A investigação da história dominicana em Portugal colocou-me nas mãos
uma carta que necessitei datar. Por casualidade, a necessidade de encontrar uma
data para a mesma, conduziu-me ao poema da Madre Teresa Catarina d’Almeida
Correia de Sá que se encontra no livro “Memória das Datas 1866-2002”, página 99.
Ao ler o último verso não pude deixar de sentir uma tristeza imensa, uma
dor enorme, pois profetiza o inacreditável da perda do Ramalhão e
consequentemente o sofrimento e as lágrimas nos olhos das irmãs que hoje mesmo
pude testemunhar ao passar pelo Convento.
Face a esta partilha, uma grande amiga dir-me-á que é já uma batalha
perdida e pela qual não vale a pena lutar. É possível, é o mais provável, mas
pelo carinho e fraternidade que devo àquelas irmãs que choram ou não têm um
ombro no qual chorar, não posso deixar de partilhar o seu sentimento, nem de
acalentar uma réstia de esperança servindo-me para tal das palavras da Madre
Fundadora Teresa de Saldanha:
“Por isso temos que viver na
esperança e continuar, esperando contra toda a esperança, avançando na nossa
obra. Se pudesse calcular o prazer que me dá ao ver quanto bem se pode fazer
através das nossas escolas, compreenderia imediatamente porque é que eu começo
a ficar completamente resignada ao meu destino de trabalhar aqui enquanto Deus
continua a falar-me dessa grande felicidade tão desejada de ser exteriormente
sua esposa verdadeira.”
Carta de Teresa de Saldanha de 8 de Novembro de 1867 ao Director
Espiritual.
Ouvires, ao recreio, falar do Ramalhão,
Recordarás o tempo em que, amimadinha,
Vivias no aconchego do velho casarão…
E que, já esquecidas, te lembram nesse dia.
Tantas Irmãs e Madres… e tanta velha história…
E tanta amizade… e tanta alegria…
Fará de ti, velhinha, noviça outra vez.
Parecer-te-á de novo estares ainda estudando
As Constituições, Escritura ou Francês!
Lá está a portaria, a sala, o dormitório
Tornarás a rezar junto ao “Pai da escada”
E entras, como dantes, no grande refeitório.
Começas, tu também, de novo a salmodiar…
Pela capela abaixo, com passos apressados,
Vês vir a sacristã, contas a tilintar.
Verás que o recreio ainda ali se faz
E ouvirás, de novo, alegres gargalhadas
Como davas também, tantos anos atrás.
Que chama lá da torre, para irem rezar.
Ao ouvir o seu som, será como um amigo
Que após muitos anos, tornas a encontrar…
A vida de noviça, como bela visão…
E quando te falarem, verás que, de repente,
Te custará a crer não estares no Ramalhão!
Poema da Madre Teresa Catarina d'Almeida Correia de Sá
Obrigada pela partilha. Por recordar a M. Fundadora a sua capacidade de esperança e o seu amor às escolas; obrigada por falar na Madre Teresa Catarina que foi minha mestra de Juniorado e faz a previsão do que sentiremos amanhã. Obrigada por lembrar os que choram e os que não têm um ombro amigo para chorar. Obrigada pela amizade.
ResponderEliminarFrei José Carlos,
ResponderEliminarLeio e releio as palavras partilhadas, emociono-me com a dor das irmãs do Ramalhão e de Frei José Carlos pela realidade vivida. Como diz o último verso do poema de Madre Teresa Catarina d'Almeida Correia de Sá afigura-se premonitório. E a “dor de alma”, profunda é mais difícil de serenar, de ver uma réstia de luz quando não se tem um ombro no qual chorar ainda que tenhamos amigos (paradoxal não é, Frei José Carlos?). E se me permite vou colocar algumas questões. Provavelmente haverá razões, mas pergunto que é feito do projecto educativo do colégio, do apoio às crianças mais carenciadas (existem?), das irmãs que dedicaram toda a vida a um projecto em que acreditaram, com provas dadas, eventualmente de outras pessoas que lá trabalham? Com Coimbra não aconteceu o mesmo? Afinal que valor têm as pessoas, os projectos que abraçaram, os espaços que habitam que em determinada fase da vida, são referenciais importantes? Por tudo isto, talvez sem razão, hesitei muito em escrever umas linhas mas não consegui ficar indiferente à dor vivida e tenho esperança que a situação final possa ser diferente.
Que o Senhor dê sabedoria e discernimento a quem pode decidir.
Grata, Frei José Carlos, pela partilha sentida. Que o Senhor abençoe e proteja as irmãs do Ramalhão e o Frei José Carlos.
Bom descanso.
Um abraço fraterno e amigo,
Maria José Silva