terça-feira, 8 de novembro de 2011

Somos inúteis servos, fizemos o que devíamos fazer. (Lc 17,10)

A constatação de que somos inúteis servos não deixa de nos provocar; e isto porque fizemos o que devíamos fazer.
Não haveria algo mais a fazer?
Conforta-nos a nossa consciência, nessa paz de que fizemos o que devíamos fazer.
Mas não haverá algo mais?
A inutilidade não advirá do facto de que havia e há algo mais a fazer do que simplesmente o que devia ser feito e devemos fazer?
Jesus conta essa parábola, o suficientemente dura e quase ácida, para nos colocar no papel desse servo que trabalha o campo, guarda o rebanho, e ainda tem que chegar a casa, cingir-se e servir o seu senhor. E depois, não esperar nenhum agradecimento, nenhuma condescendência, porque afinal fez o que lhe tinha sido mandado.
Servidão ao mandado, ao estipulado, que leva à inutilidade e ao vazio, ou então ao rancor e ao ódio, à aversão do que é necessário fazer.
A inutilidade vence-se pelo amor, pela paixão, pela livre iniciativa de quem decide fazer, não porque está mandado ou se espera uma retribuição, mas porque se ama, porque se quer mais e melhor.
O campo é o testemunho dado, a palavra a semear no mundo, o rebanho é os irmãos que se têm que cuidar e guardar, e depois na intimidade da casa o serviço ao senhor que é Deus, cingidos com o silêncio e a palavra de amor que brota em oração.
Tudo pode ser feito porque nos está mandado, conduzindo a uma inutilidade desesperante, mas tudo pode também ser feito por amor, com paixão e liberdade, e aí certamente frutificará, será mais que útil, criará, recriará, salvará.
E a recompensa? A alegria do que foi feito por amor, apenas essa alegria ressuscitadora.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Ao recordar-nos o Evangelho do dia, ajudando-nos na interpretação da parábola de Jesus aos Apóstolos, leva-nos a reflectir na forma como é possível superar o sentimento de inutilidade quando realizámos o que devíamos fazer. Como nos afirma, há duas formas de cumprir ...” Servidão ao mandado, ao estipulado, que leva à inutilidade e ao vazio, ou então ao rancor e ao ódio, à aversão do que é necessário fazer.”…
    E é muito humano, poético e muito profundo o que nos diz para vencer a inutilidade ...” A inutilidade vence-se pelo amor, pela paixão, pela livre iniciativa de quem decide fazer, não porque está mandado ou se espera uma retribuição, mas porque se ama, porque se quer mais e melhor.
    O campo é o testemunho dado, a palavra a semear no mundo, o rebanho é os irmãos que se têm que cuidar e guardar, e depois na intimidade da casa o serviço ao senhor que é Deus, cingidos com o silêncio e a palavra de amor que brota em oração.”…
    E como nos salienta a recompensa é “A alegria do que foi feito por amor, apenas essa alegria ressuscitadora.”
    Peçamos ao Senhor que ilumine todos os que têm funções de coordenação, de direcção, no trabalho e em todas as actividades, para que as nossas actividades/serviços sejam vividos como uma partilha aonde há lugar à ...” livre iniciativa de quem decide fazer, não porque está mandado ou se espera uma retribuição, mas porque se ama, porque se quer mais e melhor.”
    Obrigada, Frei José Carlos, pela partilha desta corajosa, importante e bela Meditação. Bem-haja.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

    P.S. Permita-me que partilhe o texto de uma oração.

    Mais importantes que os talentos são os dons

    “No início deste dia, ajuda-nos, Senhor, a ver claro que o importante não é o que podemos oferecer aos outros, mas quem
    podemos ser para os outros. Que não nos ocultemos no cómodo casulo da indiferença ou da mera correcção. Nem nos esgotemos nos corredores desolados das pressões e da pressa. Que este dia traga a oportunidade de partilharmos o dom de nós próprios. Mais importantes que os talentos são os dons, porque por estes é que exprimimos a nossa condição de filhos bem amados.”
    (In, Um Deus Que Dança, Itinerários para a Oração, José Tolentino Mendonça, 2011)

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