segunda-feira, 22 de julho de 2013

Levaram o meu Senhor (Jo 20,13)

A celebração da Memória de Santa Maria Madalena é uma oportunidade para nos encontrarmos com a tristeza e a alegria de uma mulher que soube permanecer, que soube confiar, e por causa dessa esperança e confiança passou da condição daquela que procura àquela que foi encontrada, daquela que deseja possuir àquela que é já propriedade.
Na manhã de Páscoa Maria Madalena corre ao sepulcro e sem o suspeitar encontra-se com um vazio, um vazio preenchido pela presença divina e que os dois anjos assinalam tal como os querubins que ornavam a Arca da Aliança.
Perdida no seu sofrimento Maria Madalena é incapaz de ver a presença na ausência, apenas a sua dor e a perda do Mestre amado a guiam, ainda que a conduzam ao vazio.
O apelo e a pergunta dos anjos descobrem a perda de Maria Madalena e o seu sentimento de posse: “Levaram o meu Senhor e não sei onde o colocaram”. Maria Madalena considera o Mestre como seu, como um património pessoal. Mas tal não era para menos desde o momento que em casa de Simão o tinha ungido com perfume de nardo puro.
Tal como a Amada do Cântico dos Cânticos canta o diadema com que Salomão foi coroado por sua mãe, assim Maria Madalena cantava o perfume com que tinha ungido o seu rei, a cabeça do seu amado Mestre.
Nem a presença do jardineiro a desperta da sua dor e do seu sentimento de posse defraudado, somente o nome “Maria”, a traz à realidade e ao encontro, à visão daquele que ela buscava e tinha estado sempre ali.
“Não me prendas”, pede Jesus, “porque ainda não subi para o meu e vosso Pai, para o meu e vosso Deus”. É a liberdade necessária, a liberdade de uma relação, a liberdade expressa no nome que é igualmente um título de posse.
Maria parte a anunciar que vira o Senhor, não apenas o seu Senhor, aquela que considerava seu, mas o Senhor de todos, aquele que tinha subido para o Pai de todos. Maria Madalena perde a posse do seu “Rabouni”, para ser propriedade daquele que sobe para os céus.
A voz de Cristo, o primeiro vivente, desperta-nos e liberta-nos, mas para tal é necessário permanecer e confiar, estar atento à sua presença discreta de jardineiro que desce até ao nosso jardim.
 
Ilustração: “Noli me tanger”, de Lambert Sustris, Apartamento do Rei, Palácio de Versalhes.

3 comentários:

  1. Acredito que podemos fazer como Maria e, permanecendo fiéis e confiantes, encontrar a alegria,ainda que sombreada pela tristeza e a angústia do vazio, da ausência. O nome, pronunciado
    pelo Pai, baixinho,preencherá plenamente esse vazio.

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  2. Frei José Carlos,

    Como nos recorda no texto da Meditação que teceu …” A celebração da Memória de Santa Maria Madalena é uma oportunidade para nos encontrarmos com a tristeza e a alegria de uma mulher que soube permanecer, que soube confiar, e por causa dessa esperança e confiança passou da condição daquela que procura àquela que foi encontrada, daquela que deseja possuir àquela que é já propriedade.”…
    À semelhança de Maria Madalena temos sede e desejo de Deus mas Deus deseja igualmente a nossa presença. Saibamos sem prendê-l’O, tocá-l’O, no silêncio, e sem palavras, escutar o que Ele tem para dizer-nos.
    Como nos salienta …” A voz de Cristo, o primeiro vivente, desperta-nos e liberta-nos, mas para tal é necessário permanecer e confiar, estar atento à sua presença discreta de jardineiro que desce até ao nosso jardim. “
    Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, profundas e belas, que reconfortam-nos, ajudam-nos a reflectir e que dão-nos coragem e confiança para continuar a caminhada, e aceitar os desafios que a vida vai-nos colocando, independentemente das interrogacções, das questões que alguns de nós possam colocar.
    Que o Senhor o ilumine, o guarde e o abençoe.
    Boa noite e bom descanso.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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  3. Frei José Carlos,

    Li e reli o texto que propôs para a Meditação do Evangelho de São João,muito profundo e maravilhosamente ilustrado,que me ajudou e muito a estar mais unida ao meu Senhor,assim como Maria Madalena,grande mulher,soube permanecer e confiar plenamente no seu Senhor.Que o Senhor nos ajude a dar testemunho deste grande Amor ao seu Mestre,como ela soube.Obrigada,Frei José Carlos,pelas belas palavras partilhadas,ricas de sentido.Bem-haja.Que o Senhor o abençoe e o proteja.
    Um abraço fraterno.
    AD

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