sexta-feira, 25 de maio de 2012

Simão, filho de João, tu amas-me mais que estes? (Jo 21,15)

Por três vezes Jesus faz a mesma pergunta a Pedro, que não trata com o nome que lhe dera aquando da chamada ao seguimento, mas pelo seu nome de nascença, Simão, filho de João, pelo nome anterior ao encontro com o Mestre.
Ao fazê-lo, com toda a pedagogia que lhe era própria, Jesus traz ao espírito de Pedro a sua condição, a sua humanidade e a fragilidade inerente, uma fragilidade revelada na negação do conhecimento do Mestre aquando do processo que o levou à morte.
A insistência de Jesus na pergunta, ainda que tenha subjacente o pecado de Pedro de o ter negado, tem contudo uma outra dimensão, a do carácter novo e decisivo do apelo que é feito.
Ainda que recordando a Pedro a sua falta, Jesus assume curá-la, purificá-la, e a partir dessa cura fazer-lhe uma nova proposta de vida. Já não se trata apenas de seguir, porque nessa circunstância pode-se debandar, negar; trata-se de amar, porque quem ama não abandona, não deserta, não nega.
E é importante amar, assumir o amor pelo mestre e senhor, porque só dessa forma Pedro poderá assumir a missão que Jesus lhe entrega, apascentar o seu rebanho. Jesus confia afinal a Pedro uma nova missão, a de guiar os seus irmãos.
Uma missão que exige o amor, mas exige igualmente a consciência das suas próprias fragilidades e infidelidades. Uma missão de autoridade, para que a fidelidade se mantenha, mas também uma missão de misericórdia porque todos falhamos e todos nos encontramos a caminho.
Como era bom que todos nós assumíssemos esta dupla dimensão da missão que Jesus confia a Pedro, ajudando os nossos irmãos a crescer e a caminhar na fidelidade aos mandamentos do Senhor, mas fazendo-o sempre com misericórdia e a partir da consciência do quanto nos falta ainda também crescer nessa mesma fidelidade.
Que o Espírito Santo ilumine os nossos corações e todos os nossos gestos na fidelidade e na misericórdia.

Ilustração: “As lágrimas de São Pedro”, de El Greco. Bowes Museum.

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Bem-haja por evidendiar-nos o significado do diálogo de Jesus com Simão Pedro ao suscitar a tripla confissão de fidelidade de Pedro, resgatando-o, dando-lhe um novo compromisso, apascentar o seu rebanho. Como nos salienta no texto da Meditação ...” Ainda que recordando a Pedro a sua falta, Jesus assume curá-la, purificá-la, e a partir dessa cura fazer-lhe uma nova proposta de vida. Já não se trata apenas de seguir, porque nessa circunstância pode-se debandar, negar; trata-se de amar, porque quem ama não abandona, não deserta, não nega.”
    Grata, Frei José Carlos, pela partilha da Meditação, profunda, maravilhosamente ilustrada, por nos exortar …” a que era bom que todos nós assumíssemos esta dupla dimensão da missão que Jesus confia a Pedro, ajudando os nossos irmãos a crescer e a caminhar na fidelidade aos mandamentos do Senhor, mas fazendo-o sempre com misericórdia e a partir da consciência do quanto nos falta ainda também crescer nessa mesma fidelidade.”…
    Que o Espírito Santo nos conceda a humildade e a capacidade de amar o nosso semelhante para sermos verdadeiramente misericordiosos. Que o Senhor o ilumine e o guarde. Votos de um bom fim-de-semana.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

    P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe de novo o texto de uma oração.

    A ESTRADA DA MISERICÓRDIA

    Faz-nos trilhar, Senhor, a estrada da Misericórdia. Dá a cada um de nós acapacidade de acolher apenas,
    sem juízos prévios, nem cálculos.
    Dá-nos a arte de acolher o trémulo, o ofegante, o frágil modo com que a vida se expressa.
    Torna-nos atentos ao desenho silencioso e áspero dos dias: à dor profunda e, porém, quase
    anónima a nosso lado; ao grito sem voz; às mãos que se estendem para nós sem as vermos;
    à necessidade que nem encontra palavras. Ensina-nos que fomos feitos para a Misericórdia e que
    ela é a Sabedoria que Tu, Senhor, mais amas.

    (In, Um Deus Que Dança, Itinerários para a Oração, José Tolentino Mendonça, 2011)

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  2. Suscita-me imensas questões o facto da pergunta de Jesus incluir a referência a “filho de Jonas”. Tinha de haver algum motivo para tal, porque não dirigir-se só a Pedro, simplesmente, porquê evocar o nome que lhe pertencia por filiação antes de seguir Jesus? Uma pergunta destas, feita por Cristo e não por um homem qualquer devia ser sem dúvida uma honra e um privilégio para Pedro. E ele confessou a sua fé sem reservas, três vezes, “Senhor, Tu sabes todas as coisas, Tu sabes que eu Te amo”. Apercebo-me que é fácil amar com palavras, é fácil responder com um sim e de repente sentir a tristeza de Pedro, que no fim compreendeu que Jesus não tinha de facto razões para acreditar que Pedro o amava. O conceito de Amor verdadeiro implica dependência de livre vontade, quer-se depender de Deus e de certa forma esta dependência também inclui alguma obediência num sentido livre (para que não haja equívocos sobre o significado da obediência), “amo-Te por isso quero fazer-Te a vontade”, amar sem estar centrado em si mesmo. Talvez Pedro não tenha por isso logo compreendido que para amar Cristo a sua missão era o compromisso de apascentar as ovelhas e talvez mais tarde se tenha mesmo esquecido disto a dado momento em que deixou o medo vencer, caindo no escuro e negando Cristo três vezes. Percebeu-se aí derrotado e que não era nada sem Ele, tal como todos nós, sem Ele, somos simplesmente “filhos de Jonas”, esquecendo que amar não se baseia em responder por palavras mas ao verdadeiro compromisso e à dependência de Deus.

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