quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Não façais da casa de meu Pai casa de comércio (Jo 2,16)

A manifestação violenta de Jesus no templo de Jerusalém e a ordem a não fazer da casa de Deus um lugar de comércio é uma consequência das palavras do profeta Zacarias, que já tinha profetizado esta situação como um sinal messiânico (Za 14,21), e das palavras tantas vezes rezadas por Jesus no Salmo 69 “devora-me o zelo da tua casa”.
É o zelo pela pureza da casa de Deus, pela libertação da necessidade de sacrifícios incomensuráveis e intermináveis, é o zelo pelo regresso à simplicidade da relação com Deus estabelecida e vivida na intimidade do coração.
E por isso o corpo é o novo templo de Deus, o novo espaço da relação com Deus, um corpo que se reconhece obra divina e habitáculo da presença divina. É pelo corpo que nos encontramos com o outro e podemos viver o amor, mandamento de Deus, é no corpo que nos encontramos com a nossa finitude e essa ânsia de eternidade que só Deus satisfaz.
Somos templos de Deus e o Espírito de Deus habita em nós como nos diz São Paulo na Primeira Carta aos Coríntios. Mas tal verdade obriga a assumir uma veneração respeitosa pelo nosso corpo, um cuidado que assinala essa presença e a torna manifesta.
E neste sentido, podemos e devemos perguntar-nos até que ponto não regressámos ao comércio praticado no templo de Jerusalém, de que modo a nossa própria realidade corporal não é objecto ou campo de negócio e comércio?
Certamente que a primeira ideia que nos virá à cabeça é a da prostituição, e logo ficaremos tranquilos porque não vendemos o nosso corpo ou o prazer que possa suscitar. Mas será assim tão linear? Tão básico?
Quantas vezes não nos servimos do nosso corpo para insinuar um poder ou uma força que não temos mas que desejamos que o outro pense que temos? Quantas vezes a proximidade física ou corporal não servem para que o outro, enquanto fonte de afectos, nos sirva com o afecto que nos tem, sem mais nada em troca?
Quantas vezes silenciamos um carinho, uma carícia, que divinizariam o outro na sua frágil humanidade, apenas porque temos medo do que os outros vão pensar, de como os outros nos vão catalogar? E como catalogamos tão facilmente… E quantas vezes pelos nossos silêncios, pelas nossas marginalizações, amuos e maledicências não vemos nem respeitamos a chama divina que arde no templo que são os outros.
Peçamos ao Senhor que saibamos não fazer do nosso templo espaço e modo de comércio e vejamos sempre no outro que é corpo a sua presença resplandecente de santidade.

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Leio, medito e tento compreender nas entrelinhas o texto da Meditação que partilha connosco que é profundo, humano, toca-nos no nosso âmago, desinstala-nos.
    Enquadrado no Evangelho do dia litúrgico, salientando-nos que somos templos de Deus, que “o corpo é o novo templo de Deus, o novo espaço da relação com Deus, um corpo que se reconhece obra divina e habitáculo da presença divina” o que nos obriga ao zelo do nosso corpo, não devendo utilizá-lo como um meio, afirma-nos que há diversas formas de que o mesmo seja utilizado como tal, colocando-nos algumas interrogações. Há, como nos diz, formas subtis de utilizarmos o corpo ou de sermos utilizados, nas mais diversas circunstâncias, mas também nos recorda quantas vezes nos inibimos de manifestar um gesto de ternura porque receamos o julgamento, a catalogação fácil de um puro gesto de carinho.
    E passo a citá-lo ... “Quantas vezes silenciamos um carinho, uma carícia, que divinizariam o outro na sua frágil humanidade, apenas porque temos medo do que os outros vão pensar, de como os outros nos vão catalogar? E como catalogamos tão facilmente… E quantas vezes pelos nossos silêncios, pelas nossas marginalizações, amuos e maledicências não vemos nem respeitamos a chama divina que arde no templo que são os outros.”…
    Mas acontece igualmente, Frei José Carlos, que o nosso próximo, nas mais diversas situações, seja ele próprio, quando lhe é dirigido um gesto de ternura, de fraternidade, a interpretar mal, tal gesto, receando que haja um segundo sentido, uma outra intenção, receando igualmente o que os outros vão julgar.
    Participámos todos nós, nem sempre de forma consciente, na construção de uma sociedade de aparências, onde o corpo, é uma arma, como diz, sem precisarmos de nos prostituir, no sentido clássico da utilização do termo, em que a relação com o nosso próximo é artificial ou virtual, onde dificilmente há lugar para gestos de ternura desinteressados dados e aceites como tal. É penoso, mas é a realidade que nos rodeia na maior parte das nossas circunstâncias. A verdadeira ternura começa no ventre materno e vai-se desenvolvendo ao longo da vida. Nestas circunstâncias, somos capazes de fazer e aceitar gestos e laços de ternura, respeitando o nosso semelhante.
    Façamos nossas as palavras do Frei José Carlos, e …” Peçamos ao Senhor que saibamos não fazer do nosso templo espaço e modo de comércio e vejamos sempre no outro que é corpo a sua presença resplandecente de santidade”.
    Obrigada, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, pelas interrogações que nos deixa para reflectir. Bem-haja.
    Continuação de uma boa semana.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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  2. Gostava de ver o meu filho e todos aqueles que se encontram na sua situação, realizar os seus sonhos, que deus os proteja e acabe com aqueles que estão no estrangeiro a escravizar os seus filhos, não podemos contar com os nassos governantes, mas acreditar em Deus porque a ele ninguém engana.
    Que Deus proteja a todos Amem.

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