quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

A Epifania de Nazaré

Os Evangelhos relatam-nos vários momentos da vida de Jesus que consideramos epifanias, acontecimentos profundamente reveladores da sua natureza divina.
A Liturgia da Palavra escolheu algumas para a celebração da Eucaristia e assim encontramos a adoração dos Reis Magos, o baptismo de Jesus no rio Jordão e o milagre das bodas de Cana.
A leitura de hoje do Evangelho de São Lucas apresenta-nos mais uma dessas epifanias, um daqueles acontecimentos reveladores da divindade de Jesus, mas que por opções pastorais acabou relegado para um segundo plano, para um dia da semana.
A ida de Jesus a Nazaré, sua terra de criação, e a leitura da profecia de Isaías é intrinsecamente uma epifania, pois Jesus assume a palavra que lê e revela-a aos presentes como actual, como acontecimento presente e visível. Jesus revela-se afinal como cumprimento da Palavra de Deus, incarnação, vinda e manifestação de Deus.
E o mais importante, para além da revelação, é a sua actualidade, o seu acontecimento no hoje do aqui e do agora. É hoje que se cumpre a Palavra de Deus, não foi no passado nem será no futuro, é hoje.
Há neste sentido, uma chamada de atenção muito forte para nós sobre a relação com Deus, sobre a fé e o seu viver. Não podemos esperar para mais tarde, não podemos desculpar-nos com um tempo mais favorável ou com saudades do passado. É hoje, aqui e agora, com tudo o que temos e nos falta que Deus se nos revela e solicita a nossa colaboração no louvor e no testemunho.
Uma vez mais, Deus não nos quer perfeitos, quer-nos activos na busca da fidelidade, de um aperfeiçoamento que sabemos que só com ele e nele poderemos alcançar. Ele é que é perfeito, ele é que é fiel, a nós cabe-nos procurar ser perfeitos e ser fiéis.
Em Nazaré Jesus abriu o livro de Isaías para ler a profecia e todos ficaram com os olhos fixados nele. Contudo não viram Aquele que se manifestava, não perceberam que era Deus que se abria, que revelava o seu rosto. Ao abrir este livro também para nós se abriu o livro da vida, da nossa vida, aqui e agora, e necessitamos encontrar-lhe o sentido, perceber nas entrelinhas e nas palavras que também hoje se cumpre em nós a Palavra de Deus, que também desce sobre nós o Espírito do Senhor.
Que no nosso ritmo do dia a dia possamos encontrar o tempo e o silêncio para nos encerrarmos, virarmos a página, depositar o vivido, e darmos graças a Deus pelo que no dia de hoje se cumpriu em nós da sua Palavra.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    A Meditação que connosco partilha e que intitulou “A Epifania de Nazaré” é singular pelo conteúdo, pelo desafio que encerra, pela exortação que nos deixa. A leitura da profecia de Isaías por Jesus, na sinagoga, é a revelação da Sua missão. ...” Jesus revela-se afinal como cumprimento da Palavra de Deus, incarnação, vinda e manifestação de Deus.” …
    Mas para além de nos ajudar na interpretação deste acto de Jesus, Frei José Carlos recorda-nos a sua actualidade …”É hoje que se cumpre a Palavra de Deus, não foi no passado nem será no futuro, é hoje.”… (…) “É hoje, aqui e agora, com tudo o que temos e nos falta que Deus se nos revela e solicita a nossa colaboração no louvor e no testemunho.”
    Que Jesus nos guie e ilumine na Caminhada para Deus para que na nossa condição, no nosso quotidiano, …” possamos encontrar o tempo e o silêncio para nos encerrarmos, virarmos a página, depositar o vivido, e darmos graças a Deus pelo que no dia de hoje se cumpriu em nós da sua Palavra”.
    Obrigada por esta profunda partilha. Bem haja.
    Um abraço fraterno
    Maria José Silva

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