A imagem que os
Evangelhos nos dão das duas irmãs de Lázaro, Marta e Maria, é verdadeiramente
surpreendente pela similitude das descrições. Tanto o Evangelho de Lucas como o
Evangelho de João nos colocam as duas irmãs em contraste, numa diferenciação de
atitudes face a Jesus.
Assim, se no Evangelho
de Lucas vemos Marta a reclamar junto de Jesus a inactividade da irmã, no Evangelho
de João vemos a mesma Marta a correr ao encontro de Jesus enquanto Maria
permanece tranquilamente em casa esperando o Mestre.
Esta oposição, este
antípoda de atitudes, não denuncia uma crítica ou uma verdadeira oposição, mas
pelo contrário ilumina a realidade de uma e outra irmã, que definitivamente não
se compreendem uma sem a outra.
Neste sentido as duas
irmãs revelam-nos e convidam-nos ao humilde reconhecimento e aceitação do outro
e da sua diferença. Marta e Maria libertam-nos de todo o ciúme, de toda a
inveja, que nos conduz a julgar, a comparar e a avaliar o outro.
Marta e Maria
convidam-nos a assumir a atitude humilde do servo que realiza o seu serviço, a
atitude do serviço que nos foi pedido e entregue, sem qualquer outra
preocupação que a sua perfeita realização.
Marta e Maria não quiseram
ser outra coisa, não quiseram colocar-se no papel e no lugar da outra, mas pelo
contrário cada uma viveu à sua maneira aquilo que era e a relação que tinha com
Jesus.
No fundo o que é
verdadeiramente importante é Jesus, é a relação que cada um de nós mantém com
ele e a confiança que depositamos nele e nos liberta de toda a agitação inútil.
Marta e Maria
mostram-nos que cada um é convidado a permanecer ao serviço do único que
verdadeiramente conta, Jesus Cristo, a viver o serviço pedido, qualquer que ele
seja, como um rosto de Cristo a apresentar ao mundo, um farol para iluminar as
realidades que nos cercam.
Ilustração: “Marta com
Jesus”, de Nicolas Froment, Galeria dos Uffizi, Florença.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarAs atitudes tão diversas de Marta e Maria como nos salienta no texto da Meditação que teceu …” revelam-nos e convidam-nos ao humilde reconhecimento e aceitação do outro e da sua diferença. Marta e Maria libertam-nos de todo o ciúme, de toda a inveja, que nos conduz a julgar, a comparar e a avaliar o outro (…) não quiseram ser outra coisa, não quiseram colocar-se no papel e no lugar da outra, mas pelo contrário cada uma viveu à sua maneira aquilo que era e a relação que tinha com Jesus.”…
Como sabe para atingirmos este patamar na vida de cada um de nós, em qualquer dimensão, incluindo a vida espiritual, exige um processo de transformação longo, feito de pequenos passos, recuos, humildade, perdão que nos conduz a aceitar o outro como ele é. Saber reconhecer e aceitar-se como somos, a nossa pequenez, com a vontade de sublimar o que de menos bom guardamos, pressupõe disponibilidade, ser capaz de revistar os recantos interiores mais escondidos e confiar na ajuda de Deus. Então, é mais fácil compreender e aceitar o outro como é.
Que Marta e Maria nos sirvam de inspiração e seguimento.
Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, importantes, maravilhosamente ilustradas, que nos ajudam a reflectir sobre os nossos comportamentos, por lembrar-nos que …” o que é verdadeiramente importante é Jesus, é a relação que cada um de nós mantém com ele e a confiança que depositamos nele e nos liberta de toda a agitação inútil.”…
Que o Senhor o ilumine, o guarde e o abençoe.
Bom descanso.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva
P.S.(1) Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe de novo o texto de uma oração.
QUERIA
DIZER MAIS
Senhor, hoje queria dizer mais. Queria que a minha oração não fosse este rumor de sempre, as mesmas palavras
disparadas à pressa, entre uma coisa e outra; ou o balbucio esquivo, cheio de tudo o que eu não disse, porque
não encontrei o tempo, o modo ou a verdade. Hoje queria dizer mais. Não trago intenções, nem pedidos. Tenho pensado
no que seria pedir-te não apenas que olhes por mim (isso fazes continuamente, mesmo se me esqueço de pedir), mas
que olhes para mim. Dia após dia, sinto que, mais do que tudo, preciso do Teu olhar. Talvez me faltem palavras...
Queria apenas colocar devagar as minhas mãos dentro das Tuas. E isso ser, Senhor, a minha oração e a minha vida.
(In, Um Deus Que Dança, Itinerários para a Oração, José Tolentino Mendonça, 2011)
P.S.(2) Permita-me que tome a liberdade de perguntar ao Frei José Carlos se está tudo bem com o Alexandre e a Família na Suíça.