quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O FACHO Nº2 – 6 de Abril de 1947.

O FACHO Nº2 – 6 de Abril de 1947.
Seminário Dominicano
Aldeia Nova – Olival

Ressuscitou
Talvez não haja no ciclo litúrgico da Santa Igreja outra festa em que a alegrai cristã seja tão comunicativa. A própria palavra Aleluia, alegrai-vos, está continuamente nos lábios da Igreja nestes dias festivos. Depois da tristeza da Quaresma, depois dos lutos da Semana Santa em que as almas vivem o mistério trágico da morte de um Deus para resgate dos homens, sente-se o ressuscitar de uma vida nova.
Cristo ressuscitou e vive agora de uma vida gloriosa impassível. E o cristão ressuscitou também. A morte do pecado foi vencida pela morte de Cristo.
A graça espalha-se de novo pelo mundo das almas, em torrentes jamais verificadas. Importa realmente que esta vida nova não seja apenas impressão passageira de sentimentalismo, mas renovação profunda, regeneração espiritual. “Se ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas do alto, saboreai as coisas do céu, onde Cristo habita”. Era esta a linguagem do Apostolo São Paulo para quem a Ressurreição de Cristo simbolizava tão expressivamente a ressurreição da alma que não deve voltar mais à morte do pecado.

Boas Festas
A todos os seus estimados leitores, a todos os amigos e Benfeitores do Seminário Dominicano deseja “O Facho” uma Páscoa muito feliz.

Um Centenário
Passou a 25 de Março um centenário dominicano que não pode ficar esquecido. Em igual dia de 1347 nascia aquela menina que viria a ser Santa Catarina de Sena. Era a 25ª filha de Tiago Benincasa e de Lapa Pagenti, humildes tintureiros na cidade de Sena.
Aos 16 anos tomou o hábito das Terceiras Dominicanas, continuando a viver em casa de seus pais. Quem ousaria prever a influência que viria a exercer no mundo das almas e na própria vida pública da Santa Igreja essa humilde rapariga.
É que as frequentes manifestações de Deus à sua alma faziam-na viver inteiramente no mundo sobrenatural. Muitos dos seus concidadãos não puderam resistir aos atractivos da sua vida espiritual e em breve se formou um grupo de discípulos que seguiram fielmente os seus exemplos e a sua direcção espiritual. Os próprios confessores e directores espirituais, entre eles o Beato Raimundo de Cápua, submetiam-se aos seu influxo espiritual.
As suas visões e êxtases eram sem número. Foi num período de êxtases quase contínuos que ela ditou esse famoso livro dos “Diálogos”, um dos mais extraordinários da espiritualidade cristã. “Os Diálogos” não são propriamente uma obra humana, são as próprias palavras que o Eterno Pai dizia a Catarina nos seus êxtases. A sua actuação política no seio da Igreja foi a mais extraordinária que jamais uma mulher exerceu. Ela foi a conselheira dos Papas, foi o instrumento da recondução do Pontífice Romano de Avinhão para a sua verdadeira sede em Roma.
Só depois de realizada esta suprema aspiração da sua vida é que Catarina morre a 29 de Abril de 1380 com 33 anos e poucos dias.
Morreu, mas os santos não morrem. Trocam esta vida miserável pela eterna glória, deixando atrás de si rastos luminosos a guiar a pobre humanidade para as alturas do sobrenatural. Nas suas Cartas e nos seus “Diálogos”, Catarina transmite-nos a mensagem do céu; pena é não termos uma tradução portuguesa dessas obras.

S. Catarina Anjo da Paz
Nas épocas perturbadas para um povo, nas horas de angústia para uma raça, uma família até, muitas vezes surge um ser salvador que parece dissipar o perigo ameaçador, a desgraça próxima. É um filho da Pátria em perigo, que animado duma força interior se ergue no meio dos seus compatriotas, e dum gesto heróico desfaz a catástrofe ameaçadora.
Folheando a história dos povos nós vemos que este anjo pacificador é representado ora por um braço forte, ora figurado pela mão fraca duma mulher. Lancemos um olhar sobre o século XIV, e numa vista de olhos, vejamos o estado de anarquia em que se encontra a Itália, a situação crítica do património da Igreja.
Guerras, revoltas, rebentam por toda a parte. Tropas mercenárias vindas de quase todos os pontos da Europa ameaçam de morte o património pontifício. Roma, abandonada pelos seus Pontífices, única esperança da unidade italiana, cai em ruínas. Além desta chaga, o flagelo da peste e da fome, lança a sua nota de desespero sobre as almas desoladas que não podem mais. E enquanto um grito de angústia se levanta na atmosfera pesada, uma Virgem de Sena chamada Catarina, cuja fama de milagres e virtudes extraordinárias ultrapassam já as muralhas natais, toma o seu voo para ditar aos potentados e aos reis da terra a vontade de Deus, a paz entre os povos e sobretudo nos corações.
Semelhante a uma pomba, Catarina, voa levada sobre as asas do amor de república em república, desprendendo à sua passagem o perfume das suas virtudes e dos seus milagres extraordinários.
De linhagem plebeia apresenta-se aos magistrados do povo, é admitida ao Conselho dos grandes, para os esclarecer na situação crítica em que se encontram. É que eles vêem nesta extática que o mundo admira já qualquer coisa de extraordinário. A sua palavra ardente de amor pela paz aquece a tibieza dos chefes do povo! A estes ela pede para organizarem uma cruzada, único meio de pôr fim às lutas que dilaceram a Cristandade, e do Soberano Pontífice cuja ausência já causa desespero, ela implora o regresso a Roma.
Mas enquanto a sua influência pacificadora serena revoltas, impede alianças perigosas, outras tempestades se levantam ao longe, cujo ruído repercute já no coração de Catarina.
E um tal espectáculo arranca do seu coração o gesto mais heróico que existe, o oferecimento da sua própria vida pela paz na Igreja e do seu povo. “Pai Eterno dignai-vos aceitar a minha vida pelo Corpo Místico da Santa Igreja. Eu não posso dar-vos senão o que vós me destes. Tomais pois o meu coração e espremei-o sobre a face da vossa Esposa”.
Deus aceita oferta tão generosa e sobre a campa de Catarina floresce uma dupla flor: uma Itália nova e a Igreja restaurada.
Frei Estêvão da Fonseca Faria.

