segunda-feira, 1 de julho de 2013

Segue-me e deixa que os mortos sepultem os seus mortos. (Mt 8,22)

A leitura do Evangelho de São Mateus do dia de hoje apresenta-nos o paralelo do texto do Evangelho de São Lucas que lemos ontem, décimo terceiro domingo do tempo comum. São as propostas de seguimento de Jesus, propostas que face às contrapropostas do Mestre podemos interrogar-nos se tiveram alguma continuidade.
Esta feliz coincidência de leituras permite-nos voltar às respostas de Jesus e de modo particular à resposta sobre deixar os mortos enterrar os seus mortos, uma vez que, de certa forma, é aquela que mais nos choca no conjunto das respostas de Jesus.
Neste sentido, não podemos deixar de ter presente que o preceito moral, religioso, de sepultar os mortos, e de modo particular a família, era um preceito legal que superava todos os outros, e portanto o pedido daquele que se propõe seguir Jesus e pede para sepultar o seu pai é perfeitamente válido e justo.
A resposta de Jesus não é assim uma falta de consideração ou respeito pela família, ou apenas uma abertura à dimensão da nova fraternidade e família que se abre com o seguimento. Há de facto algo muito mais fundamental e que sustenta toda a afirmação a partir da própria pessoa de Jesus.
Seguir Jesus é optar pela vida, é aceitar a vida e os seus desafios e portanto superar o luto e a dor da perda e da morte. Seguir Jesus é entrar no dinamismo da vida, do qual faz parte a morte, mas no qual essa realidade não tem a última palavra. É como o grão de trigo que morre para poder frutificar.
Por outro lado, a opção pela vida torna evidentes as opções pela morte, a divisão que inevitavelmente Jesus vai operar entre a vida e morte, entre a luz e as trevas. Se seguir Jesus é optar pela vida, não o seguir é optar pela morte.
Seguir Jesus deixando os mortos sepultar os seus mortos é assim deixar para trás aquelas realidades que nos aprisionam, que nos atemorizam, que nos privam ou impedem de viver em plenitude, é fazer uma opção pela vitória alcançada já para cada um de nós em Jesus Cristo e por Jesus Cristo.
Ao optar por seguir Jesus, deixando para trás os mortos, o discípulo manifesta já essa vitória, manifesta as palavras do Evangelho de São João de que quem acredita em Jesus Cristo não morrerá jamais, e portanto a grande urgência e missão é anunciar aos outros homens essa vitória, essa vida nova.
 
Ilustração: “Funeral dos pobres”, de Vasily Perov, Galeria Tretiakov, Moscovo.

2 comentários:

  1. Optar pela Vida em plenitude,deixando tudo o que nos prende e distrai, é a exigência de hoje e aqui,
    para poder dar graças pela vitória escolhida e alcançada. E.C.

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  2. Frei José Carlos,

    Como nos afirma do ponto de vista humano é compreensível “o pedido daquele que se propõe seguir Jesus e pede para sepultar o seu pai”.
    Se me permite há algo na resposta de Jesus que nos leva ao mistério da manhã de Páscoa, à advertência dos anjos às mulheres: «Porque buscais entre os mortos Aquele que está vivo?». E quão frequentemente no peregrinar da vida, presos nas nossas dores, sofrimentos e nas mais diversas formas de egoísmo, estiolando, morrendo para a vida, não precisamos ser despertados para outra dimensão, para outra forma de agir e reagir, que nos torne disponíveis, abertos, confiantes para o encontro com Jesus Cristo.
    Como nos salienta, …” Seguir Jesus é entrar no dinamismo da vida, do qual faz parte a morte, mas no qual essa realidade não tem a última palavra. (…)
    (…) Seguir Jesus deixando os mortos sepultar os seus mortos é assim deixar para trás aquelas realidades que nos aprisionam, que nos atemorizam, que nos privam ou impedem de viver em plenitude, é fazer uma opção pela vitória alcançada já para cada um de nós em Jesus Cristo e por Jesus Cristo.”…
    Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, profundas, de grande espiritualidade e beleza, pela força, coragem e esperança que nos transmitem para que não tenhamos a tentação de “olhar para trás”. Bem-haja. Que o Senhor o ilumine, o guarde e o abençoe.
    Bom descanso.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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