A parábola das dez
virgens regressa ciclicamente ao nosso encontro e de cada vez coloca-nos face a
esse desaire das cinco virgens que ficam fora da sala do banquete, que não são
reconhecidas pelo Esposo quando batem à porta.
E contudo não estão ali atrasadas por preguiça; talvez um pouco por desleixo, um descuido, mas igualmente por um esforço de superar esse desleixo, que infelizmente não produziu os melhores resultados.
Face a este desaire não
podemos encontrar melhor explicação que as palavras dirigidas ao Anjo da Igreja
de Éfeso no livro do Apocalipse: “tenho uma coisa contra ti, abandonastes o teu
primitivo amor” (Ap 2,4).
Por causa deste
abandono é que o Esposo as não conhece ou reconhece, por causa deste abandono é
que na noite as candeias se começaram a apagar por falta de azeite. E como se isto
não bastasse, foram ainda pela noite à procura de alguém que lhes fornecesse o
azeite em falta, o amor perdido.
A recusa à partilha do
azeite, por parte das outras cinco virgens, não é assim uma falta de caridade,
uma demonstração de egoísmo, mas apenas a explicitação de que o amor primeiro é
único, pessoal, intransmissível. Ainda que chamado a iluminar na noite, a
iluminar o caminho do outro, não pode ser partilhado senão nessa mesma luz, o
brilho que produz.
E neste sentido,
podemos perguntar-nos se aquelas cinco virgens insensatas não teriam entrado no
banquete se não se tivessem afastado, se não teriam lucrado em permanecer,
ainda que sem azeite mas iluminadas pela luz do azeite das outras cinco
virgens.
Um pergunta que não tem
resposta possível face à mensagem da parábola, que apenas nos quer colocar em
sentido face ao amor primeiro e à necessidade de permanecer nele e o cuidar.
Tarefa verdadeiramente
urgente e necessária, face às palavras da mensagem ao Anjo da Igreja de Éfeso: “conheço
as tuas obras, as tuas fadigas e a tua constância; sei também que não podes
tolerar os malvados e que pusestes à prova os que se dizem apóstolos, mas não o
são, e os achastes mentirosos; tens constância, sofrestes por causa de mim e
não perdeste a coragem; mas no entanto abandonastes o teu amor primitivo”.
Tudo se pode suportar,
todas as obras se podem fazer, mas sem o amor primeiro, o amor que dá razão e
sentido a tudo, nada vale, tudo é como candeias sem azeite que ilumine a noite
e a espera.
Ilustração: “Parábola
das dez virgens”, de William Blake, Tate Galery, Londres.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarOnde se situa cada um de nós nesta parábola, Frei José Carlos? é a pergunta que sou levada a fazer-me depois de reflectir sobre o texto. Como Jesus disse aos discípulos é preciso estar vigilante, porque não sabemos o dia e a hora em que nos chega. Estamos sempre de passagem, como peregrinos que somos, a caminho do Senhor com amor.
Como nos salienta no texto da Meditação ...” Tudo se pode suportar, todas as obras se podem fazer, mas sem o amor primeiro, o amor que dá razão e sentido a tudo, nada vale, tudo é como candeias sem azeite que ilumina a noite e a espera.”…
Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, profundas, que nos desinstalam, pela sabedoria que nos transmitem, pela ilustração tão bela, por recordar-nos que …” a mensagem da parábola, apenas nos quer colocar em sentido face ao amor primeiro e à necessidade de permanecer nele e o cuidar.”…
Que o Senhor o ilumine, o abençõe e o guarde entre nós e que as nossas humildes orações a Jesus ajudem o Frei José Carlos a restabelecer-se prontamente.
Bom descanso.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva