sexta-feira, 11 de maio de 2012

Já não vos chamo servos, mas amigos. (Jo 15,15)

No tempo de Jesus falar de servos correspondia falar de escravos, de uma força humana explorada como força de trabalho sem quaisquer direitos ou protecção, sem qualquer reconhecimento para além do trabalho obrigatoriamente realizado.
O servo era aquele que habitava a casa, partilhava até a vida da família, mas não tinha qualquer direito, não lhe era reconhecida nenhuma autonomia, não tinha a possibilidade de ser um outro, alguém com quem se poderia estabelecer uma relação. O servo apenas servia e enquanto servia podia existir.
Ao dizer aos seus discípulos que já não os chamava servos mas amigos, Jesus outorga-lhes uma identidade e uma personalidade que faz deles adultos, homens livres e portanto com a possibilidade de ser amigos. Eles não são já apenas ouvintes da Palavra, servos da lei a que devem obedecer, mas são homens que podem ter uma palavra, que podem estabelecer uma relação, anuir a um convite.
Neste sentido, Jesus faz passar os seus discípulos da Antiga para a Nova Aliança, retira-os da servidão cega da lei para os introduzir numa amizade livre e comprometida, numa relação cujo direito à palavra pessoal é inalienável, num compromisso de acolhimento mútuo.
A amizade é a possibilidade de se dizer, de partilhar, de escutar e acolher, e na proposta de amizade de Jesus estas diversas dimensões realizam-se na gratuidade do dom de Deus, do seu amor por todos os homens. A amizade é uma manifestação do amor de Deus.
Jesus chama-nos assim a uma vocação de amigos, amigos de Deus e amigos dos irmãos, e para vivermos plenamente tal vocação, a amizade em verdade, Jesus revela-nos que o segredo é a gratuidade, manifestada desde o princípio no dom do Filho entregue aos homens.
Todos sabemos como é difícil, se não impossível, viver sem amizade; como os amigos nos fortalecem e vivificam. Mas para que tal aconteça em plenitude necessitamos da amizade de Jesus, a amizade que nos liberta e purifica de todos os nossos egoísmos.
Sê Senhor Jesus o nosso amigo, o nosso grande amigo!

Ilustração: Jantar de peregrinos no Albergue de Navarrete. Caminho de Santiago. 6 de Maio de 2010.

3 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    O texto da Meditação que teceu e partilha é profundo, actual e de grande beleza. No início do texto da Meditação, Frei José Carlos lembra-nos que …”No tempo de Jesus falar de servos correspondia falar de escravos, de uma força humana explorada como força de trabalho sem quaisquer direitos ou protecção, sem qualquer reconhecimento para além do trabalho obrigatoriamente realizado.”…
    Por outro lado, recorda-nos que Jesus … “Ao dizer aos seus discípulos que já não os chamava servos mas amigos, Jesus outorga-lhes uma identidade e uma personalidade que faz deles adultos, homens livres e portanto com a possibilidade de ser amigos. Eles não são já apenas ouvintes da Palavra, servos da lei a que devem obedecer, mas são homens que podem ter uma palavra, que podem estabelecer uma relação, anuir a um convite.
    Neste sentido, Jesus faz passar os seus discípulos da Antiga para a Nova Aliança, retira-os da servidão cega da lei para os introduzir numa amizade livre e comprometida, numa relação cujo direito à palavra pessoal é inalienável, num compromisso de acolhimento mútuo”. …
    Estes excertos da Meditação, levaram-me, Frei José Carlos, se me permite, a reflectir na realidade que vivemos desde sempre, e particularmente, nos últimos anos, nas novas formas de servidão relativas ao uso da palavra e ao desempenho do trabalho em condições de dignidade, das formas subtis de exploração do ser humano, sem qualquer protecção ou direito, que o homem estabeleceu com o seu semelhante, quer em relações de trabalho não qualificado ou qualificado, que são silenciadas porque se desenrolam no seio de cadeias organizadas ou clandestinas ou pelo receio de perder o trabalho. A liberdade, a dignidade que Jesus nos concedeu não existe para estes seres humanos, foi-lhes, é-nos “usurpada”.
    E só os homens livres são capazes de estabelecer uma relação de fraternidade, de amizade gratuita, seja cristã ou não.
    Ao abordar o tema da amizade de Jesus, “libertadora e purificadora dos nossos egoísmos” e também da amizade entre irmãos afirma-nos uma grande verdade que a caminhada da vida nos vai ensinando ...” Todos sabemos como é difícil, se não impossível, viver sem amizade; como os amigos nos fortalecem e vivificam.” …
    Obrigada, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, pela abordagem do tema da amizade de Jesus e também da amizade entre irmãos que é-me particularmente cara, por nos salientar que “Jesus chama-nos assim a uma vocação de amigos, amigos de Deus e amigos dos irmãos, e para vivermos plenamente tal vocação, a amizade em verdade, Jesus revela-nos que o segredo é a gratuidade, manifestada desde o princípio no dom do Filho entregue aos homens.”…
    Peçamos com o Frei José Carlos …”Sê Senhor Jesus o nosso amigo, o nosso grande amigo!”
    Que o Senhor o ilumine e o guarde.
    P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe o texto de uma oração.

    O Dom
    Dos Amigos

    Hoje, Senhor, quero-te dar graças pelo dom dos amigos. Sei que por meio deles te tornas presente à minha vida.
    Reconheço-te, tantas vezes, no seu amor gratuito, na sua presença alegre e incondicional, no modo como tornam
    firmes os fios que estremecem. Reconheço-te num postal que chega ou num email inesperado. Reconheço-te do
    outro lado do telefone, a acenar-me na rua, naqueles dois dedos de conversa que nos permitem sermos nós próprios.

    (In, Um Deus Que Dança, Itinerários para a Oração, José Tolentino Mendonça, 2011)

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  2. Frei José Carlos,

    Li e reli o texto do Evangelho de São João,é expectacular,são maravilhosas e profundas as suas palavras,que nos ajudam à nossa Meditação.Fiquei maravilhada com esta beleza que partilhou connosco.A ilustração magnífica a Caminho de Santiago,que muito gostei.Faço minhas as palavras do Frei José Carlos...A amizade é uma manifestação do amor de Deus."Sê Senhor Jesus o nosso amigo,o nosso grande amigo!" Obrigada,Frei José Carlos,por esta riqueza de partilha.Que o Senhor o ajude e o proteja.Votos de uma boa semana.
    Um abraço fraterno.
    AD

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  3. Já conhecia esse versiculo mas estava em duvida pois muita gente fala maldito homem que confia no homem... fala que amigo só Jesus não existe amizade mas este texto prova que Jesus tinha amigos obg....

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