domingo, 5 de maio de 2013

Homilia do VI Domingo do Tempo Pascal

A primeira leitura que escutámos apresenta-nos um conflito na comunidade cristã de Antioquia, um conflito que obriga Paulo e Barnabé a subirem a Jerusalém para encontrarem uma solução junto dos Apóstolos e dos Anciãos.
Este não é contudo o único conflito, a única situação problemática, que o Livro dos Actos dos Apóstolos nos transmite, pois encontramos outros, o que significa que o autor do livro não teve qualquer vergonha, qualquer complexo ou medo, em relatar as situações de dificuldade e conflito que a comunidade cristã nascente teve que enfrentar.
Esta verdade da realidade é para nós um desafio, pois também hoje nas nossas comunidades nos confrontamos com dificuldades, com problemas e com conflitos, e portanto temos que encontrar-lhes uma solução como fizeram Paulo e Barnabé e o grupo dos Apóstolos e Anciãos em Jerusalém.
Neste sentido, é interessante observar que a solução encontrada por aquele grupo de dirigentes da Igreja não foi uma solução impositiva, uma posição de força, mas pelo contrário uma solução de respeito, de conciliação, entre aquilo que era a vida da comunidade e as suas realidades e os valores fundamentais da mensagem de Jesus.
Observamos assim que as instruções enviadas desde Jerusalém vão no sentido de um combate da idolatria, expresso nessa proibição da alimentação da carne e do sangue sacrificado aos deuses e das relações imorais, sem que seja expresso o que significam essas relações imorais.
O grupo dirigente de Jerusalém acolhe assim o modo de vida da comunidade cristã proveniente do paganismo, os seus valores e as suas virtudes, excluindo apenas a idolatria que colocava em causa a fé em Jesus Cristo e as relações imorais que colocavam em causa o testemunho, a verdade da vida face à fé.
Se tal acontece, se esta solução pacífica é possível, é porque a comunidade dos Apóstolos e dos Anciãos, com Paulo e Barnabé, percebe que o verdadeiramente central na fé não está em causa, ou seja a comunidade cristã de Antioquia guardava a palavra de Jesus, essa palavra de que nos fala o Evangelho de São João que escutámos.
Este era o verdadeiro desafio para comunidade de Antioquia, como é ainda hoje para qualquer comunidade que se afirma cristã. Como guardar a palavra de Jesus de modo a que aconteça a habitação de Deus entre os homens?
A resposta encontra-se no mistério da encarnação, nesse assumir por Deus da nossa natureza humana com tudo o que ela tem de limitado e frágil. É na verdade da nossa realidade, humildemente assumida, que Deus pode acontecer, que Deus se pode tornar amado e palavra viva.
O fugir, o esconder, o negar as nossas limitações e a nossa condição finita é inviabilizar a possibilidade de Deus acontecer, de Deus se manifestar entre nós, em nós e connosco. O medo e a perturbação face aos desaires, aos problemas, aos conflitos, são barreiras ao permanecer de Deus connosco, são barreiras à sua luz.  
Neste sentido, face aos problemas e aos conflitos que nos podem sobrevir, não podemos deixar de ter presente o apelo e convite de Jesus a não nos deixarmos perturbar, a manter paz de coração, essa paz que ele mesmo nos oferece e se separa da paz que o mundo oferece.
Procuremos pois guardar a palavra de Jesus, porque só dessa forma saberemos e manifestaremos o nosso amor por ele. Procuremos guardar a sua palavra conscientes que ela se fez vida na nossa carne, na nossa condição humana e portanto só aí se pode verdadeiramente realizar. Procuremos conservar a paz, a tranquilidade, a liberdade de espirito, porque só dessa forma encontraremos as respostas verdadeiras e justas para os desafios e problemas que se nos colocam em cada dia.
Procuremos o Espirito Santo porque, tal como Jesus nos promete, só ele nos recordará e ensinará o que Jesus hoje seria e nos diria face às realidades do mundo.
 
Ilustração: Recanto de paz no claustro do Mosteiro Dominicano de Santa Cruz, em Vitória, Espanha.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    No texto da Homília do VI Domingo do Tempo Pascal que teceu coloca-nos uma questão que se vem colocando desde há muito e que assume grande actualidade que passo a transcrever …” Como guardar a palavra de Jesus de modo a que aconteça a habitação de Deus entre os homens?”…
    Pergunto, Frei José Carlos, nos tempos que vivemos como escutar para acolher a palavra de Jesus, fazendo-O morada permanente em cada um de nós e entre nós, como construir comunidades de fé, onde se estabeleçam relações de amor, de compaixão, de inclusão?
    Como nos salienta …” A resposta encontra-se no mistério da encarnação, nesse assumir por Deus da nossa natureza humana com tudo o que ela tem de limitado e frágil. É na verdade da nossa realidade, humildemente assumida, que Deus pode acontecer, que Deus se pode tornar amado e palavra viva.
    O fugir, o esconder, o negar as nossas limitações e a nossa condição finita é inviabilizar a possibilidade de Deus acontecer, de Deus se manifestar entre nós, em nós e connosco. O medo e a perturbação face aos desaires, aos problemas, aos conflitos, são barreiras ao permanecer de Deus connosco, são barreiras à sua luz.
    Neste sentido, face aos problemas e aos conflitos que nos podem sobrevir, não podemos deixar de ter presente o apelo e convite de Jesus a não nos deixarmos perturbar, a manter paz de coração, essa paz que ele mesmo nos oferece e se separa da paz que o mundo oferece. “…
    Façamos nossas as palavras de Frei José Carlos e …“ Procuremos conservar a paz, a tranquilidade, a liberdade de espirito, porque só dessa forma encontraremos as respostas verdadeiras e justas para os desafios e problemas que se nos colocam em cada dia.”…
    Grata, Frei José Carlos, pela partilha da Homília, profunda, maravilhosamente ilustrada, que nos interpela e nos dá coragem e esperança, ajudando-nos no difícil peregrinar na estrada da vida. Que o Senhor o ilumine, o guarde e o abençoe.
    Votos de uma boa semana. Bom descanso.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

    P.S. Permita-me que partilhe um link com uma canção/oração de fé, paciência, paz e esperança “ Taizé - Nada te turbe ”.
    https://www.youtube.com/watch?v=go1-BoDD7CI
    Music: J. Berthier

    Text: St. Teresa de Ávila
    Photos from taize.fr

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