Crónica de Março
No último número referimo-nos à festa de S. Tomás que então estava a preparar-se. Foi o melhor que pudemos realizar. Houve um tríduo de pregação.
No próprio dia foi transportado Solenemente o Santíssimo Sacramento da Capela para o nosso Oratório onde ficaria permanentemente. Cantámos a Missa a duas vozes. De tarde fizemos uma pequena sessão solene e recreativa em honra de S. Tomás.
Dia 13 alta madrugada levantámo-nos, ouvimos Missa e iniciámos a nossa peregrinação à Cova da Iria. Bem hajam as Irmãs Dominicanas que nos receberam tão hospitaleiramente.
Dia 19, como era de justiça S. José foi festejado solenemente
Dia 29, sábado de Ramos foi o último dia de aulas. Começaram as férias e nós preparámos as cerimónias da Semana Santa.
ULTIMA HORA, chega-nos pelo correio um pequeno embrulho com 6 exemplares do Almanaque de Santo António. Muito obrigado Senhora Dona A., pela boa lembrança. Temos cá a biblioteca do nosso seminarista que muito precisa de leituras amenas e instrutivas. Oxalá que o exemplo seja imitado.

Leiam Todos
“O Facho” é um jornal de graça. Ninguém vos pedirá o preço da sua assinatura. Mas então de graça? De graça, sim senhor, que é para poder viver. Se nós exigíssemos dos leitores o pagamento da assinatura condenávamos “O Facho” a morrer, logo à nascença. Assim de graça só vive enquanto os leitores quiserem.
E quereis saber como viverá “O Facho”? É desta maneira:
Logo no dia em que saiu o 1º número aparece-nos um leitor anónimo que nos pergunta: - Quanto é a assinatura? Quero pagar já.
- “O Facho” é de graça, respondemos, que é para todos lerem sem receio.
- Mas então…
- É assim mesmo.
- Bem, pegue lá para as despesas, mas não publique o nome.
E deixou-nos 50$00. Temos mais leitores desta categoria, noutro lugar publicamos o que recebemos. E, é assim que “O Facho”, jornal de graça, viverá.

Apreciações
É com gosto que registamos as seguintes apreciações que nos fizeram.
“Estimei muito “O Facho”, iniciativa de proveito para os futuros dominicanos.”
D. Carolina M. Faro
“Recebi o jornalzinho do Seminário. Gostei muito, e muito lhe agradeço.”
D. Adelaide A. Coelho.
“Acabo de receber o 1º número do jornal do nosso Seminário e apresso-me a escrever-lhe, para pedir a V. Rª. para em meu nome felicitar os nossos rapazinhos e entregar-lhes estes 20$00 para ajuda da tipografia. Assim é que se começa e quem sabe se mais tarde, eles ainda irão prestar uma grande ajuda à nossa Religião, com os seus artigos. Creia que achei imensa graça e cá espero o nº 2.”
D. Maria do C. Machado
Agradecemos muito estas lisonjeiras referências que nos animam a prosseguir. Nenhum leitor manifestou desagrado. Se alguns não gostaram calaram-se, bem sabemos com quantos defeitos saiu e continua a sair “O Facho”. Esforçar-nos-emos por corrigir o que pudermos.
Donativos para o nosso jornal
Anónimo de Urgueira – 50$00.
D. Maria Adelaide Coelho da Silva – 100$00.
D. Maria do Carmo Machado – 20$00.
D. Emília A. C. Pessoa – 20$00.

Livros Dominicanos
“Ao Serviço de Jesus e sua Mãe. Opúsculo sobre a Ordem Dominicana”; 40 páginas, profusamente ilustrado. Preço; 2$00.
“Frei Bartolomeu dos Mártires”, por Mons. José de Castro. Preço: 10$00.
“Nossa Senhora na minha Vida”, por Padre Bernadot, OP. Preço 15$00.
“Nossa Senhora nos Mistérios de Deus”, por Frei Palha, OP. Preço 10$00.
“Dicionário de Doutrina Católica”, pelo Padre José Lourenço. Preço 15$00.
Mandar vir estes livros é auxiliar o seminário Dominicano.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Li com interesse e alegria o nº. 2 de “O Facho”. Alguns artigos são importantes do ponto de vista espiritual e as palavras de apreço e as ajudas devem ter sido um estímulo para continuar. Aprenderam os Dominicanos e os leitores do passado e do presente.
    Obrigada, Frei José Carlos, pela partilha. Bem-haja.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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