembro do ano corrente, com o número 9.591/49, de modo que temos a alegria de proceder à sua erecção.
Por isso, em virtude da autoridade do Nosso Oficio e por força do presente decreto, depois de termos ouvido no assunto o nosso Conselho Generalício, erigimos um convento da nossa Ordem, sob a invocação de S. Pedro Mártir, na vila de Sintra, diocese de Lisboa, e erecto o dizemos e declaramos, com todos os direitos e privilégios de que gozam na nossa Ordem os outros conventos, por direito comum e nosso, ou por costume aceite. Em nome do Pai do Filho e do Espírito Santo. Ámen.
Nada obstante em contrário. Para prova do que assinámos o presente decreto, munido do nosso selo. Dado em Roma, na nossa Cúria Generalícia em Santa Sabina, aos 23 de Novembro do ano do Senhor de 1949.
Fr. Emmanuel Suarez, OP, Mag. Gen.
Fr. Emmanuel Montoto, OP, Secretário.”
Carta de Nomeação do Primeiro Prior:
“Ao nosso amado em Cristo M.R.P. Doutor e Ex Mestre dos Irmãos Estudantes Luís M. Sylvain, filho da nossa Província de S. Domingos do Canadá, Nós Frei Emmanuel Suarez, Professor da Sagrada Teologia e humilde Mestre Geral e Servo de toda a Ordem dos Frades Pregadores, Saúde e Bênção.
Pertencendo à Nossa pessoa, segundo o nº 277 das Nossas Constituições, nomear o Primeiro Prior – dum novo Convento e, no caso presente, do novo Convento de S. Pedro Mártir, de Sintra, diocese de Lisboa, lançámos os olhos sobre Ti, P. Frei Luís M. Sylvain, de cuja doutrina, zelo, prudência e saber prático muito confiamos e resolvemos escolher-te para esse munus, após ter ouvido o conselho dos Padres mais graves e ter recebido o seu voto.
Pelo que em virtude da presente e pela Autoridade do Nosso Oficio, absolvendo-se de todo o vínculo de excomunhão ou de qualquer outro impedimento eclesiástico com que, por acaso, estivesses ligado, para conseguir os fins da presente, damos-te e pomos-te à frente e assim dado e posto à frente te decretamos e declaramos Prior, Cabeça e Pastor do supra mencionado Convento, dando-te sobre o mesmo e sobre os Padres, Irmãos e Pessoas de ambos os sexos, mesmo da nossa Ordem Terceira, por qualquer forma a ele ligados, todo o poder e autoridade no espiritual como no temporal que os outros Priores do mesmo Convento costumam ter por direito ou costume aprovado, ordenando-te em virtude do Espírito Santo, da santa obediência e sob preceito formal que, dentro de três horas depois da recepção desta, aceites o dito Oficio de Priorado e diligentemente o exerças segundo as forças que o Senhor te conceder. E a todos e cada um dos Padres, Irmãos e Pessoas de ambos os sexos, de qualquer maneira pertencentes ao mesmo Convento de S. Pedro Mártir, de Sintra, ordenamos sob o mesmo preceito formal que Te recebam, considerem e venerem como seu verdadeiro e legítimo Prior, Cabeça e Pastor do dito Convento. Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Ámen. Farás Profissão de Fé perante o M.R.P. Vigário Geral, Mestre, Ex Provincial Pio Gaudrault ou perante outro Padre por ele subdelegado. Nada obstante em contrário. Em testemunho do que assinamos a presente, munida com o selo do Nosso Oficio.
Dada em Roma, na Nossa Cúria Generalícia aos 22 de Novembro do Ano do Senhor de 1949. Fr. Emmanuel Suarez, OP, Mestre Geral da Ordem. Fr. Emmanuel Montoto, OP, Secretário.”
Decreto para a criação do Noviciado:
“Nós, frei Emmanuel Suarez, Professor da Sagrada Teologia e humilde Mestre Geral e Servo de toda a Ordem dos Frades Pregadores. Quando no decurso do século dezanove, uma cruel perseguição contra as Ordens religiosas se abateu em quase todo o mundo, as Províncias da nossa Ordem sofreram tanto que não poucas delas foram suprimidas, entre as quais a amada e gloriosa Província de Portugal.
Desde há muitos anos que os nossos Padres, por diversas maneiras se têm empenhado na obra da sua restauração mas, por coisas várias, especialmente por uma nova e cruel perseguição declarada em Portugal em 1910 a obra tem decorrido demasiado lentamente.
Mas eis que agora rompe a radiosa aurora que nos anuncia o dia da restauração, em que, com a maior alegria de todos vai ressuscitar a antiga Província. Para apressar este dia por força do presente Decreto e pela autoridade do Nosso Oficio, depois de obtida a licença da Santa Sé, por Rescrito da S. C. dos Religiosos, com data de 15 do corrente mês nº 959-49, estabelecemos o Noviciado no nosso Convento de S. Pedro Mártir na vila de Sintra, hoje mesmo por nós erecto, e o dizemos e declaramos estabelecido com todos os direitos de que gozam os noviciados, por direito comum, ou por nosso, ou por costume provado.
Nada obstante em contrário. Em testemunho do que assinamos este Decreto, munido do Nosso selo. Dado em Roma, na Nossa Cúria Generalícia em Santa Sabina, aos 22 de Novembro do ano do Senhor de 1949.
