sexta-feira, 24 de agosto de 2012

De onde me conheces? (Jo 1,48)

Natanael é um bom israelita, como diz Jesus, “um verdadeiro israelita no qual não se encontra fingimento”. Como verdadeiro israelita espera a vinda do Messias, procura Deus nas Escrituras, na Lei que conhece desde o berço e que procura viver com fidelidade.
Poderíamos dizer que é um sábio de Israel, um daqueles homens que a Escritura tanto louva pela sua fidelidade e busca do Senhor.
Contudo, não é ele que encontra o Messias, mas é o Messias que o encontra a ele, primeiro no anúncio de Filipe e depois no encontro face a face. Deus vem ao seu encontro, em resposta da sua busca, e vem de uma forma inusitada, inesperada.
E como se a situação não fosse já só por si estranha, o Messias é o filho de José de Nazaré, ao encontrarem-se pela primeira vez, aquele Jesus manifesta-lhe um conhecimento da sua pessoa e da sua vida que ninguém podia possuir.
Em contrate com todo o conhecimento que Natanael possuía sobre o Messias, sobre a pessoa e a missão do prometido, Jesus revela-lhe um conhecimento superior da sua intimidade, da sua pessoa, um conhecimento que desarma Natanael e arrasa as suas questões sobre a natureza de Jesus.
Natanael conhecia o Messias prometido pela letra da lei e da leitura dos profetas, Jesus conhecia Natanael pela natureza da sua busca e pela sua fidelidade. Um conhecia de ouvir falar ou de ler, enquanto o outro conhecia o coração e o desejo.
E é perante o conhecimento manifestado por Jesus que Natanael se vê obrigado a reconhecer a sua ignorância, a sua falta de conhecimento verdadeiro do Messias que esperava. Ao conhecimento da inteligência Natanael é convidado a juntar a sabedoria do coração, a converter a palavra morta dos pergaminhos em palavra viva do coração.
Tal como aconteceu com Natanael também Jesus vem ao nosso encontro, vem dar resposta às nossas buscas. Devemos perguntar-nos se estamos dispostos, se aceitamos que também a nós ele nos diga que nos conhece na nossa intimidade, porque aceitar tal conhecimento implica olhar de frente as nossas fidelidades e infidelidades e proclamar como Natanael “tu és o filho de Deus”.
Ousemos portanto o encontro com Jesus, a manifestação do seu conhecimento de nós próprios, para podermos encontrar-nos com a verdade da sua divindade e da sua obra salvadora em nós.
 
Ilustração: “São Bartolomeu”, de Rembrandt, Museu Paul Getty, Los Angeles.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    No dia em que celebrámos a festa do Apóstolo São Bartolomeu, bem-haja por recordar-nos que ...” Tal como aconteceu com Natanael também Jesus vem ao nosso encontro, vem dar resposta às nossas buscas.”… Mas Frei José Carlos vai mais longe, levando-nos a auto-examinar-nos … ” a perguntar-nos se estamos dispostos, se aceitamos que também a nós ele nos diga que nos conhece na nossa intimidade, porque aceitar tal conhecimento implica olhar de frente as nossas fidelidades e infidelidades e proclamar como Natanael “tu és o filho de Deus”.”…
    Grata, Frei José Carlos, pela partilha profunda, maravilhosamente ilustrada, por exortar-nos a …”ousar o encontro com Jesus, a manifestação do seu conhecimento de nós próprios, para podermos encontrar-nos com a verdade da sua divindade e da sua obra salvadora em nós.”
    Que o Senhor o ilumine, abençõe e guarde. Votos de um bom fim-de-semana com confiança e esperança.
    Bom descanso.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

    P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe de novo o texto de uma oração.


    VISITE-NOS SENHOR A TUA ALEGRIA

    Visite-nos, Senhor, tua alegria. Seja ela o dom que sustém esta hora da nossa vida.
    Tenha o poder de reedificar o caído, de aclarar a tenda que a noite atribulou, de unir aquilo que a tristeza ou o cansaço interromperam. Seja ela o sinal da leveza com que nos vês, a carícia que nos estendes no tempo, o assobio que inaugura as tréguas. Dá-nos, Senhor, neste dia, a alegria como alento revitalizador. Inscreva ela em nós o sabor da vida abundante e multiplicada; perfume cada um dos nossos gestos
    com o outono dos frutos; traga às nossas palavras a luz com que as folhas douram e avermelham os caminhos de uma repentina doçura.

    (In, Um Deus Que Dança, Itinerários para a Oração, José Tolentino Mendonça, 2011)

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