segunda-feira, 21 de maio de 2012

Mas eu não estou só. (Jo 16,32)

Quando parece que tudo está claro, quando os discípulos dizem ao Mestre que agora lhes fala claro e eles compreendem, eis o volte-face e o regresso à incompreensão, eis o regresso ao confronto com a realidade dolorosa e trágica do abandono e da dispersão.
Quando parece que tudo se encaminha para o bem, para uma harmonia comum, eis a reviravolta, porque afinal nada está compreendido, nada é ainda claro, será necessário passar a experiência da dor e da morte para que alguma luz se faça, se possa fazer.
E para não perderem a esperança, para não caírem no desânimo total diante da tragédia que irão viver, Jesus revela aos discípulos, uma vez mais, a sua relação com o Pai, a vida íntima que partilham. Eu não estou só!
Poderá parecer que o abandono e a traição o deixarão só, poderá parecer que a morte na cruz não é outra coisa para além do sinal da solidão total, mas nada disso significará o que parecerá, porque desde o primeiro momento e nesses mesmos momentos o Pai estará presente, e ele estará no amor do Pai.
Jesus abre assim aos discípulos e a cada um de nós uma travessia no deserto, um corredor de segurança no cenário da violência e do ódio sem medida e sem sentido. A solidão, o abandono, nada são quando se está na mão do Pai, quando se vive em intimidade com Deus, quando se sabe protegido e amado por Deus.
Jesus não foi deixado só e nenhum de nós é deixado só por Deus, ele acompanha-nos ainda que muitas vezes os nossos olhos estejam mais fixados na areia do deserto ou na lama do caminho.
Por isso, quando Jesus fala de paz, quando nos oferece a sua paz, é a paz que flui desta confiança e desta relação de intimidade, desta união que dá forças para enfrentar todas as situações e desafios. É a paz de quem se sabe acompanhado, nunca só ou abandonado.
Senhor meu Deus que eu sinta sempre esta paz da tua presença paterna!

Ilustração: Caminho de Santiago junto à igreja de Villambistia. Caminho de Santiago. 8 de Maio de 2010.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Fico a reflectir no texto da Meditação que teceu e partilha, no nosso quotidiano, nos últimos vinte e cinco anos do século XX e a forma como vamos vivendo o século XXI e perspectivando o futuro. E muitos de nós não sentem nem satisfação pessoal, nem paz interior e uma grande preocupação quanto ao futuro.
    Jesus disse aos discípulos “Anunciei-vos estas coisas para que, em mim, tenhais a paz. No mundo, tereis tribulações; mas, tende confiança: Eu já venci o mundo!»
    A coragem que Jesus nos transmite e a paz de que nos fala só se encontra num modelo de sociedade diferente, numa vida em intimidade com Deus, em fraternidade, na solidariedade, no serviço ao próximo e na partilha. Que difícil Frei José Carlos!
    Como nos salienta …” Jesus abre assim aos discípulos e a cada um de nós uma travessia no deserto, um corredor de segurança no cenário da violência e do ódio sem medida e sem sentido. A solidão, o abandono, nada são quando se está na mão do Pai, quando se vive em intimidade com Deus, quando se sabe protegido e amado por Deus”. …
    Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, pela coragem, pela força que nos transmitem, por nos recordar que …” Jesus não foi deixado só e nenhum de nós é deixado só por Deus, ele acompanha-nos ainda que muitas vezes os nossos olhos estejam mais fixados na areia do deserto ou na lama do caminho.” Que o Senhor o abençõe e o guarde.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva


    P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe novamente o texto desta oração.

    A ESTRADA
    DA CONFIANÇA

    Faz-nos trilhar, Senhor, a estrada da confiança. Dá-nos um coração capaz de amar serenamente aquilo que somos
    ou que não somos, aquilo com que sonhámos ou as coisas que não escolhemos e que, contudo, fazem parte da nossa vida.
    Ensina-nos a devolver a todos os Teus filhos e a todas as criaturas a extraordinária Bondade com que nos amas. Não permitas
    que o nosso espírito se feche no medo ou no ressentimento: ensina-nos que é possível olhar a noite não para dizer que pesa
    em todo o lugar o escuro, mas que a qualquer momento uma luz se levantará.
    Dá-nos ousadia de criar e recriar continuamente mesmo partindo daquilo que não é ideal, nem perfeito. E quando nos sentirmos mais frágeis ou sobrecarregados recebamos, com igual confiança, a nossa vida como um Dom e cada dia como um dia de Deus.

    (In, Um Deus Que Dança, Itinerários para a Oração, José Tolentino Mendonça, 2011)

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