Celebra-se hoje a memória de São Gonçalo de Amarante, um santo português que foi disputado entre os beneditinos e os dominicanos, sendo necessária a intervenção de Roma para se colocar fim à querela. Segundo nos diz frei Manuel de Lima no Agiológio Dominico foi o Papa Paulo V que em 1615 com uma sentença pontifícia acabou de desanimar a afectada contenda.
Mas se São Gonçalo de Amarante ingressou os claustros dominicanos, ao tempo de São Pedro Gonçalves Telmo, fê-lo já numa idade avançada e depois de ter peregrinado catorze anos pela Terra Santa e ter vivido algum tempo como eremita no lugar onde segundo reza a tradição se encontra o convento dominicano do mesmo nome.
Até essa data e pelo que nos dizem as crónicas antigas foi educado no paço episcopal de Braga, pois era filho de família nobre e com algum poder na zona entre Douro e Minho. Ordenado sacerdote foi pároco de São Paio de Vizela, onde exerceu o seu ministério pastoral até partir em peregrinação para a Terra Santa.
A sua vida está cheia de milagres e trazemos aqui dois deles, relacionados com a construção da ponte em Amarante, pelo que representam de fonte iconográfica para duas pinturas de altar que se encontram uma delas na igreja de Santa Isabel em Lisboa e a outra na igreja de São Domingos de Elvas. As fotografias são de cada um deles e o texto do Agiológico Dominico, Tomo Primeiro, de frei Manuel de Lima, publicado em Lisboa na Oficina de António Pedroso Galram em 1709.
“Achavam-se os oficiais debilitados, porque o cansaço crescia e o vinho faltava. Nem havia já quem o trouxesse por nenhum preço, porque todo o das partes circunvizinhas se tinha acabado. Conheceu o Santo a falta, recorre à divina Omnipotência e levantando-se da oração toca com o bordão em um penhasco e começa a brotar uma fonte de precioso vinho. Acodem os obreiros e era tal a sua admiração que quase se esqueciam da sede. Recebeu cada qual uma prudente porção e fechava-se a fonte com o seu torno como se fora uma pipa o penhasco.
Em outra ocasião, havendo grande falta de água fez semelhante e prodigiosa emanação, só com esta diferença, que a fonte do vinho se secou acabada a obra e a fonte de água ainda hoje se conserva e se admira.”
Como diz frei Manuel de Lima fica à consideração do leitor as razões desta diferença, bem como a tentativa de descoberta qual dos fluidos é que está representado na tela do altar da igreja de Santa Isabel.
“Serve de coroa a estes prodígios, outro do mesmo calibre e de não inferior singularidade. Pelas grandes tormentas veio a faltar provimento de peixe num dia dos proibidos pela Igreja. Afligiu-se o Santo que via aos seus oficiais sem mais sustento que um pouco de pão. Recorre à despensa da divina Omnipotência com a chave da oração, e descendo à margem do rio faz o sinal da cruz começando a acudir cardumes de diferentes peixes, e com tanta ânsia que parece que contendiam entre si sobre quais haviam de ser o primeiro e venturoso sacrificado a tão poderoso preceito. Chama os oficiais, manda-lhes recolher a quantidade que fosse suficiente e aos mais lançando-lhe a bênção os mandou recolher à sua habitação. Esta maravilha teve de mais extraordinária o ser muitas vezes repetida.”
Que São Gonçalo de Amarante continue a recorrer à despensa da divina Omnipotência para nos alcançar as bênçãos que necessitamos.
Boa tarde Frei José Carlos,
ResponderEliminarMuito interessante foi a vida de S. Gonçalo de Amarante.Faço minhas as suas palavras para que este filho de S.Domingos interceda junto do Senhor pelas nossas necessidades físicas e espirituais.
GVA
Frei José Carlos,
ResponderEliminarNo dia da celebração da memória de São Gonçalo de Amarante, foi com interesse que li a informação que nos transmite sobre este dominicano, personagem rica e de grande devoção particularmente no Norte de Portugal. O texto ilustrado com grande beleza, revela-nos alguns milagres menos conhecidos de São Gonçalo.
Façamos nossas as palavras com que o Frei José Carlos termina ...” Que São Gonçalo de Amarante continue a recorrer à despensa da divina Omnipotência para nos alcançar as bênçãos que necessitamos.”
Ficamos sempre enriquecidos(as) pelo que partilha connosco.Obrigada. Bem haja.
Um abraço fraterno.
Maria José Silva