terça-feira, 18 de outubro de 2011

Relações do Convento dos Dominicanos com a Paróquia de São Pedro de Sintra

Entre Fevereiro de 1218 e Maio de 1221 São Domingos obteve do Papa Honório III um grande número de bulas de recomendação para os frades da sua Ordem. Para uma Ordem jovem e em expansão pela Europa eram fundamentais, uma vez que os frades pregadores e itinerantes passavam a exercer uma missão reservada exclusivamente aos bispos, a da pregação. São Domingos parecia adivinhar as dificuldades e confrontos que ao longo dos tempos se viriam a desenvolver entre os frades mendicantes e o clero diocesano.
Também os frades do convento dominicano, instalado em Dezembro de 1949 na quinta de São Pedro de Sintra, tiveram os seus confrontos, as suas quezílias com o clero diocesano, neste caso com o pároco de São Pedro o Padre Dr. João Maria Domingos.
No âmbito da divulgação do espólio documental da restauração da Província Dominicana de Portugal apresentamos correspondência trocada entre o Pároco João Maria Domingos e o Prior do Convento o Padre Sylvain.
Numa carta, datada de 7 de Dezembro de 1950, ou seja exactamente um ano após a abertura do noviciado, o Pároco queixa-se da procura dos serviços dos dominicanos por parte dos fregueses da paróquia. Assim, e ainda que o ajudem, o que muito agradece, solicita que todos os pedidos devem ser remetidos para a paróquia e pároco.


São Pedro de Sintra
7 Decembre 1950
Reverende Pére Bonjour!
C’est à vous que je m’adresse puisque vous étes le “Prior” du Couvent.
Je vous serai bien reconnaissant de faire un avis à tous les Peres: je leur serai bien reconnaissant pour la collaboration qu’ils puissent me donner toujours que je leur demande. Mais pour eviter des commentaires toujours desagreables je tiens à vous recommander que si les paroissiens vous cherchent pour des affaires de la paroisse envoyez les moi. Je suis le cure et je dois savoir ce qui se passe dans la paroisse. Evidemment pour des cas d’urgence comme de sacrement vous avez d’avance l’autorisation. Mais pour de cas comme des enterrements ce sera bien d’envoyer les gens au curé qui est à l’église ou qui peut attende le telephone. Autrement c’est le désordre! Et je ne le veut pás.
Bien dedié en Christ.
P. João Maria Domingos

Nesse mesmo dia, o Padre Sylvain, Prior do convento, responde ao Pároco Dr. João Maria Domingos, justificando a colaboração que tinha sido prestada, afinal o acompanhamento de um defunto de Ranholas, para o qual parecia que não tinha aparecido padre. Sem qualquer pretensão o Padre Sylvain propõe-se a uma colaboração assente no entendimento.


7 Décembre 1950
Monsieur le Curá de São Pedro, Sintra
Cher Monsieur le Curé,
Je reçois votre lettre et je veux y répondre imméditatement, car je trouve le procédé étrange. Nous nous efforçons de vous accorder une sincére collaboration et voici qu’on nous condamne, sans nous entendre. J’aurais aimé que vous nous demandiez ce qui en était auparavent. Ainsi vous auriez appris que cela s’etait présenté comme un cas urgent, si étrange que cela puísse paraitre puisqu’il agissait de funérailles.
Mardi aprés-midi, à 3.45 p.m. je reçois moi-meme un télephone de Ranholas me disant qu’on s’apprêtait à partir pour le cimetière. Les funérailles avaient été fixées pour 3.30 p.m. J’ai pris immédiatement quelques informations pour savoir ce qui en était; si le cure était au courant, si la personne était en règle avec l’Eglise. On m’a répondu que vous aviez confessé cette personne la semaine précédente. Tout le monde etait lá et pour ne pas causer de scandale en refusant ce service – bien que cela me dérangeait beaucoup puisque j’étais à faire une “pratica” aux frères, j’ai accepté ce que je me croyais justifié de faire dans les circonstances.
Reste le point de vous rendre compte: ce qui devait être fait à l’occasion de la fête de l’Immaculée.
Voici les faits: vous pourrez, j’espère, juger qu’il n’y a pás eu désordre ni atteinte á vous droits legitimes comme Pasteur. Je vous ai donné cês explications parce que je suis persuadé qu’un élément de la collaboration consiste à chercher à s’entendre et non à condamner à la premiére occasion ou à la premiére difficulté.
Votre tout dévoué,
Fr. Louis-Marie Sylvain, op
Prieur du Couvent.

A 25 de Março de 1951 o Pároco Dr. João Maria Domingos felicita por ocasião da Páscoa da Ressurreição os frades do convento de São Pedro Mártir de Sintra e agradece toda a generosa ajuda e colaboração prestada pelos padres dominicanos. Percebe-se que a relação tinha já evoluído para patamares mais auspiciosos.

 Paroquial de São Pedro de Sintra
25 Março 1951
Réverende Pére Sylvain
C’est avec plaisir que je me décharge de l’accomplissement d’un devoir et je choisi ce jour de la Ressurection du Seigneur: Merci bien á tous le Réverendes Peres Dominicains par les bons services rendus à me paroisse. Dans la pauvreté de cette paroisse je cueille les meilleurs fleurs de ma gratitude pour vous remercier toute l’aide que m’ont concédée jusqu’á present et je prie le Bon Dieu que couvre de benedictions toute le communauté et que le Seigneur Jesus Ressuscité soit avec vous! Bonnes Pacques.
Três amicalement,
O Prior de São Pedro
P. João Maria Domingos



1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Leio o texto que partilha connosco sobre a correspondência havida entre o Pároco João Maria Domingos e o Prior do Convento o Padre Sylvain aquando da reinstalação da OP em São Pedro de Sintra. Fico com um sorriso pálido ainda que as relações tivessem tomado o rumo certo, imagina-se. Mas este spot leva-me a pensar que decorridas muitas décadas, e falo da vida civil, entenda-se, como reagimos, de modo semelhante. Na realidade, somos na nossa humanidade, um todo, não temos “gavetas” que vamos abrindo à medida que nos interessam … mas, às vezes, comportamo-nos como tal.
    Que o Senhor nos ilumine e nos purifique para oferecermos a Jesus o que espera de cada um de nós.
    Obrigada, Frei José Carlos, pela partilha. Bem-haja.
    Continuação de uma boa semana. Que o Senhor o proteja e lhe dê força para a Caminhada assim como a todos aqueles que abraçaram uma vida de dedicação aos outros, complexa, por vezes, no seu exercício.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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