quarta-feira, 31 de julho de 2013

O homem comprou aquele campo (Mt 13,44)

Terminada a explicação da parábola do trigo e do joio, Jesus volta ao tema do Reino de Deus através de duas novas parábolas, a do tesouro escondido no campo e a da pérola preciosa.
Se o encontro do tesouro escondido no campo se inscreve numa acção de sorte, de surpresa, pois o homem não esperava encontrar um tesouro, a pérola preciosa que o comerciante compra é já o resultado de uma actividade, de um esforço continuado a partir do desejo.
Contudo, e apesar das diferenças de circunstância, o procedimento que provocam é semelhante, pois os dois homens vendem tudo o que possuem para se apoderarem do objecto encontrado, tesouro ou pérola.
Esta atitude não deixa no entanto de nos surpreender, e ainda mais quando a olhamos com os nossos olhos e valores de segurança, com os nossos princípios economicistas e financeiros actuais. Afinal que ganha o homem em comprar um campo no qual está escondido um tesouro? E que ganha o homem ao comprar uma pérola, desfazendo-se para isso de tudo o que possui, até de todas as outras pérolas finas que já possuía?
De certa forma estamos diante de um desperdício, de um comportamento que poderíamos considerar luxuoso, pois o que alcançam parece apenas servir de objecto de deleite, de satisfação pessoal, e nada mais. Nem o homem pensa vender o campo depois de retirado o tesouro nem o comerciante pensa vender a pérola para daí tirar algum lucro.
As parábolas vão no entanto mais longe e o seu sentido está para além do económico ou comercial. Afinal o campo e a pérola que os dois homens adquirem representam as escolhas radicais, escolhas que muito frequentemente passam aos olhos do mundo como perdas, como sem sentido, como um empobrecimento, mas para aqueles que as assumem como uma riqueza incomensurável.
As parábolas sobre o Reino convidam-nos assim a escolhas radicais, a tudo arriscar para encontrar e possuir o verdadeiro tesouro, aquele tesouro que como nos diz a parábola provoca uma alegria enorme, um contentamento tremendo, o tesouro que é o próprio Jesus Cristo que nos oferece a vida pela sua morte, o ganho através da perda.
 
Ilustração: “Parábola do Tesouro Escondido”, atribuído a Rembrandt, Museu de Belas Artes de Budapeste.

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    No peregrinar da vida que o Senhor nos dê a sabedoria, o discernimento e a coragem para …” tudo arriscar para encontrar e possuir o verdadeiro tesouro, (…) o tesouro que é o próprio Jesus Cristo que nos oferece a vida pela sua morte, o ganho através da perda”, como nos exorta.
    Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas de esclarecimento, de estímulo, para estar disponíveis a descobrir e a saborear a alegria sem medida que é o próprio Jesus Cristo.
    Que o Senhor o ilumine, o guarde e o abençoe.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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  2. Que sejamos capazes de fazer estas "escolhas radicais" e de ser fiéis a elas é o que Deus espera de nós, para nos poder oferecer a alegria que deseja para nós.
    E.C.

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