sábado, 11 de agosto de 2012

Senhor tem compaixão do meu filho (Mt 17,15)

Como é bela e rica a fé dos homens simples, daqueles que são capazes de se ajoelhar diante de Jesus e pedir compaixão, por si ou pelos outros. Neste caso é um pai que pede a Jesus pelo seu filho epiléptico.
Um filho que frequenta acidentalmente os elementos da morte como a água e o fogo, nos quais corre o perigo de se perder para sempre. Simbolicamente este filho é já quase um morto, um perdido sem salvação, de que a etiqueta de possesso é apenas uma reverberação.
E o pai, na sua humildade e pobreza, na sua necessidade recorre a Jesus, depois de ter pedido a ajuda dos discípulos e estes não terem feito nada. A fé do pai, a fé do que pede compaixão, não tinha equivalência à fé daqueles a quem recorria, aos discípulos que ainda tinham muito que aprender e crescer.
Jesus é implacável com eles, com a sua incredulidade e perversidade, com a falta de fé que lhes impede e inviabiliza a realização das coisas impossíveis. Eles que aspiravam a tantas coisas não tinham fé, nem do tamanho de um grão de mostarda.
Como poderiam chegar ao que desejavam, mesmo que turvados pela avareza do poder, se não tinham fé, se não acreditavam que o pouco e miserável que desejam era possível e estava ao alcance.
E como num reverso de medalha Jesus responde ao pedido daquele pai, tem compaixão dele e do seu filho, pois na sua simplicidade e na sua desgraça acreditara que Jesus lhe podia fazer alguma coisa, mesmo que pequena. Jesus podia ter compaixão do filho quase morto.
Também nós necessitamos ajoelhar-nos diante de Jesus, com simplicidade e humildade, confiantes, e na nossa ainda pouca fé pedir-lhe: “tem compaixão Senhor”, cura-nos das nossas fraquezas e fragilidades, liberta-nos das regiões da morte onde perece a vida que nos destes. Tem compaixão Senhor!

Ilustração: “Cristo chorando por Jerusalém”, de Ary Scheffer, Walters Art Museum.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    “A fé remove montanhas”, frase que ouvimos e proferimos sem verdadeiramente estarmos, por vezes, conscientes do que estamos a pronunciar. A fé como dom, graça de Deus que nos ajuda a ultrapassar os nossos limites humanos é um primeiro passo para o encontro com Deus. Como Jesus disse aos discípulos e a cada um de nós ...”Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: 'Muda-te daqui para acolá’, e ele há-de mudar-se; e nada vos será impossível.”
    Grata, Frei José Carlos, pela partilha da Meditação que nos leva à nossa própria instropecção, por salientar-nos que …”Também nós necessitamos ajoelhar-nos diante de Jesus, com simplicidade e humildade, confiantes, e na nossa ainda pouca fé pedir-lhe: “tem compaixão Senhor”, cura-nos das nossas fraquezas e fragilidades, liberta-nos das regiões da morte onde perece a vida que nos destes. Tem compaixão Senhor!”
    Que o Senhor aumente a nossa fé para que não duvidemos do amor de Deus por todos nós, em especial, nos momentos mais difíceis quando tudo parece vacilar, quando as candeias não têm azeite ou quando nos dispersamos no nosso peregrinar.
    Que o Senhor ilumine, abençoe e guarde o Frei José Carlos.
    Votos de um bom domingo, com paz interior, com força para vencer os obstáculos necessários, com alegria.
    Bom descanso.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

    P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe um poema de Frei José Augusto Mourão, OP

    os relógios da fé



    a nós que agora vemos em espelho/aguardando o face a face do teu Dia/que o fogo do mal não nos devore os olhos/
    nem a ira queime a compaixão que falta/mas que a tua paz nos mostre o possível do mundo/
    o amanhecer da graça e da beleza//

    que não recuemos diante da tua sombra/nem nos contem as horas os relógios da fé//

    dá a vigilância e o fervor à nossa vida/a atenção ao escondido da esperança/e a resistência às tentações
    da transparência/para o instante e o agora do mundo//

    (In, “O nome e a Forma”, Pedra Angular, 2009)

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