No dia em que terminam os Jogos Olímpicos de
Londres de 2012 acabo de ficar conhecedor de mais uma história surpreendente em
que os dominicanos estiveram envolvidos, a história dos próprios Jogos Olímpicos.
Já tinha escutado outras, faz parte da iniciação na
mística e no “glamour” da Ordem de São Domingos, mas tenho que confessar que
desconhecia completamente esta, e me dá imenso gozo, nomeadamente pelo prazer
que desfrutei em alguns dos últimos dias vendo as transmissões de diversas
provas olímpicas.
E como tudo começa num princípio, tudo começou em
1832, perto de Grenoble, no Seminário Menor de Rondeau. Ali, nesse também ano bissexto,
foram recriados os jogos olímpicos antigos, através de provas desportivas que
procuravam colocar em valor a cultura clássica grega.
Organizados pelos alunos do Seminário, os jogos possuíam
já um Código Olímpico, uma cerimónia de abertura e outra de encerramento,
provas individuais e entrega de medalhas aos melhores classificados. E de
quatro em quatro anos voltavam a realizar-se.
Em 1855 um jovem aluno destaca-se pelo seu espirito
olímpico e pelo conjunto de vitórias e medalhas alcançadas. Chamava-se Henri Didon,
tinha quinze anos, e no ano seguinte de 1856 receberia o hábito na Ordem dos
Pregadores.
Ordenado padre torna-se um pregador conhecido e reconhecido,
amigo de Flaubert, Maupassant e Pasteur, figuras de proa da cultura francesa do
século XIX. Algumas ideias do seu pensamento e da sua pregação não são aceites
pela hierarquia da Igreja francesa, o que lhe provoca o exílio durante um ano
na ilha de Córsega.
Em 1890, ano da publicação do seu best-seller
internacional “A Vida de Jesus”, foi nomeado Director da Escola Dominicana de
Arcueil, perto de Paris e ali instaura os jogos que tinha conhecida na sua
juventude no Seminário de Rondeau.
No ano seguinte, 1891, encontra-se com Pierre de
Coubertin que lhe pede a colaboração na organização de um torneio desportivo
entres escolas católicas e laicas.
O Padre Didon lança-se então na aventura das competições
e nesse mesmo ano e para o primeiro torneio cria a divisa que ainda hoje marcam
os Jogos Olímpicos, “citius, altius, fortius”, “mais rápido, mais alto, mais
forte”.
A divisa criada pelo Padre Didon foi a divisa do
primeiro Congresso Olímpico celebrado em 1894. Em 1896, no Congresso Olímpico
de Atenas, na celebração da Eucaristia, o seu génio oratório inspirou-o a
proferir a famosa expressão, “o importante não é ganhar, mas é participar”.
Até à data da sua morte em 1900 foi um incansável viajante
e um apóstolo dos seus princípios pedagógicos. Aos pais dos alunos dizia: “ se
preferis um sistema de educação passiva, não esqueçais as suas insuficiências, e
recordai-vos que há mais glória em formar um homem livre e de forte iniciativa
que cem homens dóceis e incapazes de se conduzirem por si mesmos”. Aos jovens atletas
dizia: “na vida não são as pernas que vos poderão trair mas a falta de ambição”.
Pierre de Coubertin guardará da colaboração com o
Padre Didon, frade dominicano, educador vigoroso e pouco convencional, um
projecto audacioso de formação humana que passa pelo desporto e a competição,
mas ao qual não pode faltar nem a liberdade, nem a criatividade, e nem o
encontro para lá de todas as fronteiras.
Ao visionar a cerimónia do encerramento dos Jogos Olímpicos,
com tanta cor e alegria, tantos atletas e bandeiras das mais diversas
representações, como não ficar emocionado sabendo que num determinado momento
da história estivemos ali marcando a diferença e colaborando na construção de
um mundo melhor.
Ao contemplar os cinco anéis coloridos, que desde os
Jogos de Anvers de 1920 simbolizam o ideal olímpico, como não orgulhar-se por
também ali estar presente o espirito de São Domingos.
Afinal os Jogos Olímpicos também são Dominicanos!
Ilustração:
1 – Fotografia do Padre Frére Henri Didon.
2 –Fotografia da tatuagem de atleta dos Jogos
Olimpicos de Londres de 2012 com a divisa “citius, altius, fortius”.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarFoi com interesse e alegria que li o texto que preparou sobre “Os Dominicanos e os Jogos Olímpicos”. Como o frade e padre dominicano Henri Didon afirmou em 1896, “o importante não é ganhar, mas é participar”. E esta máxima, Frei José Carlos, é extensível a múltiplas actividades …
Grata, Frei José Carlos, pela partilha, pelo entusiamo e emoção que revela nas palavras partilhadas e que nos toca de forma especial, por salientar-nos que … “Pierre de Coubertin guardará da colaboração com o Padre Didon, frade dominicano, educador vigoroso e pouco convencional, um projecto audacioso de formação humana que passa pelo desporto e a competição, mas ao qual não pode faltar nem a liberdade, nem a criatividade, e nem o encontro para lá de todas as fronteiras.”…
Que o Senhor ilumine, abençoe e guarde o Frei José Carlos. Votos de uma boa semana.
Bom descanso.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva