segunda-feira, 29 de julho de 2013

Marta saiu ao encontro de Jesus (Jo 11,20)

A imagem que os Evangelhos nos dão das duas irmãs de Lázaro, Marta e Maria, é verdadeiramente surpreendente pela similitude das descrições. Tanto o Evangelho de Lucas como o Evangelho de João nos colocam as duas irmãs em contraste, numa diferenciação de atitudes face a Jesus.
Assim, se no Evangelho de Lucas vemos Marta a reclamar junto de Jesus a inactividade da irmã, no Evangelho de João vemos a mesma Marta a correr ao encontro de Jesus enquanto Maria permanece tranquilamente em casa esperando o Mestre.
Esta oposição, este antípoda de atitudes, não denuncia uma crítica ou uma verdadeira oposição, mas pelo contrário ilumina a realidade de uma e outra irmã, que definitivamente não se compreendem uma sem a outra.
Neste sentido as duas irmãs revelam-nos e convidam-nos ao humilde reconhecimento e aceitação do outro e da sua diferença. Marta e Maria libertam-nos de todo o ciúme, de toda a inveja, que nos conduz a julgar, a comparar e a avaliar o outro.
Marta e Maria convidam-nos a assumir a atitude humilde do servo que realiza o seu serviço, a atitude do serviço que nos foi pedido e entregue, sem qualquer outra preocupação que a sua perfeita realização.
Marta e Maria não quiseram ser outra coisa, não quiseram colocar-se no papel e no lugar da outra, mas pelo contrário cada uma viveu à sua maneira aquilo que era e a relação que tinha com Jesus.
No fundo o que é verdadeiramente importante é Jesus, é a relação que cada um de nós mantém com ele e a confiança que depositamos nele e nos liberta de toda a agitação inútil.
Marta e Maria mostram-nos que cada um é convidado a permanecer ao serviço do único que verdadeiramente conta, Jesus Cristo, a viver o serviço pedido, qualquer que ele seja, como um rosto de Cristo a apresentar ao mundo, um farol para iluminar as realidades que nos cercam.
 
Ilustração: “Marta com Jesus”, de Nicolas Froment, Galeria dos Uffizi, Florença.

 

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    As atitudes tão diversas de Marta e Maria como nos salienta no texto da Meditação que teceu …” revelam-nos e convidam-nos ao humilde reconhecimento e aceitação do outro e da sua diferença. Marta e Maria libertam-nos de todo o ciúme, de toda a inveja, que nos conduz a julgar, a comparar e a avaliar o outro (…) não quiseram ser outra coisa, não quiseram colocar-se no papel e no lugar da outra, mas pelo contrário cada uma viveu à sua maneira aquilo que era e a relação que tinha com Jesus.”…
    Como sabe para atingirmos este patamar na vida de cada um de nós, em qualquer dimensão, incluindo a vida espiritual, exige um processo de transformação longo, feito de pequenos passos, recuos, humildade, perdão que nos conduz a aceitar o outro como ele é. Saber reconhecer e aceitar-se como somos, a nossa pequenez, com a vontade de sublimar o que de menos bom guardamos, pressupõe disponibilidade, ser capaz de revistar os recantos interiores mais escondidos e confiar na ajuda de Deus. Então, é mais fácil compreender e aceitar o outro como é.
    Que Marta e Maria nos sirvam de inspiração e seguimento.
    Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, importantes, maravilhosamente ilustradas, que nos ajudam a reflectir sobre os nossos comportamentos, por lembrar-nos que …” o que é verdadeiramente importante é Jesus, é a relação que cada um de nós mantém com ele e a confiança que depositamos nele e nos liberta de toda a agitação inútil.”…
    Que o Senhor o ilumine, o guarde e o abençoe.
    Bom descanso.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

    P.S.(1) Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe de novo o texto de uma oração.

    QUERIA
    DIZER MAIS

    Senhor, hoje queria dizer mais. Queria que a minha oração não fosse este rumor de sempre, as mesmas palavras
    disparadas à pressa, entre uma coisa e outra; ou o balbucio esquivo, cheio de tudo o que eu não disse, porque
    não encontrei o tempo, o modo ou a verdade. Hoje queria dizer mais. Não trago intenções, nem pedidos. Tenho pensado
    no que seria pedir-te não apenas que olhes por mim (isso fazes continuamente, mesmo se me esqueço de pedir), mas
    que olhes para mim. Dia após dia, sinto que, mais do que tudo, preciso do Teu olhar. Talvez me faltem palavras...
    Queria apenas colocar devagar as minhas mãos dentro das Tuas. E isso ser, Senhor, a minha oração e a minha vida.

    (In, Um Deus Que Dança, Itinerários para a Oração, José Tolentino Mendonça, 2011)

    P.S.(2) Permita-me que tome a liberdade de perguntar ao Frei José Carlos se está tudo bem com o Alexandre e a Família na Suíça.

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