sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Foi por causa da dureza do vosso coração (Mt 19,8)

Trata-se de um debate sobre o direito de repudiar uma mulher, um debate promovido pelos fariseus que, mais que encontrar a verdade, estão interessados em apanhar Jesus numa armadilha.
Jesus responde à provocação confrontando os fariseus com o fundamento da Lei, com os princípios ancestrais e anteriores à mesma Lei, os princípios da obra da criação patentes no livro do Génesis. “O homem e a mulher deixarão pai e mãe para se unirem e formarem uma só carne”.
Mas como face à justificação apresentada os fariseus contrapuseram a autoridade do instituidor da Lei, Moisés, Jesus viu-se obrigado a confrontá-los com a verdade que interiormente se recusavam a enfrentar e aceitar, e de que o debate era mais uma manifestação. “Foi a dureza de coração que levou à instituição da Lei”.
Esta resposta e constatação de Jesus contínua actual e suficientemente abrangente para ficarmos indiferentes perante ela, porque se tinha sido a dureza de coração que tinha levado Moisés a instituir uma lei de repúdio, hoje continuamos a escudar-nos no cumprimento de leis e normas para escondermos a dureza do nosso coração, para não nos arriscarmos no desafio da liberdade e da responsabilidade do amor.
Podemos e devemos perguntar-nos sobre muitas coisas que fazemos por mero cumprimento da lei, da obediência a princípios que estabelecemos para não arriscarmos num desconhecido, por medo do desconhecido que se apresenta para lá das normas e preceitos, porque o nosso coração se endureceu e não é já capaz de viver na paixão e na radicalidade do desafio.
Peçamos portanto a Deus o cumprimento da promessa feita através do profeta Ezequiel, que nos liberte do coração de pedra e nos conceda um coração de carne, um coração capaz de amar e arriscar na radicalidade da novidade do outro e do projecto de Deus.

Ilustração: “Rapariga lendo uma carta”, de Johannes Vermeer, Gemäldegalerie Alte Meister, Dresden.

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