terça-feira, 1 de novembro de 2011

Frei Adriano Geraldo Teixeira (1915-1951)

Fazer a história da restauração da Província de Portugal da Ordem dos Pregadores implica obrigatoriamente falar de frei Adriano Geraldo Teixeira, mais que não seja pelas memórias que alguns irmãos ainda guardam do seu apostolado e da sua influência na opção vocacional dominicana.
Frei Adriano, baptizado com o nome de Manuel, nasceu a 25 de Maio de 1915 em Araraquara, estado de São Paulo, Brasil. Era filho de um casal português emigrado para o Brasil, José Alves e Maria Teixeira, e foi no seio da família que recebeu os primeiros ensinamentos da fé cristã.
Terminados os estudos primários, frei Adriano muda-se para São Paulo para aí realizar os estudos secundários no Gymnásio dos Padres Beneditinos, de quem guardará gratas memórias. Aí terminará os seus estudos.
A atracção pela Ordem Dominicana é mais forte que os laços com os beneditinos e por isso em 1936 viaja para França, para Toulouse, onde toma o hábito de São Domingos. O Vicariato e a missão que os dominicanos desenvolviam no Brasil pertenciam à Província de Toulouse e por isso essa necessidade de emigração.
Frei Adriano professou nas mãos do Padre Prétaudoux a 15 de Setembro de 1937 e desde essa data até 1940 permaneceu no Convento de Saint Maximin para realizar o ciclo formativo de Filosofia. Com a saúde seriamente abalada teve que deixar Saint Maximin sem ter concluído o último ano de Filosofia.
Como tinha ainda família em Portugal os superiores franceses permitiram-lhe que viesse para Portugal. Nos poucos meses que permaneceu nessa data em Portugal recebeu das mãos do bispo de Portalegre D. Domingos Frutuoso, aquando da ordenação dos Padres Francisco Rendeiro e João de Oliveira no Porto, a 28 de Julho de 1940, as ordens menores.
Entre 1940 e 1941, e apesar do descanso prolongado concluiu o primeiro ano de Teologia em Salamanca, regressando ainda nesse mesmo ano a França por mandato dos superiores para aí concluir o segundo ano de teologia.
O ano de 1942, e apesar da guerra, foi um ano de grandes alegrias, pois a 5 de Abril fazia a sua Profissão Solene nas mãos do Prior de Saint Maximin, o Padre Rousseaux, a 19 desse mesmo mês recebia o sub diaconado, a 3 de Maio era ordenado de diácono e por fim a 7 de Junho de presbítero.
Ainda nesse ano de 1942 regressava ao Brasil, onde completaria o curso teológico no Convento de São Paulo e onde iniciaria a sua actividade apostólica, mostrando já aí uma grande predilecção pela Acção Católica.
Conhecedor das dificuldades da obra dominicana em Portugal e tendo estabelecido amizade com os dominicanos portugueses que com ele se cruzaram em Saint Maximin, terminados os estudos frei Adriano pede a sua transfiliação da Província de Toulouse, à qual pertencia pela Profissão religiosa, para o Vicariato de Portugal. Assim em 1946 chega a Portugal e nesse ano prega já o retiro espiritual dos Padres que se encontravam na Escola Apostólica de Aldeia Nova.
Foi um reforço útil e precioso para a pequena comunidade dominicana que se encontrava no Porto. Para além da ajuda na administração da casa e no cuidado da capela, frei Adriano dedicou-se intensamente à pregação, para a qual se preparava cuidadosamente através da selecta biblioteca que tinha trazido consigo. Entre muitos outros retiros que pregou apenas a mencionar o de Angra do Heroísmo pregado ao clero local em 1947.
Contudo, o ministério em que frei Adriano se vai distinguir é sem dúvida nenhuma o da Acção Católica, e nomeadamente o da juventude operária católica. É graças a ele que é fundada uma secção da JOC na capela do Carregal, à data pertença dos dominicanos no Porto. Com a mudança da comunidade em 1949 para a zona da Gomes da Costa, e querendo os dominicanos conservar a capela para os membros da Ordem Terceira, o Superior da comunidade do Porto sugere ao Padre Vigário Gaudrault a fundação de um Lar para a juventude e a sua entrega ao Padre Adriano.
Foi uma dedicação de alma e coração e para que a obra pudesse responder a todas as necessidades frei Adriano visitou várias outras obras, nomeadamente do padre Américo, para habilitar-se a fundar um verdadeiro lar para os jovens trabalhadores que demandavam a cidade. Era seu objectivo assegurar uma assistência à sobrevivência dos jovens trabalhadores na cidade, mas também assegurar uma formação humana e religiosa que permitisse no futuro uma outra sociedade mais justa e livre.
Paralelamente ao cuidado do lar e dos jovens que aí residiam, o Padre Adriano cuidava e acompanhava diversos grupos de jovens católicos, operários, estudantes, gente em busca de uma resposta para a sua inquietação vocacional.
O volume de trabalho a que se sujeitava acabou por arruinar a saúde já de si frágil e por isso a operação ao apêndice em Março de 1951 teve um prolongado período de convalescença, que nunca chegou a terminar, pois nova operação no Hospital do Carmo no Porto em Julho desse mesmo ano detectava a existência de um cancro já em adiantado estado de desenvolvimento.
Frei Adriano já não abandonou mais o hospital, se não nos poucos dias em que viajou para Lisboa e dali para o Brasil na companhia de um irmão que veio de propósito para o levar para casa. Já no Brasil ainda foi sujeito a nova cirurgia mas nada mais havia a fazer.
Frei Adriano Teixeira morreu com trinta e seis anos na sua terra natal Araraquara no dia 5 de Dezembro de 1951 e uma semana depois, a 11 de Dezembro, eram celebrados pela sua alma Missa Solene de Requiem e Oficio de Defuntos na capela do Convento de São Pedro de Sintra.
Numa carta dirigida ao Padre Gaudrault, a dez de Julho, véspera da cirurgia, escreve: “Não posso deixar de prever a hipótese de uma fatalidade, se morrer quero que esta carta seja o testemunho das minhas intenções e sentimentos. Amei a vida, toda a minha vocação, a Igreja e a Ordem. (…) Quero também frisar bem que não tenho rancor de ninguém, a todos perdoei e a todos peço igualmente neste momento perdão. Ao terminar só me resta agradecer a Vossa Reverência, assim como a todos os canadianos, as atenções dispensadas à minha pessoa durante estes três anos de convívio. Ofereço a minha vida pela restauração em Portugal, pelas vocações e pela classe operária. Queira Vossa Reverência recomendar-me ás orações da Comunidade.”

