Terminada
a apresentação das diversas parábolas e da explicação aos discípulos, em
privado, do que elas significavam, Jesus interroga os mesmos discípulos sobre a
compreensão do que lhes tinha sido dito. Que entendestes de todas estas coisas?
Pergunta
urgente e necessária, pois aquilo que Jesus tinha dito não se afastava da
tradição, da lei, da própria experiência que podiam ter das diferentes
realidades humanas, afinal Jesus não tinha vindo revogar a lei, mas completá-la
e aperfeiçoá-la.
Contudo,
e por causa desta mesma perfeição, aquilo que Jesus tinha dito era uma novidade,
exigia uma nova atenção e uma outra percepção, exigia novas experiências e
outras leituras, quer da lei, quer da tradição e das diversas realidades
humanas.
Afinal,
como na rede da pesca, que eles muito bem conheciam, apareciam coisas boas e
más, peixes bons e peixes impróprios para consumo, e cada um sabia fazer a
destrinça do que tinha que ser jogado no cesto para consumo e o que devia ser
devolvido ao mar.
Naturalmente,
e pela mesma experiência da pesca, podiam proceder ao discernimento do que era
bom e era mau, do que podia ser aproveitado e devia ser rejeitado.
Diante
das parábolas e da globalidade do ensinamento de Jesus também eles podiam e
deviam fazer esse discernimento sobre o que continuava válido e o que
radicalmente devia mudar. Havia coisas boas que se deviam manter e outras que
eram novas e deviam ser assumidas.
Também
hoje, e para cada um de nós, se coloca a mesma questão, e tal como os discípulos
somos convidados a discernir e perceber o que é válido e se deve manter e o que
é novo e deve ser aceite e assumido.
Questão,
ou processo difícil, na medida em que é muito mais fácil mantermo-nos naquilo
que conhecemos e nos dá segurança, naquelas realidades que já se transformaram
em rotinas e portanto não exigem nada mais que um mecanicismo de resposta.
No
entanto, Jesus não deixa de nos avisar, de nos colocar em estado de alerta face
a estes fixismos, porque “o escriba que se tornou discípulo do Reino dos Céus
tira coisas novas e velhas do seu tesouro”.
O
tesouro do discípulo do Reino é assim um depósito de tradição e experiências,
mas também uma abertura e disponibilidade ao novo, ao que está em nascimento ou
revolução.
Necessitamos,
portanto de compreender, de procurar compreender o que o Senhor nos quer dizer,
o que nos pede onde nos coloca e face aos desafios que se nos apresentam. O seguimento
de Jesus é um processo, um processo relacional multidireccional que não é compatível
com uma resposta cabal e definitiva.
Seguir
Jesus, ser seu discípulo, é estar em processo, a caminho, num estado de aptidão
a dar sempre uma resposta, uma razão da nossa esperança, como nos desafia a
Carta de São Pedro.
Ilustração:
“Refeição de Jesus com os discípulos”, de James Tissot. Brooklyn Museum.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarComo nos afirma ...” O tesouro do discípulo do Reino é (…) um depósito de tradição e experiências, mas também uma abertura e disponibilidade ao novo, ao que está em nascimento ou revolução.
Necessitamos, portanto de compreender, de procurar compreender o que o Senhor nos quer dizer, o que nos pede onde nos coloca e face aos desafios que se nos apresentam. O seguimento de Jesus é um processo, um processo relacional multidireccional que não é compatível com uma resposta cabal e definitiva.”…
Como o Frei José Carlos nos salienta é uma ...” Questão, ou processo difícil, na medida em que é muito mais fácil mantermo-nos naquilo que conhecemos e nos dá segurança, naquelas realidades que já se transformaram em rotinas e portanto não exigem nada mais que um mecanicismo de resposta.”…
Bem-haja por recordar-nos que …”Seguir Jesus, ser seu discípulo, é estar em processo, a caminho, num estado de aptidão a dar sempre uma resposta, uma razão da nossa esperança, como nos desafia a Carta de São Pedro.”
Grata, Frei José Carlos, pela partilha da Meditação, profunda, que nos desinstala, por fazer-nos reflectir sobre os nossos egoísmos, a facilidade com que nos instalamos, por afirmar-nos que ...” tal como os discípulos somos convidados a discernir e perceber o que é válido e se deve manter e o que é novo e deve ser aceite e assumido.”
Que o Senhor o ilumine, abençõe e proteja.
Votos de um bom dia e de um bom fim-de-semana, de descanso, com alegria.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva
P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe o texto de uma oração.
O CAMINHO
PARA A
LIBERDADE
Tu, Sabes, Senhor, que o caminho para a liberdade não é um caminho fácil. Libertarmo-nos
da opacidade do nosso egoísmo, sacudirmos a teia ambígua das nossas dependências, buscar
a verdade em todas as situações e confrontar-se com ela, não se faz sem luta interior, sem so-
frimento. Muitas vezes nos sentimos a atravessar desertos que se prolongam. Não faltarão
mesmo momentos em que a vontade pesa, quase a ponto de desistir. Mas faltar à chamada
da liberdade é romper a aliança com a plenitude para a qual incessantemente nos convocas.
(In, Um Deus Que Dança, Itinerários para a Oração, José Tolentino Mendonça, 2011)