quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

No amor não há temor

Desde o Natal que na primeira leitura da celebração diária da Eucarística temos vindo a ler a Primeira Carta de São João, um texto belíssimo sobre o amor, ou sobre Deus que é amor.
Na leitura de hoje encontramo-nos com esta afirmação de que “no amor não há temor” e no Evangelho de São Marcos com um conjunto de discípulos que vendo Jesus vir ao seu encontro caminhando sobre as águas ficam cheios de medo.
Podemos assim assumir que neste momento, e ainda que imediatamente a seguir à multiplicação dos pães, os discípulos de Jesus ainda conhecem muito pouco do amor, ainda não são capazes de amar o seu Mestre como Ele deve ser amado.
Perante esta atitude, este medo, fruto da incompreensão e do maravilhoso, podemos interrogar-nos sobre as nossas atitudes e medos face à mesma pessoa de Jesus. Não ficaríamos nós também apavorados se o Senhor nos aparecesse, ainda que por vezes o desejemos e o peçamos no sentido de confirmar a nossa fé, de não nos desviarmos mais do caminho da fidelidade?
Compreenderíamos, ou compreendemos, o pedido que Jesus nos faz de darmos de comer a uma multidão com o pouco que possuímos? Não nos atemoriza isso também e não noz faz de alguma forma estarmos reticentes face ao que o Senhor nos possa pedir? E quando, por alguma graça, sentimos que participamos e somos cooperantes da acção de Deus na multiplicação de pães, nos milagres que cada dia acontecem, não nos atemorizamos também com a nossa pequenez e frequente infidelidade?
E no entanto Deus fez-se pequenino e frágil, por amor fez-se assim para que não o temêssemos, para que não nos assustássemos com Ele e com o seu amor por nós. Necessitamos descobrir o amor, amar até o que nos faz frágeis, a nossa humanidade em que o Filho de Deus encarnou, para que não tenhamos medo, para que possamos perder o medo do extraordinário de Deus, o medo da divindade. A Humanidade de Deus é o nosso caminho para a sua Divindade.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    A Meditação que hoje partilha connosco deixa-nos várias interrogações, questiona-nos, leva-nos a um profundo exame de consciência, a revisitar o nosso interior, a questionar-nos. Como oportunamente nos lembrou “para dar é preciso saber receber” e subjcacente a estas atitudes está a humildade. Só a humildade permite que nos revelemos como somos, aceitarmos as nossas fragilidades, corrermos o risco de nos expor, darmo-nos a Jesus e ao nosso próximo com os dons que possuímos e soubemos desenvolver. Mas na Caminhada que somos chamados a fazer, precisamos de muito mais que a humildade, amor, fé, oração e confiança. E tudo isto não chega. Somos humanos, é natural que sejamos frágeis, que tenhamos os nossos receios. Somos um todo, e se temos os nossos medos no quotidiano, é normal, para mim, face à pessoa de Jesus, a quem diariamente, suplicamos “Vinde, Senhor Jesus”, continuemos a ter os nossos “sobressaltos”, a sentirmos a nossa vulnerabilidade, independentemente das nossas infidelidades.
    Na nossa Caminhada, num processo longo, feito de muitas quedas e tropeções, necessitamos, como afirma ...” descobrir o amor, amar até o que nos faz frágeis, a nossa humanidade em que o Filho de Deus encarnou, para que não tenhamos medo, para que possamos perder o medo do extraordinário de Deus, o medo da divindade.”
    Obrigada por esta bela partilha que nos interroga e nos conforta. Bem haja.
    Um abraço fraterno
    Maria José Silva

    ResponderEliminar