Fr. Manuel Suarez, OP, Mest. Ger.
Fr. Manuel Montoto, OP, Secretário.”
Nomeação do Padre Mestre dos Noviços:
“Nós, frei Emmanuel Suarez, etc… Ao dilecto em Cristo Muito Reverendo Padre Leitor, Doutor, e Ex Mestre dos Irmãos Estudantes, Luís Maria Sylvain, da mesma Ordem.
Sendo sabido quanto importa, para o bem da Ordem uma santa e experimentada formação dos noviços, consideramos como um dos Nossos principais deveres designar para a formação daqueles os Padres que julgamos capazes de desempenhar um ofício de tanta utilidade. Eis porque, em virtude da presente e pela autoridade do Nosso ofício, depois de sabermos que tens mais de dez anos de profissão e idade superior a trinta e cinco anos e és dotado de prudência e de caridade e tens o zelo da casa de Deus e da observância regular, te nomeamos, a ti, M. Rev. Padre Frei Luís Maria Sylvain Mestre de Noviços no Nosso convento de S. Pedro Mártir, de Sintra, com toda a autoridade e com todos os direitos e privilégios que cabem a este ofício quer por direito comum, quer pelas nossas leis, quer ainda por costumes aprovados; ordenando-te em virtude do Espírito Santo e da santa obediência e sob preceito formal que humildemente aceites o dito Ofício e, segundo as suas possibilidades, o desempenhes fiel e diligentemente, com o auxilio da graça divina e a protecção da Virgem Imaculada e do nosso Pai S. Domingos.
Farás Profissão de Fé, juramento anti modernista e juramento de sustentar a doutrina de S. Tomás, perante o Muito Reverendo Padre Mestre em Teologia, Ex Provincial, Frei Pio Maria Gaudrault, Nosso Vigário em Portugal, ou perante outro Padre por ele subdelegado.
Dado em Roma na Nossa Cúria Generalícia, em Santa Sabina, com o selo do Nosso Oficio, no dia 22 de Novembro de 1949.
Fr. Manuel Suarez, OP, Mestre Geral
Fr. Manuel Montoto, OP, Secretário.”
Seguiu-se ainda a leitura das nomeações do Sub Prior e Sub Mestre, na pessoa do R. P. Frei Bartolomeu Martins; e de Mestre dos Irmãos Leigos e Procurador na do R. P. Frei Geraldo Maria Reed. Dadas estas nomeações em Sintra sob o zelo do Vicariato em 7 de Dezembro de 1949.
O primeiro Prior, Padre Doutor Frei Luís Sylvain, que conhece bem várias línguas, apesar de se encontrar há pouco tempo ainda em Portugal já fala correctamente o português.
O Reverendo Padre Vigário Frei Pio Gaudrault testemunhou eloquentemente o seu reconhecimento ao Reverendíssimo Mestre Geral da Ordem pelo carinho dispensado aos Dominicanos portugueses; o vivo agradecimento ao Eminentíssimo Cardeal Patriarca de Lisboa pela autorização que concedeu para a instalação do Convento e Noviciado no território do patriarcado; e sincero agradecimento, igualmente, à ilustre família Posser de Andrade pela boa vontade e facilidades que manifestou na instalação do convento no sumptuoso e grande solar, a dentro da sua formosa quinta de S. Pedro de Sintra.
Entre o grande número de telegramas, cartas e bilhetes recebidos pelo Prior do novo convento registava-se o seguinte cartão do Reverendíssimo Arcebispo de Mitilene, irmão Terceiro da ordem Dominicana.
“Manuel, Arcebispo de Mitilene, com afectuosos cumprimentos e fervoroso parabéns jubilosamente se associa à linda festa de amanhã, que marca uma data faustosa na História da Ordem de S. Domingos em Portugal. 6.12.49”.
No final das cerimónias litúrgicas os noviços deram a todos os seus irmãos e às pessoas presentes, como recordação da data festiva da inauguração da Casa do Noviciado e da sua primeira Vestição, a linda estampa alusiva, que reproduzimos, na qual assinaram já os seus nomes como Irmãos Dominicanos.
Nas interessantes e comoventes cerimónias estiveram representadas a redacção do jornal “A Voz” e o seu ilustre director Sr. Pedro Correia Marques, bem como a redacção do “Jornal do Comércio” e o seu igualmente ilustre director Diniz Bordalo Pinheiro.
Armando de Araújo





1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Obrigada pela partilha e pelo trabalho que teve na divulgação da notícia publicada pelo Jornal do Comercio aquando da abertura do Convento e Noviciado Dominicano na Quinta de São Pedro em Sintra, no dia 7 de Dezembro de 1949, publicada posteriormente pelo Jornal do Comércio. É interessante a montagem que fez do recorte das notícias, das estampas (preciosas) e das fotografias.
    A divulgação desta notícia é importante, pois compreende os diversos textos da documentação lidos no acto da abertura do convento e noviciado e dá-nos uma perspectiva das diligências feitas e de algumas pessoas que se empenharam para que a restauração da Ordem Dominicana em Portugal fosse uma realidade. Porém, há passagens à margem da notícia principal, cuja inserção na mesma não consigo entender. Vale como o Frei José Carlos diz pela “dimensão histórico documental”. Bem-haja.
    Votos de um bom domingo.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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