quarta-feira, 2 de maio de 2012

Quem me vê a mim vê aquele que me enviou. (Jo 12,45)

Quando nasce um bebé, quando nos encontramos com uma criança pequenina, uma das nossas primeiras e mais básicas questões é saber com quem se parece, se com o pai, se com a mãe. E aos poucos vamos descobrindo traços de um ou de outro, traços que a idade e o crescimento vão atenuando ou acentuando, mas que inevitavelmente deixam de ser significativos quando a identidade própria se define.
Contudo, e ainda que os traços se mantenham muito vincados, que a parecença seja muito grande, ninguém poderá dizer como disse Jesus aos seus discípulos “quem me vê a mim vê o Pai, aquele que me enviou”. Ou como respondeu a Filipe quando este lhe pediu para lhes mostrar o Pai, “Filipe quem me vê, vê o Pai”.
De facto nós somos uma mistura, uma composição de genes em que a preponderância de uns sobre os outros se faz sentir e portanto somos uma soma complexa, uma outra realidade irrepetível, apesar das nossas modernas tentativas de clonagem, uma outra realidade que se vai definindo em função das experiências vividas, das alegrias e dos sofrimentos passados. Somos nós e as nossas circunstâncias.
Jesus, contudo, revela-se como a imagem do Pai, a visão do Pai. Não uma imagem fotográfica, uma projecção, mas uma imagem que resulta da perfeita e intima relação do Pai com o Filho e do Filho com o Pai. É a comunhão das identidades, das pessoas como dizemos no credo, e por isso Jesus pode dizer que quem o vê, vê o Pai.
Jesus é a luz que nasce da luz e portanto mantém a originalidade e a pureza da luz da qual procede, mantém-se luz apesar da circunstância da encarnação e capacidade de iluminar nesse mesmo mistério de se fazer homem. É por ele que o Pai se pode dar a ver, funcionando Jesus neste aspecto como o canal aberto que nos permite o livre acesso a Deus.
Acolher a pessoa de Jesus na sua originalidade, escutar a sua palavra, perceber a sua história e o mistério de encarnação divina que representa, é aceder ao conhecimento do Pai, do Deus verdadeiro, um Deus que é amor, é colocar-se em processo de chegar à total comunhão de amor com Deus.
Procuremos pois Jesus, como as multidões que o procuravam para o fazer rei ou para comer do pão, mas desta feita para apenas gozarmos da sua intimidade, da sua luz e nela participarmos na luz eterna que é Deus.

Ilustração: “Transfiguração”, de Fra Angélico, Convento de São Marcos, Florença.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Li com interesse o texto da Meditação não só mas também pela forma como aborda a unidade de Jesus com o Pai que o enviou. Crer nele é crer naquele que o enviou. Como nos diz ...” É a comunhão das identidades, das pessoas como dizemos no credo, e por isso Jesus pode dizer que quem o vê, vê o Pai.”…
    Jesus é a Luz que brilha nas trevas, é a Luz do Mundo que veio para salvar-nos, não para condenar-nos. Como nos salienta, ...” Acolher a pessoa de Jesus na sua originalidade, escutar a sua palavra, perceber a sua história e o mistério de encarnação divina que representa, é aceder ao conhecimento do Pai, do Deus verdadeiro, um Deus que é amor, é colocar-se em processo de chegar à total comunhão de amor com Deus.”
    Obrigada, Frei José Carlos, pela partilha da Meditação, por nos exortar na busca de Jesus, “para gozarmos da sua intimidade, da sua luz e nela participarmos na luz eterna que é Deus”. Peçamos ao Senhor que o ilumine e o abençõe.
    Continuação de uma boa semana.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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