sábado, 12 de novembro de 2011

O FACHO Nº3 – 24 de Maio de 1947.

O FACHO Nº3 – 24 de Maio de 1947.

Seminário Dominicano
Aldeia Nova – Olival

Maio Florido
Mística harmonia é a do nome deste mês que nos apresenta as flores da natureza e nos lembra a Virgem Maria. Há quanto tempo é Ela celebrada especialmente neste mês? Não é fácil dizer-se.
Mas as flores com que adornamos seus altares, as flores de que Deus tão profusamente enche os nossos campos e jardins bem nos mostram que não podíamos escolher melhor ocasião para honrar Aquela que na linguagem inspirada da Liturgia tantas vezes se chama Rosa Mística, Flor de Jessé.
Maio, até o nome deste mês é o que mais semelhança tem com o nome de Maria.
Maio foi o mês que Virgem escolheu para começar as suas comunicações à terra portuguesa de Fátima, porque mesmo a Serra de Aire tem em Maio seus encantos. Tão árida ela é no resto do ano! Mas em Maio cobrem-se as azinheiras de seus tenros rebentinhos que espalham no fundo verde escuro uma alegre tonalidade mais clara. Em Maio também a Serra tem as suas flores agrestes.
Maio de 1947! Há 30 anos que a Virgem veio visitar Fátima! Há 30 anos que a Serra de Aire é um constante Maio florido na Cova da iria. É que os pés imaculados da Virgem ao poisarem naquela terra agreste aí fizeram aparecer as mais variadas flores. São rosas brancas das graças que se recebem, rosas vermelhas do sangue que se derrama, rosas roxas da penitência, dos sacrifícios, das lágrimas do arrependimento.
E a humanidade inteira caminha para Fátima a adornar o altar da Virgem com todas as suas rosas. Dezenas, centenas de milhar de peregrinos. Só Deus que vê as almas e lhes lê seus sentimentos pode contemplar os encantos desse jardim humano.
São as raparigas de todo o mundo nessa peregrinação internacional a ofertarem à Virgem a sua mocidade em flor; são os rapazes nessa jornada custosa de penitência a consagrar-lhe o seu vigor.
Fátima vê passar as multidões numa só fé, aclamando em uníssono Aquela que o Anjo há dois mil anos saudou “Bendita entre as mulheres”.
É Maio florido diante do altar da Virgem. É Maio de Maria.

Santos do Mês
5 de Maio – S. Pio V (o pastorinho de Bosco)
Chamava-se Miguel e guardou as ovelhas de seus pais até aos 12 anos. Foi então que dois religiosos dominicanos o encontraram uma vez por acaso e de tal modo ficaram impressionados pelo seu talento e bondade que lhe propuseram levá-lo para o convento. Era a realização das maiores aspirações do pastorinho.
Consentiram seus pais e dois anos mais tarde recebia ele o hábito branco de S. Domingos. Foram extraordinários os seus progressos na ciência e na virtude, até que chegou a ocupar a cadeira de S. Pedro, com o nome de Pio V. ficou conhecido na história pelo Papa do Rosário, pelo seu amor a esta devoção que lhe alcançou a famosa vitória de Lepanto.

10 de Maio – S. Antonino – Arcebispo de Florença
Tinha 15 anos e era de estatura muito pequeno quando se apresentou ao Beato João Dominici a pedir-lhe a sua admissão na Ordem Dominicana. A resposta que recebeu era uma maneira graciosa de o dissuadir: “Quando souberes de cor esse livro que andas a estudar, volta”. Passado um ano Antonino apresentou-se ao mesmo Superior, com o livro inteiramente decorado (eram os Decretos de Graciano). Foi admitido e chegou a ser um eminente religioso que o Papa escolheu para Arcebispo de Florença.

12 de Maio – Princesa S. Joana
A filha de D. Afonso V de Portugal é hoje venerada nos altares sob o hábito branco de S. Domingos. No palácio de seu pai, cedo manifestou fortes tendências para a vida de piedade. Recusou vantajosos casamentos que se lhe ofereceram e foi enclausurar-se no Mosteiro de Jesus de Aveiro. Aí viveu até à morte em 1490 (com 39 anos) dando sempre o exemplo da mais admirável humildade, uma princesa a varrer a casa, a fazer todas as limpezas e ocupava-se nos mais baixos serviços, ela assim o queria. Os seus restos mortais são hoje venerados em rico mausoléu de mármore no coro do mosteiro onde viveu.

14 de Maio – S. Fr. Gil de Santarém
Era médico e fora especializar-se em Paris. Mas nesses anos de estudo entregou-se à vida desvairada e licenciosa, constando até que fez um pacto mágico com o demónio, prometendo-lhe a sua alma em troca de uma protecção especial que lhe garantiu sempre os sucessos na sua arte. Tocado pela graça converteu-se e tomou o hábito de S. Domingos.
De regresso a Portugal foi um dos primeiros pioneiros da Ordem na nossa Pátria. Era natural de Vouzela, mas porque viveu e morreu no convento de Santarém, daí lhe ficou o nome. Segundo a tradição foi na igreja deste convento que ele obteve por intercessão da Santíssima Virgem a restituição do pacto que assinara com seu sangue, entregando a sua alma ao demónio. Desde esse momento gozou de imensa paz e assim morreu em 1265.

TALVEZ que o próximo número do nosso “Facho” saia impresso. Ainda não garantimos mas estão as coisas encaminhadas para isso. A tipografia já aceitou, faltam apenas algumas formalidades indispensáveis. Assim podemos fazer chegar as nossas notícias a um número muito maior de amigos e benfeitores que se interessam por nós.

