quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Carta do Padre Tomás a pedir ajuda para o Seminário Dominicano

No primeiro número de “O Facho”, jornal do Seminário Dominicano de Aldeia Nova, saído a 7 de Março de 1947, era feito um rasgado elogio ao Padre Tomás Maria Videira, Superior dos dominicanos em Portugal.
Nele se dizia que o Padre Tomás “desde que aceitou o governo da nossa Província não se tem poupado a esforços para a sua restauração. O seu primeiro cuidado foi reabrir o Seminário fechado temporariamente em 1938. O nosso Seminário tem sido sempre a menina dos seus olhos, o objecto das suas melhores esperanças.”
Prova desta preocupação e atenção é a carta que publicamos e na qual o Padre Tomás Maria Videira procura angariar benfeitores que ajudassem a sustentar o Seminário e a formação dos futuros sacerdotes dominicanos.
Ainda que sem data, certamente para poder ser usada várias vezes, estamos convencidos que foi redigida e enviada pelo menos no ano de 1944, quando foi aberta a Escola Apostólica / Seminário Dominicano na Aldeia Nova com doze alunos.

Padres Dominicanos
Rua Clemente Meneres, 88
Porto

Exmo. Sr.
Não temos a honra de conhecer Vª. Excª., e no entanto ouso vir importuná-lo confiado na bondade do seu coração.
Não ignora Vª. Excª. a imensa miséria que vai por esse mundo além. Os princípios de caridade, de justiça, de respeito mútuo, de autoridade e obediência que a pregação do Evangelho espalhou pelo universo, são esquecidos e calcados aos pés, por muitos, tanto crentes como descrentes, tanto ricos como pobres, tanto patrões como operários.
É evidente que se não regressamos ao Evangelho o mundo corre o risco de se afogar em sangue numa revolução social.
A Ordem de S. Domingos deseja, pela sua parte, trabalhar para essa renovação espiritual tão necessária à sociedade actual. Tem a veemente aspiração de contribuir com a sua cota parte para o bem de todos por meio de uma acção ou assistência não só religiosa mas também cultural e social, tanto na Metrópole como nas Colónias. Sentimo-nos verdadeiramente envergonhados quando verificamos que outros países ou mais pequenos ou menos cristãos que o nosso estão mais adiantados em obras sociais e mandam para as Missões milhares de Sacerdotes, quando nas nossas Colónias entregues pela Providencia ao nosso cuidado há séculos, apenas temos algumas escassas centenas de obreiros apostólicos. É urgente pois aumentar o número desses obreiros.
Ora há mais de 15 anos que tentamos fundar um Seminário. Por falta de recursos tivemos de desistir uma primeira vez da obra começada, e não chegavam a 20 os alunos.
Confiados na Providência que suscita, quando quer, corações generosos, ousamos outra vez abrir o Seminário, apesar das dificuldades dos tempos presentes, mas compelidos pelas necessidades espirituais da época.
Mas, como Vª. Excª. pode facilmente compreender, são precisos muitos recurso para fundar e sobretudo para manter um Seminário, pois os alunos são todos pobres, e temos muitos pedidos, e além disso a experiência infelizmente demonstra que a imensa maioria, 80 a 90% não chegam ao termo desejado. De modo que para ter 15 a 20 Sacerdotes é preciso sustentar uns 100 alunos durante muitos anos. Desprovidos de fundos próprios e não tendo quem possa e queira constituir um património suficiente para a manutenção de um Seminário vemo-nos obrigados a humildemente recorrer a vários benfeitores solicitando deles alguma esmola avulsa ou a pensão de um aluno ou qualquer subsídio mensal, por módico que seja.
Confiando nos sentimentos cristãos de Vª. Excª. apelamos para a sua generosidade, não duvidando de que se lhe for possível não deixará de atender o nosso apelo, e que pelo menos não levará a mal a nossa importuna petição.
Escusado será acrescentar que tanto os Padres como os alunos se esforçarão por retribuir com orações e boas obras a generosidade de seus benfeitores, que além da parte que lhes advém da influência benéfica que seus protegidos exercerão na sociedade de amanhã, receberão a verdadeira recompensa do Senhor que não deixa sem prémio um simples copo de água dado por amor Dele a uma dos seus pequeninos.
Com toda a consideração nos subscrevemos
De Vossa Excelência
Mtº. Atº. Vendr e Obrgº.
Padre Tomás Maria Videira

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Na carta que partilha do Padre Tomás Videira e que tem como finalidade ... “angariar benfeitores que ajudassem a sustentar o Seminário e a formação dos futuros sacerdotes dominicanos”…, fico a reflectir em algumas das afirmações feitas na introdução da mesma, pela actualidade das mesmas …” Não ignora Vª. Excª. a imensa miséria que vai por esse mundo além. Os princípios de caridade, de justiça, de respeito mútuo, de autoridade e obediência que a pregação do Evangelho espalhou pelo universo, são esquecidos e calcados aos pés, por muitos, tanto crentes como descrentes, tanto ricos como pobres, tanto patrões como operários.
    É evidente que se não regressamos ao Evangelho o mundo corre o risco de se afogar em sangue numa revolução social.”…
    Peçamos ao Senhor, como o Padre Tomás Videira o fez que …” a Ordem de S.Domingos possa contribuir para essa renovação espiritual tão necessária à sociedade actual”.
    Obrigada, Frei José Carlos, pela partilha. Bem-haja.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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