terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Altar e Capela do Santíssimo Nome de Jesus no Convento de São Domingos de Lisboa

Até ao fatídico dia 1 de Novembro de 1755 a capela do Santíssimo Nome de Jesus era a mais notável e rica das capelas que compunham a igreja do Convento de São Domingos de Lisboa, depois da capela-mor, a principal capela da igreja. Com o terramoto, e o incêndio que se lhe seguiu, ficou como tudo o mais reduzido a escombros e cinzas. Contudo, hoje podemos fazer uma ideia da grandeza e riqueza dessa capela através da descrição que dela nos deixou frei Luís de Sousa na sua História de São Domingos.
Ficamos assim a saber que a capela do Santíssimo Nome de Jesus se situava no corpo da igreja, no meio dela, sobre o presbitério alto, que se estendia por toda a nave direita. A antiga igreja do convento tinha três naves, à semelhança das que ainda hoje podemos ver na igreja de São Domingos de Elvas, semelhante à de Lisboa.
Separava-se a capela do Santíssimo Nome de Jesus, ou de Jesus como era popularmente conhecida, das demais capelas colaterais através de grades de ferro torneadas, sendo o seu tecto tão alto como a nave. O frontispício chegava a pegar com o friso do emadeiramento do meio da igreja que era de grande altura.
O tecto interior bem como o frontispício por fora eram lavrados de tarjas e figuras de meio relevo, de boa marcenaria, e todas revestidas a ouro.
O retábulo que a decorava era pouco aparatoso em termos de feitio mas subia tanto quanto a parede de fundo e tinha a largura de toda a capela. Apesar da simplicidade possuía boa pintura nos painéis. Podemos conjecturar que à semelhança da capela-mor possuísse também obras do pintor Bento Coelho da Silveira.
No centro do retábulo abria-se um nicho alto e largo, mas fechado com portas de grade forte e balaústres de prata maciça. Dento do nicho encontrava-se uma imagem em vulto, da estatura de um homem bem proporcionado, de Cristo crucificado e que era objecto de grande devoção.
Ao lado do retábulo encontrava-se o Santíssimo Sacramento recolhido em uma custódia redonda e de tal arte que de fora se podia ver completamente a hóstia consagrada. Frei Luís de Sousa diz-nos que existiam duas destas custódias no convento, uma em prata dourada e pedraria, que servia quotidianamente para a Exposição do Santíssimo e outra de ouro maciço, exactamente igual no feitio, com um palmo de diâmetro e que servia apenas nas festas.
Esta custódia foi oferta do Infante D. Luís, filho do rei D. Manuel, que era mordomo da confraria. As grades de prata do nicho do retábulo foram oferta do primeiro Conde de Santa Cruz, D. Francisco Mascarenhas, que foi o defensor de Chaul quando esteve cercada.
Na capela encontravam-se ainda sete lâmpadas de prata que ardiam continuamente, três de maior vulto e mais custo de manutenção e quatro mais pequenas.
A este ornato e riqueza correspondiam os paramentos que pertenciam ao altar e aos ministros, conjuntos para todo o ano, perfeitos de feitio e ricamente bordados.
Devido à riqueza e grandiosidade da capela foi nela que se instalou a Confraria do Santíssimo Sacramento, quando foi fundada no convento e mais tarde a Irmandade do Santo Nome de Deus, ficando desta forma reunidas e unidas as três confrarias numa só.
Após o terramoto e na reconfiguração e reconstrução da igreja do Convento de São Domingos a capela de Jesus ficou reduzida ao primeiro altar do corpo da igreja do lado da Epistola , destruído também aquando do incêndio de 1959.

4 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Leio com interesse a descrição do Altar e Capela do Santíssimo Nome de Jesus no Convento de São Domingos de Lisboa que nos traça e imagino todo o empenho que colocou na precisão da mesma. Enquadro-a historicamente e tento imaginar a beleza, grandeza e riqueza de um património que foi destruído. Porém, esta descrição leva-me a reflectir nas razões que terão levado a Igreja em qualquer parte do mundo à construção, ao longo dos séculos, de um património que ainda hoje leva muita gente a olhar de “soslaio” para a mesma ou a visitar os edifícios destinados ao culto como se tratasse de mais um museu.
    E Frei José Carlos, tive necessidade de reler um excerto de um texto que nos deu a conhecer em Setembro de 2010 sobre o “Meu Cristo Partido”, de Ramon Cué que interiorizara profundamente e do qual volto a extrair um parágrafo.
    ...” Um Cristo belo pode ser um perigoso refúgio, para vos esconderdes da dor alheia, tranquilizando ao mesmo tempo a consciência com um mentido amor a Deus crucificado.”

    Peço desculpa, Frei José Carlos, e peço a compreensão do irmão, se a minha interrogação é pouco cómoda, inoportuna, mas só consigo dialogar com Cristo na simplicidade, como os Evangelhos nos transmitem.
    Obrigada pela partilha que vale pela descrição e pela informação que nos dá a conhecer.
    Que Jesus nos ilumine no nosso quotidiano, dando-nos a força e a coragem para sermos coerentes nos nossos pensamentos e acções.
    Um abraço fraterno
    Maria José Silva

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  2. Bom dia Maria José
    A questão que coloca sobre as razões da riqueza e esplendor das igrejas, que levam tanta gente a olhar de soslaio e a questionar a Igreja sobre a pobreza,não é de todo descabida nem inoportuna.
    Exige mesmo uma resposta, porque de facto cada vez menos compreendemos esse investimento patrimonial, fruto de uma cultura, de um desejo de construção histórica, até em certos casos de vaidade. Mas por detrás de todos estes motivos,está a fonte que nos leva, como alguém comentava há dias o texto da "Pausa de Natal", a fazer todas estas coisas, Jesus Cristo e a nossa fé nele.
    Cada tempo, cada pessoa, tem a sua forma, aquela que mais se coaduna consigo e com a experiência de fé e temos que respeitar isso e valorizar.
    Mas para de alguma forma fundamentar a razão de tanta beleza e riqueza que nos foi deixada, e em alguns lugares ainda é construida, deixo-lhe dois textos de São João de Cronstadt, um santo da Igreja Ortodoxa Russa, que inevitavelmente fala das igrejas ortodoxas, mas cujos principios foram os mesmos que deram origem às nossas belíssimas caixas douradas que são as capelas barrocas e de que a capela do Santíssimo Nome de Jesus seria mais um exemplo.
    "Entrando na igreja tu entras num mundo totalmente outro, que não se parece em nada ao nosso. Aqui não se ouve falar dos negócios da nossa vida terrestre, do que é frágil, efémero, pecador, mas do que é celeste, durável, eterno e sagrado."
    "Entrar na igreja é como subir ao céu abandonando tudo o que é da terra. Aqui tudo, desde os icones ao incenso, aos paramentos do sacerdote, conduz ao respeito, à oração; tudo grita que te encontras na casa de Deus, que está na sua presença. Tu contemplas o Icône de Cristo, o da Toda-Pura, os dos Anjos e dos Santos... Oh! como tudo isto fala eloquentemente ao espirito e ao coração do cristão e do sacerdote! Como tudo fala à alma e ao coração tocando-o e dilatando-o, como tudo eleva a alma para as alturas!"
    Concluindo, quer seja um Cristo partido, tosco e mal feito, ou um Cristo de Gregório Fernandez, uma igreja dourada ou em betão puro e duro, o importante é que cumpra a sua missão, fale ao nosso coração, eleve a nossa alma e o nosso espirito para Deus e nos comprometa no mistério da Encarnação.

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  3. Frei José Carlos,

    Obrigada por haver tido a preocupação em fazer alguma luz nas interrogações que coloquei e pela compreensão.
    Apreciei os textos de São João de Cronstadt que teve o cuidado de partilhar. As instituições são as pessoas mas a envolvente é importante e ajuda a cumprir as missões para as quais foram traçadas, intra e extra-muros.
    É como afirma, “uma igreja dourada ou em betão puro e duro, o importante é que cumpra a sua missão, fale ao nosso coração, eleve a nossa alma e o nosso espirito para Deus e nos comprometa no mistério da Encarnação.” Bem haja.
    Um abraço fraterno
    Maria José Silva

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  4. Anónimo disse:
    Frei José Carlos

    Obrigada pelo belo e precioso comentário que escreveu e partilhou connosco.
    Foi muito importante esta sua explicação sobre o comentário anterior.
    Pois como dizia no último parágrafo do seu comen-
    tário foi uma ajuda muito positiva pois o importante ,é que eleve a nossa alma e o nosso
    espírito para Deus.
    Frei José Carlos. Bem haja.
    Um abraço fraterno.
    AD

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