sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O poder da palavra de Jesus (Mc 2,10)

Depois de algum tempo de ausência Jesus volta a Cafarnaum e logo que se divulga que está de regresso uma multidão vem ter com ele. Os mais atrasados, carregados com um paralítico num catre, têm que subir ao terraço para fazerem descer o homem até Jesus.
É a oportunidade para mais uma cura face à fé daqueles homens e daquele paralítico que se sujeita de alguma forma ao vexame de ser descido por cordas diante de toda a multidão aglomerada para ouvir e ver Jesus.
Contudo, a cura física que Jesus vai operar é precedida de uma cura espiritual, pois antes de mandar levantar o paralítico Jesus diz-lhe que os seus pecados estão perdoados, o que inevitavelmente provoca o escândalo e a discussão. O milagre operado é neste sentido como que uma redundância, desnecessário talvez, uma manifestação exterior de algo que é interior e muito mais poderoso, a palavra e a sua força operativa.
Portanto, quando Jesus manda levantar o paralítico e levar a sua enxerga para casa está a manifestar exteriormente o poder que antes tinha exercido e tinha provocado suspeição e discussão.
Esta desconfiança é provocada porque os que assistem se esquecem que o pecado é quebra de relação, quebra da relação com Deus, e portanto só a palavra, o diálogo pode restabelecer essa quebra, retomar as pontas e uni-las. Jesus, perante aquele homem, assume a condição divina de quem foi excluído, com quem foi quebrada a relação, e retoma-a, como a retoma com todos os homens, manifestando a sua palavra, dialogando.
Esta realidade tem consequências que se manifestam no sacramento da penitência, de que hoje andamos tão frequentemente arredados. Preferimos confessar-nos directamente a Deus. Mas a verdade é que a nossa confissão directa a Deus impossibilita e inviabiliza o poder operativo da palavra de Deus. Não há quem profira a palavra “os teus pecados estão perdoados”, não há diálogo, e ao não haver palavra e diálogo a mesma operatividade da palavra do perdão deixa de existir.
É verdade que é difícil, nos custa, e muitas vezes nos sentimos envergonhados pelo mal que cometemos, mas se não tivermos a ousadia de passar o vexame que passou o paralítico descido pelo telhado, não poderemos beneficiar nem usufruir da palavra de Jesus e do seu poder alterante, transformador, milagroso na nossa vida, “filho os teus pecados estão perdoados”.
Quando temerosamente nos abeiramos da confissão devíamos ter sempre presente o tratamento que precede o perdão dado por Jesus, “filho”. Afinal, Deus quer-nos filhos e filhos com vida e filhos dialogantes.

3 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Ao ler a Meditação que partilha connosco tive muitas dúvidas se devia deixar uma palavra por razões de coerência e de honestidade comigo própria. Mas talvez o silêncio me deixe menos tranquila. A propósito de “O poder da palavra de Jesus (Mc 2,10)” recorda-nos ... “que o pecado é quebra de relação, quebra da relação com Deus, e portanto só a palavra, o diálogo pode restabelecer essa quebra, retomar as pontas e uni-las” e salienta-nos que arredados do sacramento da penitência …”Preferimos confessar-nos directamente a Deus. Mas a verdade é que a nossa confissão directa a Deus impossibilita e inviabiliza o poder operativo da palavra de Deus. Não há quem profira a palavra “os teus pecados estão perdoados”, não há diálogo, e ao não haver palavra e diálogo a mesma operatividade da palavra do perdão deixa de existir”.
    Permita-me Frei José Carlos dizer-lhe que a dificuldade não está somente ou algumas vezes “pelo mal que cometemos” mas por recearmos não ter diante de nós alguém dialogante e o desconhecido do que nos espera nos inibe. Há experiências que não temos vontade de repetir.
    Peço perdão Frei José Carlos se é pouco curial o que afirmei mas credito no que afirma que “Deus quer-nos filhos e filhos com vida e filhos dialogantes.”
    Obrigada pela partilha e por nos questionar sem rodeios. Bem haja.
    Um abraço fraterno.
    Maria José Silva

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  2. Frei José Carlos,
    É gratificante o que nos diz sobre o sacramento da Penitência e um incentivo a frequentá-lo com mais assiduidade. Penso que não será bem a vergonha, mas antes a dificuldade de aceder ao diálogo e de sentir o conforto do acolhimento pela palavra de Deus proferida por quem recebeu o poder de perdoar.
    GVA

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  3. Anónimo disse:

    Frei José Carlos

    Agradeço-lhe o belo e maravilhoso texto,que teve a ousadia de partilhar connosco, sobre o Sacramento da penitência o qual me ajudou a meditar mais profundamente.
    Sempre que recebermos o perdão dos nossos pecados
    são graças especiais que Deus nos dá e que muitas
    vezes as perdemos.
    A alegria que sentimos quando recebemos este sacramento é tão grande que nos dá uma grande paz
    interior uma felicidade que só Deus nos dá.
    Estou muito grata ao Frei José Carlos.Bem haja.
    Um abraço fraterno.
    AD

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