A inveja foi sempre um vício com grande capacidade de habitação junto dos homens, no coração do próprio homem. E os discípulos de João Baptista não estiveram isentos desta condição, uma vez que ao verem Jesus baptizar e ser acolhido pelas multidões foram fazer queixa a João.
Diante desta queixa, e do ciúme invejoso, João Baptista humildemente responde que já cumpriu a sua missão, apaga-se diante daquele que é o noivo, o Messias esperado, porque ele não o era e nem fazia parte da missão que lhe tinha sido dada por Deus sê-lo. “Ninguém pode receber coisa alguma se não lhe for dada do céu”.
Quanta humildade a de João Baptista, quanta consciência da sua missão e do que lhe tinha sido pedido por Deus como precursor. Não se deixa enganar pela vaidade nem pelo prestígio, não se deixa vencer pela teimosia ciumenta e persuasiva dos seus discípulos e adeptos. Sabe que não é o que querem que seja e portanto não vive a mentira nem a quer viver.
E quanto respeito, quanto amor por aquele que tinha partilhado consigo o deserto, por aquele que afinal ainda era seu primo. Acima de qualquer prestígio estava a relação pessoal com Jesus, a compreensão da sua proximidade e distância, a consciência de que a sua vida tinha sentido apenas e enquanto servia aquele que era o amado, o esposo. Ele era apenas o amigo e portanto devia alegrar-se pela vinda do esposo, pela glória do amigo fiel.
Quanto temos a aprender com João no nosso caminho da santidade, da fidelidade prometida a Deus, quanto temos a aprender no sentido de nos conformarmos com aquele que é o projecto de Deus para cada um de nós, a sua vontade. Ser fiel a Deus passa desta forma por aceitar ser o que Deus deseja de nós, aceitar a verdade de nós próprios.
Quanta energia, quanto esforço dispendido tantas vezes inutilmente, para sermos aquilo que não somos, para sermos até aquilo que Deus não espera que sejamos, passando desastrosamente ao lado de Deus e do que espera de nós, da sua vontade feita vida em nós.
São Paulo diz-nos que já não é ele que vive mas Cristo que vive nele, São João Baptista diz que deve diminuir para que Cristo cresça. Que também em nós cresça este desejo, de que Cristo cresça em nós, de que sejamos verdadeiramente como Deus nos vê e nos ama, seus filhos.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarLeio e fico a meditar no texto que partilha connosco que intitulou “Jesus deve crescer e eu diminuir (Jo, 3,30), comentário ao Evangelho do dia mas que mergulha em algumas facetas da condição humana, porque somos um todo. Fala-nos de sentimentos que limitam o indivíduo, como o ciúme, a inveja e subjacente a esta, a ambição ainda que acompanhados de inteligência. Sentimentos que nos limitam nas nossas relações com o nosso semelhante, com Deus. O homem só será capaz de construir um mundo diferente, mais justo, mais fraterno, com paz, se à inteligência conseguir aliar o amor, a humildade e a compaixão.
Permita-me que transcreva o excerto seguinte ...” Quanta energia, quanto esforço dispendido tantas vezes inutilmente, para sermos aquilo que não somos, para sermos até aquilo que Deus não espera que sejamos, passando desastrosamente ao lado de Deus e do que espera de nós, da sua vontade feita vida em nós.”… e
faço minhas as palavras com que termina …” Que também em nós cresça este desejo, de que Cristo cresça em nós, de que sejamos verdadeiramente como Deus nos vê e nos ama, seus filhos.”
Obrigada pelo tema que escolheu que nos faz reflectir sobre os nossos comportamentos, que nos leva ao caminho mais difícil de burilar no nosso quotidiano. Bem haja.
Um abraço fraterno
Maria José Silva