segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Jesus transfigurou-se diante deles. (Mc 9,2)

Ao contemplarmos o mistério da transfiguração de Jesus ficamos muitas vezes com a impressão que foi um acontecimento único, um acontecimento reservado apenas àquele pequeno grupo de discípulos, composto por Pedro, Tiago e João.
Diante deste acontecimento tão privado, repetimos no nosso íntimo como seria bom ter estado ali, como gostaríamos de ter partilhado daquela visão de Jesus.
E com este desejo esquecemos como rapidamente à luz da visão se seguiu a escuridão da sombra, se seguiram as trevas da não visão.
Face a este facto descobrimos que estamos assim perante algo mais que um mero acontecimento, que um privilégio espectacular reservado apenas àqueles três discípulos.
E podemos mesmo interrogar-nos sobre o que verdadeiramente viram aqueles três homens, porque o mistério da transfiguração não é um acontecimento mas um processo, um processo de vida no qual todos estamos inseridos.
O mistério da transfiguração de Jesus, com o que comporta de luz e trevas, é afinal a imagem do nosso peregrinar em busca de Deus, da nossa busca de Deus, marcada por trevas e pequenos pontos de luz que nos alentam a continuar.
A noite da nuvem e a luz da roupa mais branca constituem a nossa busca espiritual, uma busca que nos desafia num movimento de aceitação de que vemos mais quando não vemos do que quando pensamos que vemos.
Necessitamos por isso aceitar, com humildade, que para ver, que para ter acesso à luz da glória é necessário frequentar a sombra da noite, a noite escura, em que o Senhor se revela e vem ao encontro daqueles que o buscam apaixonadamente.
Como tão belamente canta São João da Cruz: “Bem sei eu a fonte que mana e corre, mesmo sendo noite. É claridade nunca escurecida. E sei que toda a luz dela é nascida. Mesmo sendo noite!

Ilustração: “Transfiguração”, de Fra Angélico, Museu Convento de São Marco de Florença.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Bem-haja por salientar-nos que ...” O mistério da transfiguração de Jesus, com o que comporta de luz e trevas, é afinal a imagem do nosso peregrinar em busca de Deus, da nossa busca de Deus, marcada por trevas e pequenos pontos de luz que nos alentam a continuar. (…)
    Grata pela partilha do texto da Meditação que teceu e que é profundo e muito belo, por exortar-nos a ...” aceitar, com humildade, que para ver, que para ter acesso à luz da glória é necessário frequentar a sombra da noite, a noite escura, em que o Senhor se revela e vem ao encontro daqueles que o buscam apaixonadamente.”…
    Que o Senhor o ilumine, o guarde e o abençoe e nos dê a oportunidade de lê-lo e escutá-lo.
    Bom descanso.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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