Jesus proclama solenemente que quem acredita nele não só fará as obras que ele fez mas fará obras ainda maiores.
Promessa surpreendente e simultaneamente intrigante, pois nas nossas fragilidades e limitações de seres humanos, de criaturas, que obras poderemos fazer que sejam ou possam ser maiores que a obra que Jesus fez? Que obra de amor poderemos fazer como fez Jesus?
Inevitavelmente a resposta é negativa, pois todas as nossas obras estão e estarão condicionadas às nossas limitações, à nossa natureza finita e por isso serão sempre ínfimas comparadas com a obra de Jesus.
Contudo, a promessa de Jesus não é uma mentira, nem é um engodo para nos colocar em situação de otários; ela corresponde à verdade daquele mesmo que a enuncia, pelo que temos que acreditar e confiar que podemos e realizamos obras tão grandes ou maiores que as obras de Jesus.
Tal acontece na medida da fé, porque como condição prévia para a realização das obras Jesus exige a fé na sua pessoa, a fé no Filho do homem que é Filho de Deus. Na medida em que acreditamos podemos realizar grandes obras. Jesus diz-nos noutro momento que se tivéssemos fé, mesmo que fosse do tamanho de um grão de mostarda, poderíamos ordenar a mudança de um monte para o mar.
Por outro lado, e é a outra condição para que possamos fazer grandes obras, não podemos esquecer que devemos pedir ao Pai por Jesus a obra que desejamos realizar. Devemos portanto colocar-nos em sintonia com o Pai e o Filho, percebendo que as obras que desejamos, pelas quais pedimos, não podem deixar de estar no seguimento das obras realizadas por Jesus, não podem distanciar-se ou opor-se à vontade do Pai.
E ainda, se realizamos as obras, se tal é possível, é porque o Filho está junto do Pai, Jesus subiu ao céu e dessa forma é Senhor do universo, tudo lhe foi subjugado e está aos seus pés, tem portanto poder sobre todas as realidades, inclusive sobre a nossa acção.
Com toda a razão alguém perguntará, então porque não fazemos as obras, porque não somos capazes até de fazer as obras mais simples?
Poderíamos responder basicamente porque nos falta a fé, ou nos falta a oração de petição verdadeira e profunda. Mas o cerne da resposta é-nos dado pelo próprio Jesus quando nos diz que responderá aos nossos pedidos para que o Pai seja glorificado no Filho.
São as nossas obras, e os nossos pedidos, continuidade da obra de glorificação que Jesus operou, tanto na dimensão humana como na dimensão divina? As obras que pretendemos realizar, e para as quais pedimos a ajuda de Deus, dignificam o homem, os irmãos com quem vivemos, e dignificam o Deus que se nos revelou em Jesus como amor e misericórdia, como pai que nos ama? São verdadeiramente obras de salvação, obras de amor?
Certamente se ainda não conseguimos realizar as obras que Jesus nos prometeu é porque ainda muito nos falta amar.
Ilustração: “Cristo Rei Salvador”, de Nikolai Andreevich Koshelev, para a Catedral do Salvador de São Petersburgo.
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