Ele levantou-se e seguiu Jesus (Mt 9,9)

Mateus encontrava-se na sua banca de impostos quando Jesus passou e o chamou. Foi ali, exactamente no momento em que havia tantas coisas para fazer, tanto dinheiro para receber dos impostos, uma parte para meter na sua bolsa, o prestígio e o poder a salvaguardar diante daqueles miseráveis que se aproximavam para pagar.

Contudo, diz-nos o Evangelho, Mateus não vacilou, não deixou para mais tarde, e sem muito bem saber porquê levantou-se do seu lugar e seguiu Jesus. Foi amor à primeira vista, uma atracção irresistível.

No processo de seguimento de Jesus, na resposta a dar ao seu convite “Segue-me”, é extremamente importante esta atitude de levantar-se. Seguir Jesus implica levantar-se da sua situação, da sua circunstância, como diria Ortega y Gasset, pois de outro modo não há seguimento.

Neste sentido, é importante observar que a palavra grega original levantar significa igualmente ressuscitar. Levantar-se para seguir Jesus é ressuscitar, é passar da vida velha para a vida nova da graça.

Assim, o banquete que Mateus dá em sua casa e no qual se sentam os publicanos e os pecadores é mais uma manifestação desse abaixamento de Deus para que o homem se possa levantar, para que o homem o possa seguir já não como servo ou desconhecido mas como filho muito amado.

Ao sentar-se ao nível da mesa com os pecadores e publicanos, ao comer com eles e portanto ao partilhar da sua relação, Jesus manifesta que vem para aqueles que necessitam, para aqueles que estão prostrados, para os elevar da sua situação através da misericórdia que lhes manifesta.

Também nós necessitamos levantar-nos, ou pelo menos de retomar o esforço já iniciado de nos levantarmos. Deus vem ao nosso encontro com o seu perdão e a sua ternura, com a sua atracção irresistível. Deixemo-nos por um momento cativar para largar tudo e começar de novo uma vida nova.

 

Ilustração: “A vocação de São Mateus”, de Hendrick ter Brugghen, Museu de Belas Artes de Budapeste.