No âmbito da divulgação do fundo documental da história da Restauração da Província Dominicana de Portugal apresentamos mais uma carta do Padre Gaudrault. Tem a data da Festa de São Domingos, 4 de Agosto, e nela o Padre Vigário anuncia a sua partida para os Estados Unidos para angariar fundos para as obras do Vicariato.
É interessante ver como apela ao trabalho de equipa, usando uma expressão inglesa, e como uma vez mais insiste na necessidade do trabalho conjunto e da auto-suficiência.
Convento de S. Pedro Mártir
Sintra 4 de Agosto de 1950
Meus RRdos. PPes. e Caros Irmãos
Acabou o nosso retiro. Só desejo uma coisa: que os seus frutos sejam duradoiros. A nossa vida religiosa pessoal está na própria base da obra que temos de realizar todos juntos. Os sacrifícios que fizermos converter-se-nos-ão em bênçãos.
Parece, com efeito, que Deus nos abençoa. Já temos seis noviços de coro e dentro em breve três conversos. Continuemos a merecer e não ponderemos demasiado as inquietações, o trabalho, as renúncias de toda a ordem que isso nos custa e trabalhemos unidos num franco espírito de colaboração. É a este trabalho em colaboração que os ingleses chamam “Team Work”, o que pode traduzir-se por “trabalho de equipa” que nos dará a garantia da nossa restauração, do nosso aumento em número e qualidade, de retomar o lugar que nos compete na vida religiosa e nacional de Portugal.
Quero desde aqui agradecer aos Padres que vieram juntar-se a nós, neste noviciado para o retiro. Mas agradeço especialmente ao Rvdo. Pe. Francisco Rendeiro, nosso pregador, pelo belo e sólido retiro que nos deu. E porque pôs nele o seu talento e toda a sua alma dominicana, tem direito aos nossos agradecimentos e às nossas orações.
Agora, partirei em breve para a América, o 9 de Agosto, com o Pe. Métayer por companheiro. Ainda desta vez vamos trabalhar na obra da nossa restauração. Actualmente, sem as esmolas de nossos amigos e dos devotos de Maria, seriamos incapazes de nos mantermos e muito menos ainda de progredir. O noviciado é um grande encargo e se encararmos a hipótese de repatriar os nossos estudantes num futuro próximo, o encargo será mais pesado ainda.
A nossa viagem será trabalhosa: haverá muito que fazer: pregações, palestras, visitas, ministério de toda a ordem, e sobretudo uns 25 mil quilómetros a percorrer para ir aqui e além angariar esmolas. Fá-lo-emos de bom grado, tendo sempre presente ao nosso espírito o nosso objectivo: a obra a realizar aqui. Mas nós necessitamos de ajuda! O vosso papel será pedir muito pelo bom resultado da nossa viagem. “Qui adjuvatur a fratre quasi civitas firma.” Todos os dias, em comum ou em particular dirigi alguma oração a Nossa Senhora da Fátima para que Ela toque as almas daqueles a quem nos apresentarmos e mova a sua caridade.
Vós sereis os beneficiados desta caridade que faz milagres. Todos os Padres dirão na missa, quando as rubricas o permitirem a oração “Pro quacumque re obtinenda” nº 34, a partir de 15 de Agosto até ao 8 de Dezembro. Exorto também todos os Padres, que possam faze-lo, a angariar esmolas para a nossa obra comum, porque é necessário que pouco a pouco possamos ir recebendo de entre nós o que é necessário para a nossa vida. Eu sei bem que o meio não é rico, mas há uma generosidade e caridade enorme no nosso povo. O óbulo do pobre é agradável a Deus e faz milagres!
Durante a minha ausência ficará investido das funções de Vigário o Rvdo. Pe. Sylvain e durante a ausência deste para Roma tereis a bondade de vos dirigirdes ao Rvdo. Pe. Tomás Videira que o substituirá no convento do noviciado.
Provavelmente regressarei nos princípios de Dezembro, a não ser que aconteça alguma coisa imprevista.
Abençoo-vos de todo o meu coração exprimindo os meus melhores sentimentos e dando-vos a certeza do meu religioso afecto em S. D.
(fr. Pie-M Gaudrault, O.P.)
Vigário Geral
Frei José Carlos,
ResponderEliminarLi com interesse a carta do Padre Gaudrault de 4 de Agosto de 1950 e o segundo parágrafo da introdução que escreveu à mesma, em particular, no que se reporta ao apelo do trabalho em equipa feito pelo Padre Vigário. A minha reflexão exclui o contexto religioso porque desconheço, como é compreensível, e também não me pronunciaria, mas reflicto na dificuldade que o ser humano manifestou e manifesta, em todas as épocas e sectores profissionais, do qual não excluo o ensino, nesta forma de organização, para não falar na partilha dos resultados. Não é fácil, mas o trabalho conjunto é benéfico individual e colectivamente.
Obrigada pela partilha. Bem-haja.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva