quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A Biblioteca Pessoal de Soror Isabel do Menino Jesus

Em resposta ao Edital de 10 de Julho de 1769 da Real Mesa Censória para que fossem enviadas à mesa os catálogos da bibliotecas particulares, Soror Isabel do Menino Jesus, religiosa do Mosteiro do Salvador, em Lisboa, enviou também a lista da sua biblioteca particular.
Cuidadosamente começou por fazer uma grelha onde incluiu o autor, o título, a edição, o volume, o lugar da impressão e o ano. Ficou esquecida a dimensão dos livros, facto que corrige ao longo do elenco colocando-a depois do autor e antes do título em alguns dos livros. Identificou também a biblioteca como sendo de Teologia Mística, embora possamos dizer que é mais devocionária que propriamente de teologia.
A primeira obra registada é a “Novena dos Corações de Jesus e Maria”, de António Sandes, um segundo tomo da primeira edição feita em Évora em 1738, em 24º.
A segunda obra é a “Introdução à Vida Devota” de São Francisco de Sales, um tomo da primeira edição impressa em Lisboa em 1758, em 4º.
A obra seguinte que Soror Isabel regista é de João da Silva o “Mantimento da Alma, um tomo de uma segunda edição, de 16º, impressa em Lisboa em 1753.
Segue-se depois a obra de José Bringel “Director de Almas Devotas”, um tomo da sexta edição publicada em Lisboa em 1760.
Soror Isabel regista a seguir de João Gualiset “A Devoção e Culto ao Sacrossanto Coração de Jesus”, um tomo da primeira edição feita em Lisboa em 1735.
A obra que se segue é de Luís Froes e Soror Isabel identifica-a como “Modo Eficassisimo de Orar para Conseguir a Protecção das Onze Mil Virgens”. É um tomo da primeira edição impressa em Lisboa em 1745.
A obra seguinte é a “Vida Dolorosa ou Subida ao Monte da Mirra”, da autoria de Simão Goês da Santa, de que ela possui um tomo da primeira edição feita em Lisboa em 1765.
Logo a seguir e identificado como de autor anónimo aparece a “Vida de São João Nepomuceno”, um tomo da primeira edição impressa em Lisboa em 1712.
A obra que Soror Isabel a seguir regista é “Regras de escrever certo e exemplar de Contas”, de que possui um tomo da primeira edição, em 24º, impressa em Coimbra. É da autoria de António da Silva Alvares e foi impressa no Real Colégio das Artes em 1715 com o titulo completo “Regras de escrever certo & exemplar de contas, em que se ensina com toda a clareza o método da boa ortografia e juntamente a praxe das quatro espécies de conta”.
A outra obra que Soror Isabel regista é “Raridades da natureza e Arte” da autoria de Pedro Norberto e Padilha, e de que possui um tomo da primeira edição de Lisboa de 1756, data certamente errada porque os exemplares desta obra encontrados na Biblioteca Nacional de Lisboa são de 1759, assim como o exemplar mencionado na lista de frei Domingos de São Francisco enviada também à Real Mesa Censória. O título completo da obra é “Raridades da natureza, e da arte, divididas pelos quatro elementos”, o nome completo do autor Pedro Norberto de Aucourt e Padilha e foi impressa na Oficina Patriarcal de Francisco Luís Ameno.
A penúltima obra referida por Soror Isabel do Menino Jesus é a “Grammaire Angloise Francoise”, de M. Mather Flint e editada em Paris no ano de 1756. O impressor desta gramática é Joseph Chardon e o ano da sua edição é 1755, pelo que a religiosa se enganou na datação da edição.
Encerrando o catálogo enviado à Real Mesa Censória encontramos uma obra inglesa, um devocionário, de que foram feitas várias edições, e de que Soror Isabel possui a edição de 1725, “A Manual of Prayers And other Christian Devotions”.
Pelo elenco de obras apresentado podemos inferir a devoção que Soror Isabel do Menino Jesus tinha ao Sagrado Coração, pois vários são os títulos com referência a essa devoção. Podemos também perceber a preocupação com a escrita e a leitura, quando refere obras como a de António da Silva sobre as regras de bem escrever. E surpreendentemente percebemos que as línguas estrangeiras, francês e inglês não lhe são estranhas, o que pode denunciar um tipo de cultura e formação superior ou até mesmo uma origem estrangeira. Não foram poucas as filhas de estrangeiros residentes em Portugal que foram conduzidas aos conventos e mosteiros, à semelhança do que acontecia com as filhas nacionais. A identificação secular de Soror Isabel do Menino Jesus poderá dizer-nos alguma coisa mais sobre ela e os interesses que vemos perpassados no elenco de livros que enviou à Real Mesa Censória.

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,
    São salutares os seus escritos para a mente e para a alma. Os documentos históricos alam a mente a tempos distantes, satisfazendo curiosidades, fazendo-nos coexistir com a realidade coeva. A desmontagem dos textos sagrados deleitam a alma pela contemplação da Vida e Missão de Jesus e sugerem orações não só de Acção de Graças,mas também de contrição pelos momentos menos fiéis ao mistério do Amor.
    Tenha uma santa noite,
    GVA

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  2. Frei José Carlos,
    Obrigada por nos dar a conhecer a lista da biblioteca particular e certamente alguns dos interesses literários de Soror Isabel do Menino Jesus e que ilustrou com uma pintura tão expressiva.
    Não posso deixar de elogiar a paciência e o interesse do Frei José Carlos por nos dar a conhecer informações históricas que, em regra, só interessam os investigadores científicos e que nos tornam mais informados (as). Uma simples lista de livros particular pode ser elucidativa do titular da mesma e de outros elementos de informação. Bem haja.
    Um abraço fraterno
    Maria José Silva

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