Duas Imagens
O nosso Oratório enriqueceu-se agora com 2 imagens no seu altar. Bastante falta faziam. Alguém que viu a fotografia que lhe enviámos notou essa falta e ofereceu-nos 2 lindas imagens: Nossa Senhora de Fátima e S. Domingos.
Lá estão elas agora expostas à nossa veneração, a lembrar-nos o que devemos à boa Mãe do Céu e a nosso glorioso Patriarca.
Muito obrigado à Senhora D. Maria Luísa Pimentel, a quem já devemos tantas finezas.

A Correspondência do Facho
“Recebi o 2º número do “Facho”. É muito bom, é pequenino, não maça ninguém; é grátis mas é preciso que nós os leitores o auxiliemos e o façamos crescer para que assim cresça também a nossa compreensão do bom fruto que dele podemos colher”. A.A.C. – Lisboa.
“Recebi há tempos o jornalzinho tão interessante dos nossos seminaristas. Achei imensa graça. Junto remeto 50$00. É para pagar a minha assinatura”. C.S.T. – Lisboa.
Muito agradecemos tão elogiosas referências ditadas pela bondade dos nossos leitores, que não pelos méritos do “Facho”. Mas prometemos esforçar-nos por merecê-las.

Um Passeio a Ourém
É já tradicional o nosso passeio ao vetusto castelo de Ourém. Este ano foi no dia 12 de Abril. Todos os anos lá vamos admirar essas históricas ruínas que foram testemunhas de tantas batalhas antes mesmo de pertencerem aos portugueses.
A antiga vila de Ourém hoje quase deserta, está situada no cabeço que domina a 3 kms de distância a actual Vila Nova de Ourém. Já era importante no tempo dos godos. Foi tomadas pelos mouros em 715 e por D. Afonso Henriques em 1136.

O Facho em Espanha
“É com entusiasmo que devoramos aqui as colunas do “Facho” vivendo essa alegria que anima os nossos Apostólicos. Os nossos votos mais sinceros são para que melhore cada vez mais na apresentação e que o número dos seus leitores seja cada vez maior”.
É de uma carta dos nossos estudantes dominicanos em Valência (Espanha). De Calanda, onde está o mais novo dos nossos antigos companheiros, recebemos igualmente palavras animadoras. “O Facho” leva-lhes as nossas notícias, vai recordar-lhes os tempos que viveram connosco, neste Seminário por onde passaram. Sim, porque Calanda e Valência, esses dois conventos de formação dominicana, são como que a continuação do nosso Seminário: para lá iremos nós também depois de terminado o nosso quinto ano de preparatórios.
Caros irmãos de Espanha, “O Facho” também é vosso; e quando sair impresso (o que esperamos seja muito brevemente) há-de trazer sempre o vosso cantinho. Venham, pois, notícias e colaboração.

Crónica de Abril
Tomámos parte nas cerimónias realizadas na igreja paroquial do Olival. Graças ao trabalho do Sr. António Rodrigues Vieira, nosso estimado professor de música, o grupo coral saiu-se bem e agradou.
Páscoa: Fizemos o sacrifício de não ir a férias. Já sabemos que é assim o Regulamento do nosso Seminário. Custou-nos um pouco, mas podemos dizer que a nossa Páscoa foi bem alegre. Preparámos uma pequena récita, inteiramente original e tivemos a consolação de satisfazer plenamente os assistentes.
14 de Abril: Recomeçaram as aulas. Mais um trimestre. É a última arrancada para a vitória final dos exames. Oxalá.
Os que ficam pelo caminho: Este mês vimos partir um dos nossos companheiros mais adiantados. “São muitos os chamados e poucos os escolhidos”, terrível palavra. Mas enfim, para nós os que se vão não interessam, o que importa é sermos fiéis, os que ficamos. Pedi, caros amigos, a nossa perseverança.

Que a tua mão esquerda não saiba…
Na vida do nosso Seminário há delicadezas que nos enternecem e fazem cantar bem alto a Providência do Senhor. Chegou-nos há dias uma carta registada de Coimbra. Trazia dentro apenas o seguinte: uma nota 100 escudos e num papel escrito a lápis: “um pequenino grão de areia para a obra de V. Rev”. Nem data nem assinatura.
No remetente da carta, talvez por exigências do registo, figuram um nome e uma morada. Escrevemos a agradecer; e a nossa carta foi-nos devolvida com a seguinte nota dos correios: esta pessoa é desconhecida nesta morada. Só Deus conhece o autor desta acção, e nós não faremos comentários.

Donativos para o nosso jornal
Para não ferirmos a humildade dos nossos benfeitores publicamos apenas as abreviaturas dos seus nomes.
A.A. Coelho – Lisboa – 50.00
M.J.P.R. – Porto – 100.00
M.P.L. – Granja – 20.00
C.S.T. – Lisboa – 50.00
N.P.G. – Olival – 50.00
Que Deus a todos recompense.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Nesta noite invernosa de Outono, entre outras leituras, leio com interesse e muito agrado o terceiro número de “O FACHO”.
    A propósito de leituras quando em diálogo com um jovem de 20 anos que me falava do desagrado e do cansaço da leitura de certos assuntos, tive a oportunidade, esta tarde, de falar-lhe de “O FACHO” e de como a leitura do mesmo é para mim ensinamento, satisfação e cujo conteúdo é intemporal.
    E este terceiro número que anuncia a provável impressão do mesmo a curto prazo, confirma o entusiasmo desde a partilha do primeiro número. Com um artigo profundo e belo sobre o mês de Maio, mês da Virgem Maria e sobre os Santos do mês, continua um jornal bem estruturado com alguma ironia, como é o reporte de um acontecimento interessante, intitulado ...” Que a tua mão esquerda não saiba…”
    Obrigada, Frei José Carlos, pela partilha. Bem-haja.
    Votos de um bom domingo.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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