Paradoxo desafiante
aquele que Jesus nos coloca e colocou aos seus discípulos depois de ter entrado
de forma gloriosa em Jerusalém, “quem ama a sua vida perdê-la-á e quem despreza
a sua vida neste mundo guardá-la-á para a vida eterna”.
Não é Senhor a vida o nosso maior dom? Não é pela vida que lutamos? Não é a vida o nosso dom mais precioso? E contudo, Senhor, convidas-nos a perdê-la, a desprezá-la… Como é possível Senhor que nos peças tal coisa?
Perder a vida para a ganhar, perdê-la a partir da forma que mais nos apetece, que nos aprisiona a uma única dimensão física e histórica, para ganhá-la em ti e por ti.
Perder a vida, porque recusar esta morte de nós próprios é viver de alguma forma uma vida mutilada, é viver uma vida pobre, limitada a um único modo.
Perder a vida como tu a perdestes, entregando-a nas mãos do Pai, do verdadeiro Senhor da Vida, perder a vida em oferta de amor, renunciando a uma posse para a transformar em dom.
Perder a vida limitada, frágil, condicionada a tantas realidades, para a viver de forma plena em ti, no dom que fizestes da tua própria vida eterna a cada um de nós.
Perder a vida como o grão de trigo, que se desintegra na escuridão da terra, se desfaz em si mesmo no féretro do pó, para germinar e crescer, libertar a força que o habita e dar origem a uma nova planta e a novos frutos, outros grãos para a vida.
Não é fácil Senhor, porque esta vida que conhecemos nas suas limitações e fragilidades é ainda assim apetecível, dá-nos ainda a ilusão de um futuro e alguma construção, um fruto ilusório que depende das nossas mãos.
Vem Senhor em nosso auxílio, libertar-nos desta ilusão e destes apetites, conduzir-nos à vida plena que nos ofereces, seduzir-nos no nosso desejo de viver.
Ilustração: “Ecce Homo”, de Caravaggio, Palazzo Rosso, Génova.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarHoje ao final da tarde quando passei no blog e li o texto da Meditação que partilha ocorreu-me um pensamento que tivera no intervalo curto do almoço quando reflectia sobre o porquê da tristeza, da insatisfação, sem explicação aparente, quando afinal olhava o azul do firmamento, a luminosidade do dia, o sentir-me no caminho que livremente escolhi que é o do seguimento da Palavra do Senhor e que devia conferir-me um sentimento de alegria.
O texto da Meditação que teceu é directo no diálogo com o Senhor, misto de prosa e poesia, de profunda espiritualidade. Emocionou-me verdadeiramente e deixou-me a reflectir, sentindo como o Frei José Carlos afirma, que Jesus desafia-nos quando diz aos discípulos e a todos nós “quem ama a sua vida perdê-la-á e quem despreza a sua vida neste mundo guardá-la-á para a vida eterna”.
Como nos afirma é difícil cumprirmos, perguntando-me, se para o homem, não é necessário conseguir uma forma de equilíbrio, que nos dê alguma estabilidade emocional e espiritual, cientes que as recusas são muitas e permanentes, mas há a satisfação naquilio em que podemos ser úteis ao nosso próximo, ao nosso irmão, sabendo administrar e pôr a render os dons que o Senhor nos concedeu, os talentos que nos ofereceu. Somos mais úteis do que nos julgamos, em certos momentos da vida, Frei José Carlos. Só Deus nos pode julgar e perdoar. É importante saber valorizar o essencial e acabo de lembrar-me da oração que o Gaspar adaptou e que o Frei José Carlos partilhou connosco e que está numa pequenina fotocópia que trago comigo e que rezo com frequência.
O Senhor não nos abandona, Frei José Carlos, e ilumina-nos nos caminhos a seguir. Que o Senhor o ilumine, abençoe e proteja e dê ao irmão a paz e a serenidade para sentir a alegria na vida que abraçou.
Bom descanso. Votos de um bom fim-de-semana.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva