segunda-feira, 14 de maio de 2012

São Matias eleito para testemunhar a ressurreição (Act 1,20-26)

A traição de Judas e o seu desaparecimento do grupo dos Apóstolos tinha deixado um lugar vago, um vazio no número dos doze. Como chefe do grupo Pedro vê-se obrigado a procurar alguém para ocupar esse lugar, para realizar a missão de anunciar a Boa Nova do Reino.
O relato que os Actos dos Apóstolos nos deixam deste acontecimento é verdadeiramente magnífico, pois mostra a colegialidade da Igreja nascente, como a eleição pelo Espírito Santo se processa em comunidade através da apresentação dos candidatos, mas mostra sobretudo o que verdadeiramente estava em causa e obrigava a essa eleição, a necessidade de encontrar alguém que testemunhasse a ressurreição de Jesus.
Pelo relato e pela preocupação da primeira comunidade cristã percebemos que o verdadeiramente importante não era a história de Jesus, os milagres realizados e os ensinamentos proferidos, porque essa história qualquer um dos discípulos que tinha acompanhado Jesus podia testemunhar.
O que estava em causa era a ressurreição de Jesus, era esse acontecimento que marcava a diferença, esse acontecimento é que não era do conhecimento de todos mas apenas de alguns, e por isso era necessário encontrar alguém que o tivesse experimentado, vivido na sua originalidade e totalidade.
O discípulo Matias é o eleito, passando dessa forma a fazer parte do grupo dos Apóstolos, ficando dessa forma incumbido da missão de anunciar e dar testemunho da ressurreição de Jesus. José, de sobrenome Justo, o que pode dizer algo da sua vida e pessoa, foi preterido, ressaltando assim e ainda mais a necessidade da experiência do ressuscitado face ao seguimento e conhecimento de Jesus.
À luz desta eleição e do contexto em que ela decorre somos interpelados sobre a nossa relação com Jesus e o testemunho que damos dele, porque muitas vezes a nossa vida, nas suas palavras e obras, parece apenas testemunhar o Jesus histórico, aquele Jesus que fez milagres e curas, ao qual recorremos em algum momento mais aflitivo, que reconhecemos na bondade e utopia dos seus ensinamentos, porque acreditamos que o mundo seria melhor se vivêssemos no amor que nos deixou.
É verdade que esta nossa relação assenta em Jesus ressuscitado, que o acreditamos presente na nossa vida e junto do Pai a interceder por nós, mas não será que nos falta algo, um pouco mais de fé na ressurreição? Se tivéssemos a “experiência” do ressuscitado não seriamos mais ousados, não viveríamos algumas realidades da nossa vida com mais fidelidade, com mais coragem, enfrentando os desafios com outra confiança e audácia?
Ao rezarem para que o Senhor lhes indicasse qual dos apresentados era o eleito, a comunidade reunida reconhece que o Senhor conhece os corações de todos os homens. Também conhece os nossos e as suas fragilidades, bem como as nossas tentativas de fidelidade face ao conhecimento e seguimento de Jesus.
Peçamos ao Senhor que nos ilumine e fortaleça na experiência da ressurreição, de modo a que o nosso testemunho seja cada vez mais verdadeiro, confiante e transformador das realidades que nos rodeiam.

Ilustração: “São Matias”, vitral da Catedral de Saint Aidan’s, Enniscorthy, Irlanda.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Bem-haja pelo tema da Meditação que escolheu e partilha, no dia em que celebramos a festa litúrgica do Apóstolo São Matias, pelo testemunho da ressureição de Jesus, pela transformação em que participou, pelo desafio que Frei José Carlos nos deixa.
    Como nos salienta ...” Pelo relato e pela preocupação da primeira comunidade cristã percebemos que o verdadeiramente importante não era a história de Jesus, os milagres realizados e os ensinamentos proferidos, porque essa história qualquer um dos discípulos que tinha acompanhado Jesus podia testemunhar.
    O que estava em causa era a ressurreição de Jesus, era esse acontecimento que marcava a diferença, esse acontecimento é que não era do conhecimento de todos mas apenas de alguns, e por isso era necessário encontrar alguém que o tivesse experimentado, vivido na sua originalidade e totalidade.
    O discípulo Matias é o eleito, passando dessa forma a fazer parte do grupo dos Apóstolos, ficando dessa forma incumbido da missão de anunciar e dar testemunho da ressurreição de Jesus”. …
    Mas Frei José Carlos vai mais além ao interpelar-nos …” sobre a nossa relação com Jesus e o testemunho que damos dele” (…), ao questionar-nos se a nossa relação assenta em Jesus ressuscitado, se o acreditamos presente na nossa vida e junto do Pai a interceder por nós, se não será que nos falta algo, um pouco mais de fé na ressurreição”. (…)
    Façamos nossas as palavras de Frei José Carlos e …” Peçamos ao Senhor que nos ilumine e fortaleça na experiência da ressurreição, de modo a que o nosso testemunho seja cada vez mais verdadeiro, confiante e transformador das realidades que nos rodeiam.”
    Um grande obrigada, Frei José Carlos, pela partilha da Meditação que nos desinstala, pela introspecção que nos leva a fazer, pela exortação que nos faz, por nos recordar que hoje somos nós chamados a dar testemunho de Jesus ressuscitado, a dar conhecimento da sua Boa Nova. Que o Senhor o ilumine e o guarde.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

    ResponderEliminar