sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

São Raimundo de Penhaforte

A diversificada vida e personalidade de São Raimundo de Penhaforte deixou marcas não só como santo mas também em termos sociais e organizativos que definiram o seu tempo e os tempos posteriores à sua vida. Não podemos esquecer que é ele o organizador e compilador das Decretais, conjunto de leis que governaram a Igreja desde Gregório IX até ao aparecimento do Código de Direito Canónico em 1917, e é ele que leva a cabo a redacção sistemática e organizada do primitivo livro dos Costumes dominicanos dando dessa forma origem ao Livro das Constituições da Ordem.
Raimundo era originário do castelo de Penhaforte, que se situa na região de Penedés, província e diocese de Barcelona. Nasceu no seio de uma família com elevado estatuto social nos finais do século XII. Terminada a formação básica do trivium e do quatrivium foi enviado pela família a estudar jurisprudência na universidade de Bolonha, a mais importante universidade neste período neste tipo de estudos. Após nove anos de formação e vida na cidade de Bolonha regressa a Barcelona ficando ao serviço do bispo e da catedral da mesma cidade em 1220.
Em 1228, passados oito anos sobre o seu regresso à cidade ingressa na Ordem dos Pregadores. É já como dominicano, e perito em leis, que integra a embaixada do Cardeal João de Abbeville, legado apostólico do Papa Gregório IX para os reinos ibéricos, e cuja missão era implementar os decretos e normas saídas do IV Concílio de Latrão e a defesa da fé católica.
Este trabalho vai levar Raimundo de Penhaforte a Roma, convocado pelo Papa para aí exercer actividade como Penitenciário Apostólico. Durante este período de vida em Roma cabe-lhe também a missão de coligir e sistematizar todas as normas anteriores da Igreja, reunindo-as numa colecção que ficaram para a história como as Decretais de Gregório IX. Levou seis anos neste trabalho, assistido certamente por muitos secretários e auxiliares.
Terminada a missão regressa a Barcelona e ao seu convento, mas permanece aí pouco tempo, pois passado dois anos é eleito Mestre da Ordem, governando entre 1238 e 1241, ano em que D. Sancho II dá autorização para a construção fora dos muros da cidade do Convento de São Domingos de Lisboa.
Renunciando ao cargo retirou-se novamente para a cidade Condal de Barcelona e aí permaneceu até ao dia 6 de Janeiro de 1275 quando entregou a sua alma ao criador.
Num momento em que se fala tanto de diálogo inter religioso São Raimundo de Penhaforte surge-nos como modelo e incentivo, como um exemplo de estratégias e acções, pois no seu tempo e face ao grande número de judeus e muçulmanos que habitavam a cidade de Barcelona organizou debates com os mestres dessas religiões, criou escolas para formar teólogos e incentivou os frades a aprenderem as línguas hebraica e árabe para que pudessem tomar contacto com os textos originais, ou seja pudessem conhecer a matéria que iriam discutir na sua forma mais original.
Neste desejo de formação, de uma doutrina substancial e substanciada, não podemos deixar de referir a redacção da sua “Suma de Penitência”, um manual para orientação dos confessores que atingiu grande divulgação e se impôs como obra moral e pastoral em quase todas as bibliotecas da época. Pode-nos hoje parecer estranho esta difusão, mas tendo em conta todos os abusos que se cometeram, a fraca formação de muito do clero da época, e não só, e as diversas possibilidades de injustiças e até de crimes, este manual, como outros que se lhe seguiram, orientou a Igreja e os penitentes num exercício mais equilibrado e são do sacramento da penitência.
Preocupado com o outro São Raimundo de Penhaforte vai intervir e ter um papel preponderante na fundação da Ordem dos Mercedários, criada com o objectivo muito claro de resgatar os cristãos que ficavam cativos dos mouros, quer aquando das batalhas quer em sequestros aquando de viagens pelo Mediterrâneo. Esta preocupação com o outro vai levá-lo também a intervir e a acompanhar a politica de Jaime I de Aragão, senhor da Barcelona, buscando sempre o bem geral e o respeito das leis estabelecidas e potenciadoras da paz e do bem estar dos povos.
No dia da sua memória cabe-nos assim fazê-lo presente e tentar aprender alguma coisa com ele e a sua acção junto dos homens e das instituições. Que Junto de Deus interceda por nós e pela missão a que os pregadores filhos de São Domingos são chamados nestes nossos tempos.

2 comentários:

  1. Boa noite Frei José Carlos,
    Enche-nos de júbilo e de gratidão o que nos conta sobre São Raimundo de Penhaforte. Nele se descobre o profundo amor ao próximo e consequentemente o deleite no amor de Deus.
    Deixou-nos o gosto de descobrir mais sobre a sua vida.
    Tenha uma santa noite,
    GVA

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  2. Frei José Carlos,

    Foi com muito interesse e satisfação que li o texto que connosco partilha sobre um Santo Dominicano: São Raimundo de Penhaforte, no dia da sua memória. Se todos somos importantes e necessários, ainda que as tarefas que desempenhamos possam parecer menores, ficamos agradados ao tomar conhecimento de uma personalidade que se revelou de grande inteligência, humildade, ser de grandes ideais, preocupado com o seu próximo, com a harmonia entre os diferentes povos, não regateando esforços ... “que deixou marcas não só como santo mas também em termos sociais e organizativos que definiram o seu tempo e os tempos posteriores à sua vida”,… como o Frei José Carlos dá testemunho.
    Permita-me que partilhe um excerto de um nota que li sobre São Raimundo ...”Quando partiu de Roma, um velho escritor relatava, segundo um funcionário da Cúria: Este homem vai-se como veio, tão pobre e tão modesto como à chegada. Não leva consigo nem ouro, nem honras, nem dignidades”.
    Que a sua vida nos sirva a todos de exemplo e como afirma ...” cabe-nos assim fazê-lo presente e tentar aprender alguma coisa com ele e a sua acção junto dos homens e das instituições.”…
    Obrigada Frei José Carlos por esta oportuna partilha que nos encoraja a não desistir e a acreditar que é sempre possível participar na construção do Reino de Deus, hoje, aqui e agora. Bem haja.
    Um abraço fraterno
    Maria José Silva

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