Celebramos hoje a memória do Santíssimo Nome de Jesus, uma devoção que se desenvolveu lentamente ao longo da história da Igreja até ao século XII, atingindo o seu auge no século XV, e que se funda nas próprias palavras de Jesus, no mandamento de pedirmos ao Pai do céu o que necessitamos por intermédio do seu nome.
A leitura da Primeira Carta de São João, da liturgia da Palavra de hoje, dá-nos um exemplo da importância do nome de Jesus e assim podemos ler: “é este o seu mandamento, acreditar no nome do seu Filho, Jesus Cristo, e amarmo-nos uns aos outros”.
Nos Actos dos Apóstolos encontramos várias situações em que os discípulos actuam fazendo fé no nome de Jesus, fundando a sua acção nesse nome, no mandamento que o Senhor lhes tinha dado de fazerem uso do seu nome. Assim quando Pedro e João são apresentados perante o sinédrio por terem curado um paralítico Pedro defende-se dizendo que o fez em nome de Jesus, nome ao qual se dobram todos os joelhos no céu e na terra.
Esta fé e confiança no nome de Jesus expandiu-se com a própria Igreja e assim vamos encontrá-lo na liturgia primitiva, na celebração dos sacramentos, nos exorcismos e nas recomendações espirituais para o combate contra o maligno e as tentações. É de São João Climâco, século sétimo, este conselho: “quando fores para lugares que temes e te amedrontam não saias mais que armado com a oração; quando chegares ao local, estende as mãos e esmaga os inimigos com o nome de Jesus, pois não há nem na terra nem no céu arma mais forte”.
No século onze Santo Anselmo dá uma nova entoação ao apelo pelo nome de Jesus envolvendo-o numa dimensão amorosa que São Bernardo no século doze vai desenvolver comentando-o no Sermão 15 sobre o Cântico dos Cânticos, entre outros, desta forma.
“O nome de Jesus não é somente luz, é também alimento. Não te sentes reconfortado sempre que o recordas? Há alguma coisa que sacie mais o espírito daquele que nele medita? Ou que possa reparar tanto as forças perdidas, fortalecer as virtudes, incrementar os hábitos bons e honestos, fomentar os afectos castos? Todo o alimento é desabrido se não se condimenta com este azeite, insípido se não se tempera com este sal. O que escrevas me saberá a nada se não encontro o nome de Jesus. Se nas tuas controvérsias e dissertações não ressoa o nome de Jesus nada me dizem. Jesus é mel na boca, melodia no ouvido, júbilo no coração.”
No século treze serão as ordens mendicantes, franciscanos e dominicanos a difundirem esta devoção do nome de Jesus, transpondo-a para fora dos muros dos claustros. Depois da celebração do Concilio de Lyon, em 1274, o Papa Gregório X, pedirá numa carta ao Mestre da Ordem frei João de Vercelis, datada de 20 de Setembro desse mesmo ano, ainda antes da publicação do decreto sobre a veneração do nome de Jesus, que os dominicanos dêem execução particular a esse decreto através da veneração do Santíssimo Nome de Jesus em todos os conventos da Ordem.
É desta forma que surgem os altares e capelas dedicadas ao nome de Jesus, as confrarias e irmandades e até algumas práticas rituais, alguns gestos de veneração como a inclinação ao nome de Jesus e a procissão pelo claustro no segundo domingo de cada mês. É também neste espírito e devoção que o beato Henrique Suzo fará gravar sobre o seu coração as letras IHS como sinal de pertença e intima fusão com Aquele cujo nome transporta, fazendo suas as palavras do Cântico dos Cânticos “grava-me como um selo em teu coração”.
Perante estes exemplos e num momento em que a devoção ao nome de Jesus, a fé no seu poder parece insignificante, cabe-nos recuperá-la e usá-la para fazer face aos desafios que cada dia se nos colocam no combate da fé e na fidelidade ao seguimento de Jesus.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarTenho aprendido muito convosco, com os dominicanos, e hoje fiquei a conhecer o desenrolar da devoção à memória do Santíssimo Nome de Jesus e do papel da igreja na mesma ... “e que se funda nas próprias palavras de Jesus, no mandamento de pedirmos ao Pai do céu o que necessitamos por intermédio do seu nome”.
Permita-me que transcreva uma das citações que faz e que me sensibiliza, em especial, ceertamente porque vem ao encontro do que interiorizo ...” “O nome de Jesus não é somente luz, é também alimento. Não te sentes reconfortado sempre que o recordas? Há alguma coisa que sacie mais o espírito daquele que nele medita? Ou que possa reparar tanto as forças perdidas, fortalecer as virtudes, incrementar os hábitos bons e honestos, fomentar os afectos castos? Todo o alimento é desabrido se não se condimenta com este azeite, insípido se não se tempera com este sal. O que escrevas me saberá a nada se não encontro o nome de Jesus. Se nas tuas controvérsias e dissertações não ressoa o nome de Jesus nada me dizem. Jesus é mel na boca, melodia no ouvido, júbilo no coração.””
Sintamo-nos responsáveis por no nosso quotidiano “recuperar a devoção ao nome de Jesus, a fé no seu poder”, e
(…) “usá-la para fazer face aos desafios que cada dia se nos colocam no combate da fé e na fidelidade ao seguimento de Jesus.”
Obrigada Frei José Carlos pela partilha. Bem haja.
Um abraço fraterno
Maria José Silva
Meu caro frei,
ResponderEliminarÉ uma alegria ver um dominicano de hábito. Aqui no Brasil, isso não é comum, infelizmente.
O senhor conhece nosso site www.salvemaliturgia.com? É um apostolado afinado com o Papa, e pretende, entre outros objetivos, colaborar com uma maior valorização da Missa como manda o Missal, a um aprofundamento espiritual a partir da liturgia tal qual nos manda o Magistério, a popularização da "forma extraordinária" e mesmo da forma ordinária celebrada em latim.
Temos tópicos inclusive sobre o rito dominicano que, salvo melhor juízo, está sendo praticado por uma província dos EUA.
Gostaria de entrar em contato por e-mail. Se puder, mande-me uma mensagem: rafael@salvemaliturgia.com
In Christo et Matre,