sábado, 22 de outubro de 2011

Noticia no Jornal O Facho da Abertura do Noviciado Dominicano em Sintra

Se os jornais de grande circulação fizeram notícia da abertura do Convento e Noviciado Dominicano na Quinta de São Pedro em Sintra, o pequenino jornal “O Facho”, órgão de comunicação e divulgação do Seminário Dominicano de Aldeia Nova também não lhes ficou atrás. Por mais que não fosse porque os quatro noviços clérigos provinham das suas fileiras.
É o número 35, publicado em Maio de 1950, que publica a notícia da abertura do Noviciado. Por esta ocasião o Padre Vigário Gaudrault escreve uma carta aos leitores do pequeno jornal, convidando todos os que apoiavam o Seminário de Aldeia Nova a interessar-se ainda mais, agora que os aspirantes podiam já realizar o seu tempo de Noviciado no país. Segue o texto para mais fácil leitura.
O Padre Sylvain faz a crónica do acontecimento, uma crónica que nos permite confirmar que desde o primeiro momento fazia parte do projecto de restauração a construção do convento em Fátima.
E o Padre Sub Mestre, Bartolomeu Martins, faz uma crónica com algum humor dos primeiros momentos da vida comum no noviciado. Pela simplicidade e jovialidade deixamos também o texto para apreciação.

A Bênção do Reverendíssimo Padre Vigário Geral
O Facho deste mês levará a todos os seus leitores, nossos amigos e benfeitores, a crónica sobre as cerimónias comovedoras e brilhantes da abertura do nosso Noviciado, na Quinta de S. Pedro, Sintra.
Por minha parte, quero frisar a imensa alegria que este acontecimento causou a toda a Família Dominicana, Padres e Irmãos membros da Ordem Terceira e a todos os nossos amigos e benfeitores. Respondemos a todos os telegramas e cartas que então recebemos. Com receio de que algum tenha ficado sem resposta, por esquecimento, por meio do «Facho» apresento a todos o testemunho do nosso reconhecimento mais profundo e dos nossos agradecimentos mais sinceros, junto de Deus a Quem elevamos fervorosas orações: Padres e Noviços.
O Noviciado é um primeiro passo na obra da Restauração e uma grande esperança. Recebemos a Bênção Apostólica de Sua Santidade Pio XII; a do Revmo. Padre Manuel Suarez, Mestre Geral, que para nós é a imagem viva de S. Domingos. Temos igualmente a certeza de ter a bênção de Nossa Senhora de Fátima, a Rainha do Rosário, sempre tão maternal para com os filhos de S. Domingos.
Todos os leitores do «Facho» que se interessam pela Escola Apostólica, interessar-se-ão agora mais, sabendo que ela tem já o seu prolongamento natural em Portugal – O Noviciado; que os nossos jovens já não têm de deixar a Pátria para vestir o hábito de S. Domingos; que trabalhando pela Escola Apostólica trabalham pelo Noviciado e pela Província; que dentro em breve aumentaremos em número e em qualidade; que quanto antes, se abrirá o Estudantado de Filosofia e o seu complemento, o de Teologia. Será obra de todos, realizada na união da caridade fraterna, obra que certamente dará muita glória a Deus, à Santa Igreja, à Ordem e a Portugal.
Com esta ambição, e cheios de esperança e de amor, trabalhemos mais e melhor que nunca, não receemos ante os sacrifícios; não haverá mais obstáculos para a obra que nos propomos realizar.
Mais uma vez, muito obrigado a todos, coragem e entusiasmo, e que Deus vos abençoe a todos, queridos leitores do «Facho», Terceiros, amigos e benfeitores, como também eu vos abençoo, de todo o coração, paternalmente.
Fr. Pio Maria Gaudrault, OP, Vigário Geral

