A uma pergunta ousada da parte dos discípulos, de alguma forma até uma
pergunta interesseira, Jesus responde surpreendentemente com uma humilde
criança que coloca diante dos discípulos. Se alguém quiser ser grande no Reino
do Céu deve ser como uma criança.
Proposta inusitada, envolta num certo enigma, porque a criança não é ninguém,
é um sem direitos e um sem estatuto. Como apresentar como modelo para entrar no
Reino do Céu uma criança?
E se temos em conta a perversidade, uma certa maldade que encontramos
nas crianças, e que tantas vezes nos deixa perplexos, como aceitar ser como uma
criança para entrar no Reino do Céu?
Contudo, à pergunta dos discípulos é uma criança que Jesus apresenta,
é um ser criança que Jesus propõe como caminho e processo.
Um ser criança que não significa ser infantil, inconsciente, irresponsável,
mas um ser criança na sua autenticidade, na sua espontaneidade, na alegria de
se saber amada e amar. Um ser criança que está atenta, é curiosa, vive sedenta
de experimentar e conhecer.
Um ser criança à semelhança do próprio Jesus, que de coração simples e
humilde reconhece a dependência e o amor do Pai, que vive em íntima união com o
Pai, que deixou tudo para ser amigo e irmão dos homens, para alcançar uma família
mais alargada.
Tornar-se como criança, como a criança que Jesus apresenta, é
tornar-se como ele, é assumir em humildade a filiação divina, uma missão junto
dos irmãos, uma existência sem sentido fora da órbita do amor do Pai.
Neste sentido, Jesus precede-nos no ser criança, mostra-nos como
devemos em verdade ser crianças para entrarmos no Reino do Céu. E para tal,
inevitavelmente, necessitamos converter-nos, necessitamos alterar bastantes
coisas na nossa vida, abrir o nosso coração pequenino ao dom de Deus que nos
transforma.
Um coração aberto, humildemente entregue ao amor e ao que ele pode
fazer, é assim o desafio do ser criança. Peçamos ao Senhor a graça de o ser.
Ilustração: “Jesus e a criança”, de James Tissot, Brooklyn Museum.
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