Frei Adriano, Manuel Teixeira no navio que o trouxe do Brasil para o noviciado em França em 1936.
Frei Adriano com o Frei Pinheiro. Brasil?
Frei Adriano com dois jovens. Brasil? A casa que se encontra ao fundo é a mesma da fotografia anterior. Portanto ambas as fotografias foram tiradas no mesmo local.
Frei Adriano com o Padre Francisco Rendeiro, Padre Tomás Videira e Sérgio Astolfi.
Frei Adriano com o Pedro Agostinho antes da tomada de Hábito em Sintra 17 de Outubro de 1950. Os outros dois elementos da fotografia poderão ser familiares do Pedro Agostinho?
Frei Adriano com o Padre Sylvain e um casal.
Frei Adriano com Carlos Santos e outro jovem da JOC na torre Eiffel em Paris 30 de Agosto de 1950
Frei Adriano com Padre Reed e jovem jocista diante de monumento a Joana d'Arc 31 de Agosto de 1950.
Frei Adriano com Padre Reed e jovem jocista no Escorial em Espanha 15 Setembro de 1950
Frei Adriano com outra pessoa em Roma.

3 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Li com interesse e emoção o percurso tão empenhado e tão breve que nos descreve de Frei Adriano Geraldo Teixeira .
    O seu testemunho dignifica a Ordem dos Pregadores no serviço e dedicação ao próximo, em particular, aos que mais precisam.
    A carta que Frei Adriano Teixeira escreve ao Padre Gaudrault é de uma grande humildade e serenidade sem esquecer a referência à restauração da Ordem ...” Ofereço a minha vida pela restauração em Portugal, pelas vocações e pela classe operária.” Talvez tivesse sido um daqueles santos sem coroa, de que nos fala Maria de Lourdes Belchior.
    Obrigada, Frei José Carlos, pela partilha. Bem-haja.
    Continuação de boa semana.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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  2. Com muito gosto tive a oportunidade de rever com meu pai esta história tão maravilhosa. Muito tenho a agradecer. Pelo que meu pai me conta (Jorge Lopes Vieira)foi o primeiro a entrar no Lar Operário. Na verdade o primeiro seria meu tio Altino, mas como foi convocado para o exército, quem acabou ficando em primeiro no Lar foi meu pai. Hoje ele tem 87 anos de lucidez. Lembra-se também de alguns jovens hoje bem sucedidos, em razão da tão dedicada atenção que lhes foi dada nos momentos mais difíceis de suas vidas. Como exemplo o Novais (que fundou no Brasil a Ótica Peninsular)e tem um coração de ouro. Palavras do meu pai Jorge: "Agradeço muito aos dominicanos que me ajudou a ter uma visão do mundo, da vida, e que até hoje me serviram como exemplo."

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  3. É com muito orgulho que me lembro destes momentos, foi a maior oportunidade que Deus me deu. Fui o primeiro a entrar no Lar Operário Católico da rua Clemente Meneres nº 87. Muito me ajudou em minha vida, ensinamentos que deram a oportunidade para pessoas como eu. Constitui uma família com as mesmas intenções que aprendi e Deus me ajudou muito. Agradeço muito a todos domenicanos. Jorge Lopes Vieira

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