segunda-feira, 13 de agosto de 2012

De quem recebem os reis da terra impostos ou tributos? (Mt 17,25)

Ao lermos o episódio do encontro de Jesus e dos seus discípulos com os cobradores de impostos em Cafarnaum e a ordem dada a Pedro de pagar a didracma por ele e por Jesus, não podemos deixar de nos maravilhar com a condição e o estatuto em que Jesus nos coloca.
A didracma era um imposto religioso, uma contribuição que todo o varão do povo de Israel devia liquidar para a sustentação do templo de Jerusalém. Um imposto que era devido não só aos que habitavam no país, mas igualmente àqueles que viviam no estrangeiro, um imposto que funcionava portanto como um meio de identificação e relação.
Pedro, ao ser abordado pelos cobradores sobre o pagamento do imposto por parte de Jesus, está a servir de veículo para a inclusão de Jesus no sistema estabelecido, na identificação e na relação com as estruturas de identidade. O pedido do imposto funciona assim como um mecanismo de subjugação da pessoa de Jesus à normatividade da lei.
E é face a esta manobra, e na sequência da transfiguração que tinha acabado de acontecer, que Jesus coloca a Pedro a questão da obrigatoriedade do pagamento de impostos e contributos. Depois de terem contemplado a transfiguração no monte Tabor, de Jesus lhes ter anunciado que o Filho do Homem deveria ser entregue nas mãos dos homens mas ressuscitaria ao terceiro dia, que obrigação tinha ele de pagar o imposto?
Face ao que tinham contemplado e ao que lhes tinha sido anunciado, o imposto era totalmente obsoleto, estava completamente fora de questão. Contudo, e como Jesus bem diz a Pedro, é preferível pagá-lo para que não se escandalizem.
E numa construção simbólica do que verdadeiramente estava em jogo, e do alto preço a pagar, Jesus ordena a Pedro que vá pescar e procure na boca do primeiro peixe a moeda para pagar a didracma pelos dois.
O peixe e a moeda remetem inevitavelmente para o profeta Jonas e para os três dias que tinha estado no ventre da baleia, e analogicamente para a morte de Jesus e a ressurreição que há-de acontecer e ser o verdadeiro pagamento. Jesus pagará o imposto devido por si e por Pedro, por toda a humanidade, ele é a verdadeira moeda de pagamento.
A pergunta que Jesus coloca a Pedro sobre o dever de pagamento, e a identificação da verdadeira moeda do pagamento, interpelam-nos na forma como nos relacionamos com Deus, e na imagem que construímos de Deus.
De facto, o Deus em que acreditamos e com o qual nos relacionamos é um cobrador de impostos, um opressor que reclama os seus direitos, ou pelo contrário um Deus que é Pai e pagou já no seu Filho muito amado todas as nossas dívidas e contribuições? Se acreditamos num Deus fiscal nunca chegaremos a pagar o que lhe é devido, os impostos crescem cada dia, mas se acreditamos num Deus que nos afiança podemos caminhar tranquilos quanto ao pagamento.  
Jesus Cristo é o nosso fiador diante do Pai e por isso espera apenas que administremos com responsabilidade as riquezas e tesouros que nos pertencem, que nos foram deixadas da herança para que produzam e se multipliquem. Necessitamos por isso esforçar-nos para tal.

Ilustração: “Pormenor do pagamento do tributo”, fresco de Masaccio, na Capela Brancacci, Florença.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,


    O texto da Meditação que teceu é profundo, belo. A beleza do pormenor do fresco que escolheu para ilustrar a partilha ajuda a elevar-nos espiritualmente. Bem-haja. É a nossa vida espiritual que nos leva a questionar, a qualidade da nossa relação com Deus. Como nos afirma ...” A pergunta que Jesus coloca a Pedro sobre o dever de pagamento, e a identificação da verdadeira moeda do pagamento, interpelam-nos na forma como nos relacionamos com Deus, e na imagem que construímos de Deus.”(…)
    Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, por recordar-nos os nossos compromissos que são infinamente menores quando comparados com a entrega de Jesus até à morte pela salvação da humanidade inteira e que ...” Jesus Cristo é o nosso fiador diante do Pai e por isso espera apenas que administremos com responsabilidade as riquezas e tesouros que nos pertencem, que nos foram deixadas da herança para que produzam e se multipliquem.”
    Que o Senhor ilumine, abençoe e guarde o Frei José Carlos.
    Continuação de boa recuperação. Bom descanso.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

    ResponderEliminar