VICARIATO DE PORTUGAL
a 2 de Fevereiro de 1956
Excelentíssimo Senhor
Dr. António de Oliveira Salazar
Presidente do Conselho Lisboa
Excelência,
Apresento a Vª. Exª. os meus respeitosos cumprimentos e peço para aceitar a expressão dos meus sinceros votos pelo sucesso sempre crescente da grandiosa obra de Vª. Exª. tão cheia de responsabilidade.
Chegou ao nosso conhecimento já há tempo, que um grupo de pessoas notáveis da Vila da Batalha mostraram o desejo de ver novamente os Dominicanos Portugueses habitar o Mosteiro da Nª Sª das Vitórias da Batalha e teriam mesma feito diligências nesse sentido.
O receio de importunar Vª. Exª. tão ocupado com os graves problemas do Estado impediu-me de exprimir o nosso próprio sentimento neste assunto que nos interessa vivamente.
Desde sempre os Dominicanos desejaram cumprir os compromissos dos seus predecessores a quando da fundação do Mosteiro por D. João I. E sentimos ter ainda a responsabilidade de velar junto dos túmulos da “Ínclita Geração” e perpetuar em nome da Nação a acção de graças pela nossa independência.
Alem disso devemos dizer que de toda a parte, quer do País, quer do Estrangeiro, somos instados a reocupar o nosso posto para dar vida a este antigo Convento Dominicano, glória religiosa e artística não só de Portugal mas de toda a Europa; o que parece mostrar que o regresso dos Dominicanos Portugueses à Batalha concorreria para o prestígio da Nação Portuguesa. A todos só podemos responder, que por maior que seja o nosso desejo, isso não depende unicamente de nós.
Tendo já sondado, por mais de uma vez, o Venerando Bispo de Leiria, S. Exa. mostrou-se sempre simpático e favorável a esta ideia.
Há ainda um outro motivo cuja especial importância para nós nos obriga a expô-lo duma maneira mais pormenorizada a Vª. Exª. Os Dominicanos Portugueses estão legitimamente desejosos que o nome do Portugal se encontre de novo num lugar de honra no seio da Ordem de São Domingos. Mas por isso é preciso acabar com o nosso estatuto de Vicariato, que é um regime de tutela e substitui-lo pelo estatuto de Província que nos daria a autonomia.
A autoridade suprema da Nossa Ordem está disposta a restabelecer a nossa antiga Província de Portugal dando-nos assim a possibilidade, para o bom nome de nosso país, de retomar ao lado dos Dominicanos de todos os outros países o lugar que no nosso passado nos mereceu assim como também o justifica a nossa situação presente.
Mas não podemos obter este reconhecimento jurídico de Província, sem ter o mínimo de três (3) conventos com as condições requeridas para este efeito. Actualmente o Convento que temos em Fátima realiza essas condições. O Convento do Porto poderá em breve ter os mesmos requisitos. Como actualmente os nossos recursos não nos permitem comprar o que seria preciso para o terceiro convento, a aquisição do Mosteiro da Batalha, graças a generosidade do Estado Português, resolveria esse grave problema.
Por todos estes motivos, julgamos ser justificados de intervir junto de Vª. Exª. para lhe pedir a fineza de tomar em consideração o nosso pedido e dar lhe um despacho favorável.
Queira aceitar, Sr. Presidente, a expressão da minha maior consideração e creia-me, de Vª. Exª, o mais dedicado servidor.
A Bem da Nação.
Padre Luís Maria Sylvain, O.P.
Vigário Geral dos Dominicanos em Portugal.
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