Os Nossos Noviços... são bons rapazes...
Primeiramente, por uma razão há pouco descoberta. É que “não há rapazes maus”.
Em seguida, porque são mesmo bons... (Não se riam – seus marotos!... – ao lerem o vosso elogio soprado aqui aos quatro ventos, ouviram?...
Santos, prontinhos a subir ao altar?...
Não irei tão longe... Será preciso, ao menos, lavar os pés primeiro... e, depois, que o Padre Mestre – o escultor das almas noviças – arredonde uns tantos contornos, adoce umas quantas arestas e ângulos, o que não será sem uns tantos ou quantos golpes de cinzel... Só depois é que – como dizia Vieira – poderão ficar uns santinhos de pôr no altar...
Até lá, são bons moços, alegres, amigos de jogar, comendo razoavelmente..., dormindo como pedras (oh! se os deixassem...) mas também amigos da oração, de cantar a missa e as Completas todos os dias, filialmente amigos e confiantes nos seus Superiores, amigos uns dos outros, amigos de toda a gente...
O Frei Rosário Francisco gosta muito de acender, às noites frias, o fogo da chaminé onde os Superiores passam o recreio. E, segundo o parecer do M. R. P. Vigário, está um mestre consumado na arte de fogueiro... (A CP não o sabe, senão já o teria reclamado... Mas Frei Rosário responderia que está reservado para atiçar outros fogos...) Ao lado disto, não desgosta de uns bons pontapés na bola, para o que tem o cuidado de tirar sapatos e meias… que o calçado está caro e o pontapé em osso sai mais potente... Ah! Esquecia me de dizer que tem mais um predicado (além de muitos mais que por brevidade se omitem...) e é que se agarra ao harmónio com unhas e dentes... Quando for só com os dedos sobre o teclado, estará mestre...
O Frei Pedro António é internacional no pontapé à bola, pela se por engenharias, maneja a raquete do pingue-pongue com mestria mas logo que vê, no recreio da noite, o P. Sub Mestre sentar-se para a bisca (não se escandalizem, leitores: aqui não se joga a dinheiro e jogar as cartas por simples passatempo não só não é pecado nenhum mas é uma óptima ocasião de arranjar algumas humilhações, quando se perde, se joga mal, etc…), logo que o Frei Pedro vê sinais de bisca – ia eu dizendo – larga a raquete, larga tudo e vem sentar-se à mesa do jogo, pois – confessa ele – gosta muito de jogar à bisca, sobretudo quando lhe vêem todos os trunfos...
O Frei Gonçalo Manuel não é grande mestre no pontapé…, na bisca ainda não sabe dar sinais ou dá-os de modo que todos vejam.., mas joga com galhardia e elegantes saracoteios, o pingue-pongue e – disse-me ele, ontem à noite, é perdidinho pelos sermões do P. Sena Freitas... Oxalá lhe aprenda o estilo sem se esquecer de juntar-lhe a doutrina de S. Tomás!
O Frei Raimundo Luís, o mais novo mas o mais, alto e espadaúdo dos quatro, é perito na bola – no que, verdade seja, o favorecem as suas longas pernas e grosso músculo – já vai levando a palma ao organista oficial na arte de dedilhar, joga impetuosamente o pingue-pongue até a bola soar a rachado e, sobretudo, toca o sino – é o sineiro – com tal entusiasmo e veemência que atordoa os ouvidos hiper sensíveis do P. Sub Mestre…
E no mesmo estilo são os dois Noviços Leigos, Ir. Pio José – a alma recolhida, interior e escrupulosa no cumprimento do dever – e o Ir. João Firmino, o sempre jovial ajudante do nosso querido cozinheiro Ir. António. Ele aprecia muito o inglês e, sempre que pode, arrisca umas palavrinhas… com o P. Sub Mestre, que, na matéria, é tão noviço como ele…
E cá estão os nossos noviços… Que vos parece, caros leitores?... Que é a fina-flor da gente dominicana, não é verdade?... É que é mesmo! Pois sabei que aqui se vive com muita caridade, muita união e, por isso, com muita alegria, procurando ajudar-nos uns aos outros… Não era isso o que S. Paulo recomendava?...
O P. Sub Mestre



1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    A partilha da publicação da noticia da abertura do Noviciado Dominicano em Sintra pelo jornal “O Facho” não é menor relativamente aos jornais de grande circulação como diz.
    Li com satisfação a crónica do Padre Sub Mestre, Bartolomeu Martins sobre a vida em comum do noviciado decorridos poucos meses. Revela humor, boa disposição mas ilustra certamente o ambiente de fraternidade e alegria com que viviam.
    Obrigada, Frei José Carlos, pela partilha. Bem-haja.
    Que o Senhor o abençoe e proteja.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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