A admissão nos
seminários era na década de trinta, como o é ainda hoje em dia, precedida de
uma averiguação das qualidades do candidato.
Entre os espólios de
José Nunes Martins e do seu irmão mais novo Agostinho Nunes Martins encontra-se
a Carta e o Atestado que o Pároco de Ceiça enviou ao Superior do Seminário
Dominicano frei Tomás Maria Videira para a admissão dos mesmos.
Um aspecto
interessante a notar na carta sobre José Nunes Martins é a opinião do pároco sobre
os métodos de ensino.
Caxarias-18-8-933
Reverendíssimo Senhor:
Os meus cumprimentos!
Depois de ter andado
por Caxarias e Rio de Couros veio finalmente às minhas mãos a carta
confidencial de Vossa Reverência.
Na minha humilde opinião
o pequeno pode ser admitido. Toda a família é boa e piedosa. Ele não irá à
missa muitas vezes de semana, porque em razão da sua pobreza o pai se tem de
servir dele em serviços que tal não permitem.
Quanto à inteligência
do pequeno, Vossa Reverência compreende que me é quase impossível fazer uma
afirmação. A facilidade ou dificuldade em aprender depende tanto dos métodos de
ensino… O que ele não parece é menos esperto do que os outros irmãos que têm
sempre feito boa figura.
Se para mais alguma
coisa for préstamo, creia-me sempre ao seu dispor, mas escreva-me para Ceissa
que é a sede da freguesia.
Servo humilde em
Cristo Jesus
Padre Manuel Alves
Guerreiro
[À margem escrito por outra
mão: o rapaz chama-se José Nunes Martins. Endereço: Caxarias – Linha do Norte.
Carta do Reverendo pároco]
Padre Manuel Alves
Guerreiro, pároco da freguesia de Ceissa, diocese de Leiria.
Atesto que Agostinho
Nunes Martins, de 13 anos de idade, natural de Lagos e aqui residente há mais
de dez anos, filho legítimo de Manuel Nunes Alberto e de Maria Ana é rapazinho
honesto e piedoso, dando sinais de vocação para a vida eclesiástica e que os
seus pais são pessoas honestas e bons cristãos.
Por ser verdade passo
este que assino
Ceissa 26 de Setembro
de 1935
O Pároco Padre Manuel
Alves Guerreiro
Frei José Carlos,
ResponderEliminarO atestado de idoneidade de José Nunes Martins faz-nos reflectir pelo realismo, sabedoria e bom senso. A opinião do pároco Manuel Alves Guerreiro sobre os métodos de ensino é intemporal, à qual acrescentaria, se me permite, algo mais. Se os métodos são importantes, quem transmite e a forma como o faz, na qual está subjacente a relação que consegue estabelecer com os alunos são decisivas. E em todos os níveis de ensino, os alunos sentem-no. Hoje, pelo contexto económico em que vivemos, estamos centrados nos meios urbanos, nas questões de subsistência de muitos alunos, esquecendo outras dimensões igualmente significativas do sucesso escolar. Mas mais grave, ignoramos ou pouco nos afecta, o quotidiano do Portugal real do século passado, em particular, nos meios rurais. Tão próximo e tão longínquo de muitos de nós, Frei José Carlos.
Grata, Frei José Carlos, pela partilha que me fez ir mais longe. Que o Senhor o guarde e o abençoe.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva