terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Que tens tu a ver connosco, Jesus de Nazaré? (Mc 1,24)

Depois de chamar Pedro e André, Tiago e João, e os convidar a ser pescadores de homens, Jesus vai a Cafarnaum e como habitualmente em cada sábado entra na sinagoga.
É nesse espaço que deixa todos maravilhados com o seu ensinamento, pois fala com autoridade e não como os escribas. Contudo, nem todos estão assim tão maravilhados, porque do meio da gente alguém pergunta, que tens tu a ver connosco Jesus de Nazaré?
São Marcos diz-nos que era um homem com um espírito impuro, mas não nos deixa mais nenhuma referência, nem mesmo depois de Jesus o mandar calar, ou melhor, mandar calar o espírito impuro que habitava nele.
Há assim nesta pergunta e neste desafio como que um grito impessoal, um grito de todos nós face à grandeza do mistério da encarnação de Jesus e à sua missão salvadora. Habitantes das trevas do pecado e da infidelidade a Deus não somos capazes de vislumbrar a luz que se eleva, o mistério de que passámos a fazer parte e que nos altera na nossa condição e na nossa natureza.
Que tens tu a ver connosco, Jesus de Nazaré, podemos ainda hoje ouvir, podemos ainda hoje perguntar cada um de nós. Mas, mesmo que não queiramos, que não aceitemos, que não sejamos conscientes, como o pobre espírito impuro que levantou a voz, sabemos a resposta e não podemos calá-la nem passar-lhe ao lado, “Tu és o Santo de Deus”.
É esta realidade, esta novidade que alterou toda a história, toda a nossa percepção de nós mesmos e de Deus, que nos provoca, que nos desafia e nos leva a gritar angustiadamente. É o Santo de Deus, o Santo feito carne, Deus na nossa humanidade, à nossa mão e disposição, que perturba, porque é muito mais fácil manter os deuses distantes, mitológicos ou ideológicos, ser escravos de um ídolo.
O Santo de Deus, Jesus Cristo, está demasiado próximo de nós e isso inevitavelmente perturba os espíritos impuros que há em nós e se vêem atacados com essa proximidade e humanidade. A nossa carne, a nossa humanidade é afinal o caminho para Deus, coisa que os espíritos impuros, aqueles que nos impedem e empecilham a relação, não querem que seja, não desejam que seja, para poderem ser senhores de nós e da nossa liberdade.
O que Jesus afinal tem a ver connosco é que é homem como nós, excepto no pecado, e na sua vida humilde e comprometida com o Pai e com os homens nos mostra o caminho para a nossa divinização, para a glória eterna, para a felicidade.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Como nos diz ... há nesta pergunta, “que tens tu a ver connosco Jesus de Nazaré?” e neste desafio como que um grito impessoal, um grito de todos nós face à grandeza do mistério da encarnação de Jesus e à sua missão salvadora”.
    Frei José Carlos, para cada um de nós, na nossa circunstância, não é fácil compreender o mistério de Jesus Cristo, que “se fez homem como nós, excepto no pecado” e que com a Sua palavra, os Seus ensinamentos diferentes dos “escribas”, veio para nos mostrar o caminho da verdade, da justiça, da paz, para nos divinizar, para nos salvar.
    A partir de então, não é possível escrever a história da mesma forma. Jesus de Nazaré , “Tu és o Santo de Deus”, …, “Deus na nossa humanidade, à nossa mão e disposição” …
    Que Jesus reforce a nossa fé, nos ensine a ser sempre humildes e de coração sincero e disponível a seguir e a praticar a Sua palavra.
    Obrigada por esta bela partilha, que nos perturba e ajuda a meditar. Bem haja.
    Um abraço fraterno
    Maria José Silva

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