terça-feira, 14 de agosto de 2012

Se não vos tornardes como as crianças não entrareis no Reino do Céu. (Mt 18,3)

A uma pergunta ousada da parte dos discípulos, de alguma forma até uma pergunta interesseira, Jesus responde surpreendentemente com uma humilde criança que coloca diante dos discípulos. Se alguém quiser ser grande no Reino do Céu deve ser como uma criança.
Proposta inusitada, envolta num certo enigma, porque a criança não é ninguém, é um sem direitos e um sem estatuto. Como apresentar como modelo para entrar no Reino do Céu uma criança?
E se temos em conta a perversidade, uma certa maldade que encontramos nas crianças, e que tantas vezes nos deixa perplexos, como aceitar ser como uma criança para entrar no Reino do Céu?
Contudo, à pergunta dos discípulos é uma criança que Jesus apresenta, é um ser criança que Jesus propõe como caminho e processo.
Um ser criança que não significa ser infantil, inconsciente, irresponsável, mas um ser criança na sua autenticidade, na sua espontaneidade, na alegria de se saber amada e amar. Um ser criança que está atenta, é curiosa, vive sedenta de experimentar e conhecer.
Um ser criança à semelhança do próprio Jesus, que de coração simples e humilde reconhece a dependência e o amor do Pai, que vive em íntima união com o Pai, que deixou tudo para ser amigo e irmão dos homens, para alcançar uma família mais alargada.
Tornar-se como criança, como a criança que Jesus apresenta, é tornar-se como ele, é assumir em humildade a filiação divina, uma missão junto dos irmãos, uma existência sem sentido fora da órbita do amor do Pai.
Neste sentido, Jesus precede-nos no ser criança, mostra-nos como devemos em verdade ser crianças para entrarmos no Reino do Céu. E para tal, inevitavelmente, necessitamos converter-nos, necessitamos alterar bastantes coisas na nossa vida, abrir o nosso coração pequenino ao dom de Deus que nos transforma.
Um coração aberto, humildemente entregue ao amor e ao que ele pode fazer, é assim o desafio do ser criança. Peçamos ao Senhor a graça de o ser.


Ilustração: “Jesus e a criança”, de James Tissot, Brooklyn Museum.

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